Tecnologias digitais – o que realmente mudou?
Não é jornalista quem acredita que a informação é um bem particular a ser tomado para si e monopolizado pelo discurso ou pelos meios nos quais se propaga. As ferramentas digitais trazem novas possibilidades para a participação e prática de um “novo” jornalismo, ou a aplicação de seu ideal. Difundir conteúdo e relacionar-se com estes é direito de todo cidadão.
A graduanda Danielle da Gama expõe a condição e as alternativas para a produção do jornalismo colaborativo, que reflete a realidade vivida, diferenciando-se da visão embaçada oferecida por aqueles que não se inserem na questão que divulgam. Seu artigo a seguir foi feito na disciplina de Jornalismo Online foi publicado no Observatório da Imprensa.
Muito se tem divulgado sobre as oportunidades que as tecnologias digitais apresentam para a democratização da comunicação e desta para a consecução de uma real democracia política. Essa visão guarda características idealistas, mas, na mesma proporção, idealizadas. Na prática, apesar de algumas iniciativas plenas de boa vontade, o chamado “jornalismo-cidadão” não tem conseguido acompanhar todo o potencial das novas tecnologias, rumo a uma maior democratização dos meios de comunicação.
A questão principal é que não se tem construído um novo jornalismo, capaz de apresentar diferentes vozes e aceitar discursos mais diversos, e sim, apenas, um “velho” jornalismo feito em novas plataformas. De um lado, há uma estreita agenda nos meios noticiosos tradicionais, propagando os mesmos discursos, construindo cenários uniformes que deixam ao largo grande parte da sociedade. De outro, cidadãos, com dispositivos que podem utilizar para participar da produção do agendamento ou do conteúdo, alienando este poder, além de muitas comunidades sem acesso a estes equipamentos ou às bases para sequer construir um discurso que consiga seja ouvido.
Para os que se aventuram a brigar pela “cidadania midiática”, lembramos que é necessário extirpar a noção de competição entre os comunicadores profissionais e os comunicadores cidadãos, ampliando a noção de colaboração, questão chave para o aproveitamento das novas tecnologias; ensinar as pessoas a utilizar as ferramentas digitais, tornando-as hábeis a criar e divulgar conteúdos. Desde a simples ação de agregar comentários, até criar blogs ou sites de opinião ou de denúncia, sites híbridos em que coexista o conteúdo do jornalista cidadão com o do jornalista profissional, ou com a curadoria deste, toda e qualquer iniciativa que desconstrua o agendamento centralizado, distribua o direito à expressão e democratize o acesso à informação, construindo um jornalismo mais polifônico.
Muitos avanços são inegáveis, mas há muito que fazer para incluir quem ainda está de fora do processo. O fato é que o jornalismo em tempo real, online, tem em geral seguido dois caminhos: 1) a via da uniformização e reprodução de discursos, em nome da rapidez e economia de recursos, negando minorias e em pouco contribuindo para a cidadania; 2) o caminho da tentativa de constituição de um público comunicador, no amplo sentido da palavra, num modelo de Comunicação mais rico, que dê voz à coletividade em expressões mais plurais, o que é, em última análise, o viés político do jornalismo no ciberespaço. Resta, aos que acreditam na mídia cidadã, contribuir com realismo na sua construção.