ARTIGO: Fake News ou como mentir online
O termo fake news vem assolando o mundo nos últimos anos mas ainda se encontra num limbo das indefinições. Onde elas surgiram? Por que surgiram? Qual o impacto delas na sociedade atual?
Sendo um conceito novo, os pesquisadores dão os primeiros passos para uma construção sólida sobre o assunto. Mas, segundo a definição de Bakir e McStay citados por Brites, Amaral e Catarino (2018) notícias falsas são aquelas “totalmente falsas ou que contêm elementos deliberadamente enganosos incorporados no seu conteúdo ou contexto”. Um novo tipo de imprensa marrom, que agora espalha desinformação e/ou boatos pelas mídias online.
A cultura das Fake News
O termo nomeado como “Word of the Year” pelo Collins English Dictionary, em 2017, ganhou força mundialmente em 2016, durante a corrida presidencial dos Estados Unidos. Nesse período diversos conteúdos falsos foram divulgados sobre a candidata Hillary Clinton pelos eleitores de Donald Trump.
Mas, apesar da nomenclatura recente, o ato de divulgar conteúdo falso já existe desde os primórdios. Muito antes do jornalismo ser afetado pelas Fake News, elas eram utilizadas por escritores e pelo mercado publicitário a fim de espalhar dados distorcidos para a população. No entanto, a internet se tornou um rápido condutor de informações, o que intensificou a passagem de informações falsas.
De acordo com o jornal britânico The Telegraph (2019), elas podem ser conteúdos de:
- humor ou sátira;
- desinformação patrocinada pelo estado da nação;
- tráfego de empresas ou comerciantes a fim de buscar novos compradores;
- grupos ligados a partidos políticos;
- mídias sociais recheadas de bots que compartilham imagens e conteúdos falsos.
Atualmente, a cultura das Fake News é marcada pela falta de compreensão, checagem e interpretação das notícias levando a disseminação da desinformação e a falta da capacidade de literacia na população.
Literacia, substantivo feminino, que segundo o dicionário online “Dicio” é: “capacidade de ler, de escrever, de compreender e de interpretar o que é lido; letramento, alfabetismo. Qualidade da pessoa letrada, de quem é capaz de adquirir conhecimento através da escrita e da leitura, para desenvolver suas capacidades.”
A falta dessa característica na população cria casos como a já citada campanha presidencial norte-americana, marcada por uma epidemia de Fake News e Click Baits que influenciaram os resultados de uma eleição.
Esses “click baits”, Content (2018), são uma tática utilizada para atrair tráfego online por meio de títulos exagerados e promessas impossíveis e acentuam a difusão das fakes news. Por exemplo, quando um usuário do Facebook lê uma manchete tentadora, feita como click bait, e a compartilha sem verificar a literacia da informação ou ao menos abrir a matéria.
Alternativas contras as Fake News
Em reportagem, o Buzzfeed News analisou o período eleitoral norte-americano e no seu decorrer foram registrados, nos últimos 3 meses de campanha, as 20 principais notícias falsas de blogs partidários a respeito da eleição que acarretaram em 8,7 milhões de reações, compartilhamentos e comentários no Facebook. Quase 1,5 milhão a mais do que as verdadeiras notícias. As fake news mudaram o rumo de um país. Quem pode dizer o que ela teria sido sem essa influência?
Levando em conta esse cenário, desde dezembro de 2016 o Facebook vem desenvolvendo um plano de ação em combate às Fake News. Em análise, a RockContent (2018b) descreve esse novo recurso que dá ao usuário a possibilidade de checar a fonte da matéria, ver o perfil da fonte na Wikipedia e conferir quais de seus amigos compartilharam determinada publicação. Esses dados se encontram ao lado do título da matéria no ícone “i”.
Figura 1 – Print de post da BBC News Brasil no Facebook sobre Fake News
No exemplo em questão nota-se a influência da repercussão de notícias falsa no âmbito da saúde. Pessoas estão deixando de vacinar seus filhos após se “desinformarem” ao receber e ler notícias falsas sobre o tema. Como o movimento de pais que acreditam que as vacinas são uma manobra do governo para passar autismo para suas crianças.
E essa não é uma iniciativa única, já se começam a pensar em leis que criminalizam a propagação e compartilhamento de notícias falsas. A agência Pública verificou que em maio de 2018, cinco meses antes da eleição presidencial brasileira, havia ao todo 20 projetos de Lei contra quem divulgasse fake news. Tudo isso com penalidades que variam entre multas de R$1.500 a até oito anos de reclusão.
Essas podem ser alternativas muito relevantes para o combate às notícias falsas com o apresentamento dos dados e sua origem. Entretanto, a nova ferramenta do Facebook só será realmente utilizada por quem for atrás da informação, no caso dos próprios click baits as notícias e posts são compartilhados automaticamentes sem ao menos ler seu conteúdo, o que dirá investigar a fonte. Quanto a lei, esta é apenas uma medida sem resultados sociais positivos, o indivíduo que terá que pagar a multa não passou por um processo de reflexão sobre seus atos. Ele apenas paga uma multa para passar pelo assunto.
São tempos sombrios em que não há a checagem de informações. Esse cenário traz danos aos mais diversas âmbitos da vida da população e das instituições, como as citadas saúde e política. Quais mais setores da vida pública e particular elas afetam? Como eles podem ser identificados? Os jornalistas devem redobrar seus cuidados nas checagem de suas fontes e fatos ao escrever uma matéria para evitar a circulação e divulgação de fake news. Em contrapartida, o público leitor tem que se atentar às possíveis fraudes e calúnias. Fica aí o questionamento, como isso pode ser feito de forma eficaz?
Referências:
BRITES, Maria José; AMARAL, Inês; CATARINO, Fernando. A era das “fake news”: o digital storytelling como promotor do pensamento crítico. Journal of Digital Media & Interaction Vol. 1, No. 1, (2018), pp. 85-98. Disponível em: <http://recil.grupolusofona.pt/bitstream/handle/10437/8949/2018_Brites_Amaral_Catarino_AEraDasFakeNews.pdf?sequence=1>. Acesso em: 12 nov. 2019.
BUZZFEED, Craig Silverman. Nos EUA, notícias falsas ultrapassam jornalismo em engajamento no Facebook. 2016. Disponivel em: <https://www.buzzfeed.com/br/craigsilverman/noticias-falsas-facebook>. Acesso em: 27 nov. 2019.
CARSON, James. Fake news: What exactly is it – and how can you spot it? Disponível em: <https://www.telegraph.co.uk/technology/0/fake-news-exactly-has-really-had-influence/>. Acesso em: 13 nov. 2019.
CONTENT, Pedro Galvão. Atualização do Facebook permite que os usuários identifiquem as fake news. 2018. Disponível em: <https://rockcontent.com/blog/facebook-recurso-contra-fake-news/>. Acesso em: 12 nov. 2019.
CONTENT, Redator Rock (Ed.). Descubra o que é clickbait e por que você não deve usá-lo na sua estratégia. 2018. Disponível em: <https://rockcontent.com/blog/clickbait/>. Acesso em: 12 nov. 2019.
COSTA-MOURA, Fernanda. Proliferação das #hashtags: lógica da ciência, discurso e movimentos sociais contemporâneos. Ágora (Rio J.), Rio de Janeiro , v. 17, n. spe, p. 141-158, Aug. 2014. Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-14982014000300012&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 12 nov. 2019.
GALVÃO, Pedro. Atualização do Facebook permite que os usuários identifiquem as fake news. 2018. Elaborado pelo Analista de Redes Sociais na Rock Content. Disponível em: <https://rockcontent.com/blog/facebook-recurso-contra-fake-news/>. Acesso em: 12 nov. 2019.
GRIGORI, Pedro. 20 projetos de lei no Congresso pretendem criminalizar fake news: Para especialistas, criar novo tipo de crime não resolve o problema e abre espaço para abusos e censura. 2018. Disponível em: <https://apublica.org/2018/05/20-projetos-de-lei-no-congresso-pretendem-criminalizar-fake-news/>. Acesso em: 21 nov. 2019.
PORTUGUÊS, Dicionário Online de. Literacia: Significado de Literacia. Disponível em: <https://www.dicio.com.br/literacia/>. Acesso em: 13 nov. 2019.
SINGH, Anita. ‘Cuffing season’ and ‘Corbynmania’ are named Words of the Year by Collins Dictionary. 2017. Disponível em: <https://www.telegraph.co.uk/news/2017/11/02/cuffing-season-corbynmania-named-words-year-collins-dictionary/>. Acesso em: 13 nov. 2019.
Texto: Lara Aquino
Revisão: Antônio Alves
Supervisão: Profa. Alessandra de Falco
Arte de destaque: Ícaro Chaves