Sobre Trump, Temer e o meteoro atrasado.

Sobre Trump, Temer e o meteoro atrasado.

teump“Os espectadores assistem atônitos sem terem o que fazer”. Esta seria minha frase para começar o telejornal de hoje, caso eu fosse âncora de algum jornal. E não é porque sou preta, lésbica e não-praticante dos manuais da Rede Globo e outros.

O radicalismo parece ter substituído o black tie nas festas da alta roda. Isso é bem assustador quando percebemos o quão inútil é a nossa bolha ideológica dentro das redes sociais e nos grupos de amigos. A informação de perigo iminente não chegou nem sequer à Avenida Paulista, quem dirá lá nos States. Na verdade, a onda conservadora faz-se cada vez mais presente, e chegará à Áustria (provavelmente) até o fim de 2016, o fatídico ano do golpe.

Lendo aquelas predileções estranhas do famoso Nostradamus, me deparei com a seguinte centúria: Uma raposa será eleita sem pronunciar uma palavra/ Mostrando-se santa em público vivendo a pão de cevada/ Depois se tornará subitamente um tirano/ Calcando o pé nas gargantas dos maiores homens/. A profecia poderia se dirigir aos Estados Unidos, que acabam de eleger um déspota que deve dormir com uma camiseta escrita heil fuhrer, assim, em letras garrafais.

Trump nada disse de sensato durante sua campanha, ao contrário, pregou nas entrelinhas algo como “eu odeio todos vocês e vou acabar com seus direitos, um a um”.  Ou poderia se dirigir ao Brasil, onde estamos sendo governados (golpeados) por alguém que há pouco era sombra de um gangster com dupla cidadania, e agora dá passos ousados em favor da extrema direita brasileira.

Poderia ser a personificação dos avanços do conservadorismo, um tanto quanto paradoxal de se pensar. É como voltar a usar lampiões nas ruas ou pedir permissão ao rei para transar.

Toda essa onda me gera profunda depressão, coisa que nem o mais barbudo da Escola de Frankfurt me proporcionou. Vladimir Safatle diz que o poder age em nós através da melancolia, nos paralisando. Só consigo imaginar a belíssima metáfora do dinamarquês Lars Von Trier, no seu filme Melancolia, consagrado como melhor filme europeu em 2011, trama na qual a apática Justine, interpretada por Kirsten Dunst, espera o grande planeta Melancolia colidir com a humanidade. O diretor personifica o mal do século no planeta X, que vai destruir a letárgica humanidade.

Em meio à manifestações, greves e gritos de socorro, estamos todos à espera de um meteoro errante. Um bem grande que tape os nossos ouvidos quando ouvirmos “Os espectadores assistem embasbacados sem terem o que fazer enquanto Bolsonaro assume como novo presidente”.

 

Texto: Taw Cruz

Revisão: Julia Benatti