A 13ª festa do café-com-biscoito no início de setembro em São Tiago reuniu um público de mais de 40 mil pessoas. Durante o evento, foram degustadas cinco toneladas de biscoitos e cinco mil litros de café. O festival contou ainda com programação cultural que incluiu shows musicais, desfile alegórico com a história dos petiscos na cidade e sarau de poesias feitas a partir de receitas que atravessam gerações.
Com mais de cem tipos de biscoitos, entre doces e salgados, apetite foi o que não faltou a quem visitou os 14 estandes da festa. Um exemplo disso é a belo-horizontina Maria da Glória Lara. Ela conta que ficou sabendo da festa em uma academia de ginástica, “mas em São Tiago é impossível manter o regime”. Volta para a capital com a dieta atrasada, já que comprou biscoitos em todos os estandes.
Quem também se fartou com as guloseimas são-tiaguenses foi o casal de Belo Horizonte Heloisa Helena Ávila e Rargosino Trindade. Pela primeira vez na festa, eles afirmam ter ficado surpresos com o que encontraram. “É muita variedade de biscoitos, surpreendeu muito a gente”. Eles enfatizam ainda que “em BH vamos fazer uma propaganda positiva do evento”.
Outra moradora da capital que também visitou os sabores da Terra dos Biscoitos pela primeira vez é a dona de casa Érika Mesquita. Ela ouviu falar da festa nos corredores de um hospital de BH. “Fiquei muito curiosa e doida para vir, quando me informaram do que se tratava”. Aqui, diz que “não esperava encontrar tanto biscoito na praça”. Érika leva para casa “o sabor de abundância, variedade e qualidade”.
Vendas
Além da degustação gratuita, turistas e moradores puderam comprar diretamente dos 14 expositores. Não há um preço fixo entre os petiscos, mas segundo a secretária da Associação de Produtores de Biscoitos, Adriângela Magalhães Gouvêia, os preços variam entre R$ 3 o pacote de 300 gramas de biscoitos doces e R$2,5 o pacote de 200 gramas das quitandas de polvilho.
Expositora desde a primeira festa, em 1999, Simone Fishe da Mata Machado conta que o evento é o grande momento para os produtores da cidade fecharem bons negócios. “Os atacadistas aparecem e fazem contatos importantes, que repercutem nas vendas depois do café-com-biscoito”. Para dar conta de atender à demanda durante o festival, Simone contabiliza que foram produzidos mais de 500 quilos de biscoitos e contratados cerca de 15 funcionários além do quadro efetivo.
A experiência de Simone serve como exemplo para a expositora estreante, Maria Cecília Coelho. “Produzi 2,5 mil pacotes de biscoitos doces e 1,5 mil de polvilho. Se faltar, ano que vem preparo mais e não fico com prejuízo”, diz. Cecília.
As vendas de biscoitos também estavam aquecidas no forno à lenha, montado especialmente para festa. Responsável pelo local, Clarice de Carvalho Portela conta que para atender ao público foram utilizados 30 quilos de polvilho, 15 de fubá, 15 de farinha, 15 de açúcar, 10 de queijo e 10 dúzias de ovos. O preço da pamonha de fubá era R$2,50 e o pão-de-queijo R$1 quatro unidades.
Em São Tiago existem 40 fábricas de biscoitos. Produzem por semana 150 toneladas de biscoitos e empregam 700 pessoas. Desde 2002 a atividade biscoiteira é o carro-chefe da economia local. Responde por 60% da arrecadação de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS).
Sabores seculares
A história dos biscoitos de São Tiago vem do século 18. Nessa época, o vaivém de tropeiros e comitivas de gado rumo ao oeste mineiro e a Goiás fizeram da cidade um importante ponto de hospedagem.
Foram nestas hospedarias que começou a tradição dos biscoitos de São Tiago. Feitos em fornos de barro por mulheres que cultivavam cadernos manuscritos com segredos de família, as receitas atravessaram gerações e renderam ao município o apelido de Terra dos Biscoitos.
As quitandas eram produzidas antes mesmo do galo despertar o dia. Enquanto os homens da casa acendiam o fogo, temperavam o forno e faziam vassouras de alecrim para varrer a brasa, as mulheres separavam os ingredientes, amassavam as quitandas e num dia inteiro de serviço tiravam das assadeiras delícias que abasteciam a casa por cerca de 15 dias.
O momento era também de confraternização entre vizinhos. Com a fornada pronta, parte da produção era enviada aos amigos mais próximos, que retribuíam com igual orgulho quando passavam o dia todo em frente ao forno que criava aromas, cores e sabores que lembram casa de avó.

Texto: Douglas Caputo
Fotos: Wanessa Fagundes e Douglas Caputo.

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