Ex-aluno comenta tendências e a função do jornalista na rede

Natural da cidade de Entre Rios de Minas e ex aluno do curso de Comunicação Social da UFSJ, Eduardo Maia reside atualmente em Juiz de Fora. Aluno da primeira turma, foi um dos fundadores da VAN, projeto de extensão do curso. Hoje atua como repórter no portal Acessa.com, site cuja proposta se baseia em oferecer informações, cultura, lazer, prestação de serviços, dentre outros conteúdos.
 Em entrevista, Eduardo conversou sobre o estágio atual do jornalismo on-line, os desafios na produção de matérias e suas expectativas para o futuro da profissão. Confira abaixo a íntegra desse bate-papo. 

Como foi a chegada à esse trabalho no Portal Acessa.com e como é a rotina de trabalho enquanto repórter? Vocês trabalham com jornal impresso ou só com jornal on-line? 
Fui informado sobre a vaga no portal, em Juiz de Fora, na época ainda residia em minha cidade, Entre Rios. Havia acabado de terminar um estágio em uma grande empresa e concluir meu curso. Enviei meu currículo, que foi bem avaliado e fui chamado para a entrevista. O meu trabalho é pautado tanto pela cobertura e divulgação dos fatos e eventos locais, bem como a transmissão de conteúdo produzido pelas agências Minas e Brasil, que dizem respeito aos programas, leis, oportunidades que interessam e impactam a vida de nossos leitores. Nosso trabalho é apenas no online, em um portal que tem mais de 10 anos e é o pioneiro de Juiz de Fora.

Vocês enxergam um confronto entre mídia impressa e mídia on-line? Se sim, o que motiva esse confronto?
Não acredito que haja um confronto. Há públicos diferentes. E as empresas vêm se adaptando a este cenário. Vejamos, por exemplo, o caso do jornal Tribuna de Minas, também de Juiz de Fora, como também veículos de abrangência nacional, como a Folha ou O Globo que usam da rede como forma de acelerar a transmissão das informações e utilização de recursos que não são possíveis de inserir no impresso, mas que, no dia seguinte, veiculam conteúdo em papel, às vezes até de forma mais completa e analítica. E eu acho que é por aí. O impresso traz conteúdo mais analítico, mais apurado, aquilo que o jornalista apura o dia todo na redação, acrescentado, em determinados casos, de vieses diferentes da informação, dados, gráficos. Pelo fato de ser mais dinâmico e imediato, o jornalismo online muitas vezes busca publicar o conteúdo em tempo recorde e isso não permite que a apuração seja mais detalhista, e sim um informe a partir de um panorama mais geral.

Na sua visão, o jornalismo on-line pode decretar o fim do jornalismo impresso? 
Acredito que não. Como já disse, há públicos distintos e que preferem se informar a partir do veículo de seu gosto. Obviamente pode haver uma queda de tiragem dos jornais, mas dizer que ser extinto, eu acredito que não seja a melhor definição. Como eu disse, há um processo de adaptação das empresas de maneira a contemplar os dois públicos. O Globo, por exemplo, criou um novo sistema de trabalho, em que os jornalistas chegam mais cedo à redação e já traçam toda a rotina diária do jornal. Nas primeiras horas do dia, a informação é dada no site a partir de uma apuração preliminar e, ao longo do dia, o conteúdo vai sendo atualizado a ponto de se tornar uma verdadeira reportagem, que é a que vai para o jornal no dia seguinte. Ou seja, são várias atualizações, acréscimos de informação e análise de forma a publicizar o trabalho do jornalista ao longo do dia e manter o leitor informado minuto a minuto.

Quais as maiores dificuldades de produzir jornalismo fora dos grandes centros? 
A maior dificuldade está relacionada às questões que dizem respeito, principalmente, à cobertura política e esportiva. Nos grandes centros se concentram sedes dos poderes estadual e federal, e também os grandes clubes. Mas é possível sim fazer um bom jornalismo no interior, cuidando de temas que dizem respeito à vida da população, que não são poucos, e, a partir do nosso trabalho, reforçar a identidade da cidade, fazê-la se ver naquele portal ou jornal. É o leitor abrir o site da Acessa.com, o G1 Zona da Mata, a Tribuna de Minas e ver informações sobre o que acontece ao seu redor. Diferentemente quando pega O Globo ou o próprio Estado de Minas e vêem informações de outros lugares, algumas até de seu interesse, mas muitas que não retratam a sua real condição de vida. É claro que, para moradores de Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo, estes grandes jornais traduzem a sua realidade e atuam como regionais nesses lugares. O público da internet busca atualização a todo instante de notícias.

Como atender a essa demanda e ao mesmo tempo manter a qualidade e a confiabilidade? 
Infelizmente, há um processo que preza, inicialmente, pela agilidade e depois pela qualidade da informação. Os portais têm essa possibilidade, já que a atualização é realizada de maneira mais fácil e rápida. Alguns usam a opção de informar ao leitor que a noticia já foi atualizada tantas vezes e até o horário que já foi atualizada, para sanar dúvidas quanto a uma informação equivocada que foi publicada anteriormente. No impresso, isso não é tão simples, já que uma informação com erros ou incompleta não tem como ser apagada. Uma errata no dia seguinte talvez não tenha o mesmo efeito da publicação. Sobre a qualidade, como o processo de O Globo que mencionei, vamos atualizando a notícia ao longo do dia, verificando mais de uma vez, corrigindo os erros e acrescentando informações. A questão de ouvir o outro lado também é interessante: esperar respostas de assessorias pode se tornar um processo moroso, por depender de inúmeras aprovações dentro das organizações. Um recurso usado é dizer que aguardamos o posicionamento da organização citada, abrindo o devido espaço tão logo se pronuncie, sem perder o timing da notícia.

Vocês acreditam que o jornalismo on-line possa ser mais independente, por depender menos dos grandes grupos econômicos? 
As redes sociais, os blogueiros e os grupos como o Mídia Ninja tem um papel fundamental na construção do jornalismo de nosso tempo. São repórteres, cinegrafistas, fotógrafos empenhados em dar uma visão diferente dos grandes grupos, um olhar que, em muitos casos, vai na contramão da opinião de grandes veículos. Entretanto, o independente talvez deva ser colocado de uma maneira cuidadosa. Independente economicamente, em grande parte sim, já que muitos não recebem patrocínio e exercem a função apenas pelo prazer de informar. Agora, independência do ponto de vista político é diferente. Sem querer generalizar, há grupos, organizações e blogueiros que tem sua formação intelectual, que defendem um sistema político ou governo que lhe convém e não são tão independentes assim. Podem, talvez, construir uma visão independente daquilo que a grande mídia defende, mas também atrelada a interesses de grupos, movimentos sociais e até partidos políticos ou governantes. Isso se torna mais fácil de entender quando se pensa que objetividade, que é tão pregada, não existe.

A tendência do jornalismo é romper com a aparente neutralidade política? Quais as vantagens e desvantagens caso ocorra essa mudança? 
Na minha opinião, se os grandes veículos e repórteres deixassem claro quais são as suas convicções políticas e informassem isso ao leitor, seria muito melhor. As pessoas saberiam o que esperar destes canais, a partir disso, decidir se continuariam ou deixariam de acompanhar tais veículos. Uma opção de escolha. Hoje no Brasil, prega-se uma imparcialidade, neutralidade que não existe. Os seis maiores veículos estão nas mãos de famílias, de viés mais conservador, e que concentram a sua linha editorial naquilo que defendem. Na empresa onde trabalho, temos a liberdade editorial, o que nos deixa mais tranqüilos no processo de apuração e publicação. Prezamos sempre por ouvir ambos os lados e checar as informações da maneira correta, de forma ética. Romper com a neutralidade e deixar isso claro seria uma vantagem para que as pessoas fizessem suas opções. Agora, quando digo romper com a neutralidade não digo isentar os repórteres do compromisso com a verdade ou utilizar de mecanismos tendenciosos como a angulação que prejudique a fonte ou o personagem em questão numa reportagem.

A democratização do acesso à internet é fundamental para o fortalecimento da democracia? Como a mídia on-line pode ajudar nesse processo?
Acredito muito nisso. O compartilhamento de informações pela rede já é uma realidade e ouvir a voz do público-leitor é imprescindível para me guiar no trabalho. Quando ele comenta, critica, compartilha, aprova é possível fazer com que o trabalho tenha mais qualidade. E acredito que a rede é um ambiente propício a isto. A discordância do leitor, a partir da abertura do espaço para que ele se manifeste, é, sem dúvidas, um mecanismo para dar qualidade ao texto e fortalecer a democracia. A mídia online contribui para este cenário, a partir do momento em que o repórter tem o contato direto com o leitor numa rede social ou na própria pagina do veículo no Facebook em que ele tenha a opção de se manifestar. Tudo isso feito de forma dinâmica, com o mesmo espaço dado a ambas as partes. A dificuldade está no fato de haver recursos humanos para responder às manifestações de todos os leitores. Um profissional responsável pelas redes sociais é o ideal para uma redação.

Texto: André Frigo
Kleyton Guilherme
Edição: Clara Varginha