Por Ana Luiza Fagundes, Lara Cristina Reis, Mariana Bessa e Rafael Alonso Amaral de Deus

Reprodução: Instagram – Prefeitura de Tiradentes

“Por muito tempo confundiram necessidade especial com incapacidade produtiva”, reflete Márcio Rafael da Silva, um dos fundadores da Muttley Inclusão Social, em entrevista à Vertentes Agência de Notícias (VAN).

Utilizando o esporte como ferramenta de inclusão, o projeto organiza corridas paralímpicas em São João del-Rei e região desde dezembro de 2019. Assim, com ao menos 6 condutores e o uso de triciclos, a corrida se desenrola para a alegria dos envolvidos.

Além de trabalhar como pedreiro, Márcio contribui ativamente para a realização das atividades esportivas. Afinal, está entre os responsáveis por ajudar a empurrar o triciclo e pela segurança dos corredores e da equipe durante o percurso.

Qual foi a motivação para fundar o projeto? A ideia partiu de quem?

A motivação era fazer o bem para as pessoas com necessidades especiais. Hoje, eu vejo que também faz bem para os pais – os filhos enlouquecem de alegria e ver o sorriso deles ao final, recebendo sua medalha ou troféu, é inacreditável, maravilhoso. É impossível colocar em palavras o sentimento que nós, corredores, sentimos ao final de cada evento.

A ideia veio do Everton Ribeiro – hoje, meu amigo – e chegou até mim através de uma amiga em comum. Ela me disse que um colega de trabalho de seu esposo tinha visto uma corrida em Belo Horizonte (era a Volta Internacional da Pampulha) onde os pais transportavam seus filhos em triciclos adaptados. Disse também que ele não sabia o que fazer, pois queria trazer este projeto para nossa cidade. Abracei a causa na mesma hora e, em dezembro de 2019, fiz uma corrida para arrecadar dinheiro e comprar nosso primeiro triciclo. Surgiu então o nosso projeto, com o nome Muttley Inclusão Social (Minhas Pernas São Suas), fazendo inclusão através do esporte.

Foi difícil dar vida a corrida?

O início foi muito difícil, porque eu não tinha nenhum conhecimento de como organizar um evento de corrida. Fui à luta, buscando ajuda financeira das empresas da cidade e, com isso e o apoio da Secretaria Municipal de Esportes, tivemos êxito. Mesmo com todos os custos para realizar o evento, que não são poucos, o saldo final foi praticamente o valor do nosso primeiro triciclo.

A corrida atendeu as expectativas pensadas?

Sim, o objetivo final da nossa primeira corrida era comprar o triciclo, e ela atendeu nossas expectativas. O evento ocorreu no dia 22 dezembro de 2019, e nosso primeiro cadeirante a participar foi o Igor da Silva Aquino, que usou sua própria cadeira para participar, pois ainda não tínhamos o triciclo.

– Como funciona?

O funcionamento é bem simples e a participação é gratuita para os participantes cadeirantes. Já os condutores têm que desembolsar algum valor, pois as cortesias oferecidas pelos organizadores das corridas não são suficientes para toda equipe.

– Existem planos futuros para o projeto? Quais seriam?

Temos ideias novas surgindo. Uma delas é a confecção de um triciclo duplo, para podermos levar uma pessoa especial e um acompanhante (pai, mãe, tio, amigo). Este equipamento não existe para comprar. Então, já estamos em contato com a UFSJ para colocar em prática este sonho, que foi exclusivamente uma ideia minha. Com ele, os pais também vão poder sentir a emoção do seu filho durante a corrida.

Também planejamos buscar mais um triciclo, mas ainda não temos verba, porque um equipamento deste fica em torno de três mil reais.

– Para a comunidade em geral, qual a melhor forma de apoiar e se envolver com a causa?

Precisamos de apoio financeiro. Os custos para as corridas da nossa cidade e região não são altos, mas, para a 3° corrida Muttley Inclusão Social, que será realizada em 03 de dezembro de 2023, as despesas ultrapassam o valor de treze mil reais. Além da ajuda financeira, também aceitamos brindes, para serem sorteados entre todos que participarem do evento.

Houve alguma corrida ou pessoa em específico que marcou de uma forma especial a sua história e a desse projeto?

Nossa primeira corrida foi a que nos levou a alavancar o projeto. Então, ela jamais será esquecida, principalmente ao ver o primeiro cadeirante a participar, mesmo com sua cadeira. Hoje, já revezamos entre 18 pessoas especiais e todas já fazem parte da equipe Muttley Inclusão Social, sem exceção. Para refletir, digo que: Por muito tempo confundiram necessidade especial com incapacidade produtiva.

Reprodução: Instagram – Muttley – Inclusão Social

Estendendo um convite às pessoas “com qualquer necessidade especial que queiram participar dos eventos”, Márcio comenta que, para fazer parte do projeto, basta entrar em contato pelo telefone (32) 99946 7689, de Márcio Rafael, ou (32) 98402 7117, de Everton Ribeiro. Ele conclui a entrevista com uma chamada à reflexão: “Não há caminhos diferentes e sim diferentes jeitos de se caminhar”.