“No campo é tudo muito difícil, por isso trouxemos os pequenos agricultores rurais para a Feira, gerando assim oportunidade de emprego informal”. Assim o supervisor da Feira Livre dos Produtores Rurais do Campo das Vertentes, Márcio Sebastião de Freitas, descreve o objetivo da iniciativa. Instalada todos os domingos, desde maio, no bairro de Matozinhos, a atividade é organizada pela Secretaria Municipal de Agricultura. No entanto, sua finalidade vem sendo questionada pelos agricultores, que se sentem prejudicados pela presença de atravessadores. 
            De acordo com o presidente da Associação de Produtores Rurais e Agricultura Familiar das Colônias de São João del Rei (APRAFAC) e apicultor, Adriano Ribeiro Almeida, apesar da feira valorizar a parte cultural da cidade e gerar empregos para os agricultores, ela não tem cumprido com seu principal objetivo; atender os produtores rurais da região das Vertentes. “Os organizadores abriram um leque para pessoas que já possuem um comércio local, os famosos atravessadores”.
            O atravessador é aquele sujeito que visa tirar vantagem de uma situação por meio de uma brecha do mercado, descreve o administrador de empresas João Rodrigues. Neste caso, os atravessadores (muitas vezes comerciantes locais) ocupam os lugares destinados aos produtores rurais. “Eles (atravessadores) já possuem um comércio e uma fonte de renda, enquanto os outros não têm”, ressalta Rodrigues.
             Regina Tarôco Vicentin, produtora de hortifruti, ressalta que “a feira foi criada para os produtores, porém, muitos aqui compram e revendem. Se fossem apenas para nós, produtores, seria melhor”. A vendedora afirma ainda que vale a pena investir numa fiscalização, sem necessariamente tomar decisões mais graves.
             Para os moradores e comerciantes do bairro a postura adotada pelos organizadores da feira vai contra a ideia inicial. O radialista, advogado e frequentador assíduo da feira, Valdir Gomes, salienta que São João del Rei precisa valorizar o homem do campo; por isso, há uma necessidade de fiscalização e controle por parte da Prefeitura. “Os produtores da terra é que tinham que estar na Feira e não os atravessadores”.
             Alexandre Oliveira do Amaral, proprietário do mercado Le Fruti, localizado a três quadras da Feira, ressalta que a prefeitura deixou muito a desejar. “Nós temos que pagar impostos e obedecer às cobranças da vigilância sanitária, na Feira; por outro lado, tudo é vendido a olho nu, sem alvará e imposto, isso prejudica o comércio local, gera desemprego, além da queda nas vendas”.
            Neste ponto Rodrigues questiona que antes da instalação da Feira deveria ter havido um estudo sobre o comércio local, pois, a ideia do projeto não era gerar uma concorrência entre pequenos agricultores e comerciantes locais. “Cada categoria ou espaço que se ocupa tem certas despesas e gastos; sendo assim, não seria ético prejudicar a venda dos comerciantes fixos, pois os mesmos têm maiores responsabilidades fiscais e encargos”, afirma o administrador.
            Amaral questiona também a presença de atravessadores, que muitas vezes possuem comércio, no Mercado Municipal, por exemplo, e barracas na Feira Livre. “A prefeitura tem que aumentar a fiscalização. É muito fácil dizer que é produtor rural:
 – Eu vou à Emater (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural), por exemplo, digo ter um pedaço de terra e cultivar nele; tiro uma carteira de produtor, faço o cadastro e coloco minha barraca na Feira. Muitas vezes, nem é preciso isso, uma vez que, já fui convidado diversas vezes a montar um estande”.
            O supervisor da Feira Livre afirma ter conhecimento dos atravessadores, mas, justifica que a presença dos mesmos ocorre devido à desistência de alguns produtores rurais, como os da região de Caquende ou Engenho de Serra. “A intenção era trazer apenas agricultores, mas não conseguimos, tivemos que expandir para outras pessoas. Tentamos organizar vans ou ônibus que trouxessem os agricultores, mas o custo é alto”, afirma Freitas.
            Visando resolver a situação, o apicultor Adriano, sugere a criação de uma área separada para os agricultores e outras para os comerciantes. “Não estou dizendo que eles devam sair, apenas que haja uma fiscalização maior. Estamos com ideia de criar um selo para separar os agricultores dos comerciantes, para que o local não vire um camelódromo ou um comércio”.
Domingo também é Feira
            Mas, nem só de problemas vive a Feira Livre dos Produtores Rurais do Campo das Vertentes. Sucesso comprovado pela população sanjoanense e, principalmente, pelos moradores do bairro de Matosinhos, o evento ocorre todos os domingos na Rua Doutor Elói Reis, das 07 horas às 13 horas.
            Atualmente, a feira encontra-se com 60 barracas, sendo 48 destinadas ao hortifruti, 10, ao artesanato e 12, à praça de alimentação. Segundo Freitas, supervisor da Feira, o hortifruti é o que apresenta maior demanda, porém existe a venda de produtos diversificados como: peixes, frangos, pimentas, queijos, doces, biscoitos, entre outros.
            Para a artesã e doceira, Maria de Fátima Ferreira, vender seus doces na feira é sinal de um reconhecimento pessoal. “Hoje, domingo também é feira, é dia de lazer. Estou tendo uma oportunidade que nunca tive nesses 20 anos como doceira: ver meus produtos sendo vendidos e elogiados eleva minha auto-estima”. De acordo com Maria de Fátima, o retorno financeiro superou suas expectativas, a ponto de fazer planos para o futuro, “quero ter meu negócio, quem sabe abrir uma loja e comercializar em outras cidades da região”.
            A artesã Ângela Aparecida, presente na feira desde o primeiro dia, afirma que apesar da venda de artesanato ser algum imprevisível a feira vem ajudando bastantes as artesãs locais. Segundo ela, 80% da venda de artesanato na feira é realizada por senhoras de baixa renda, que necessitam completar a renda familiar, além de servir como uma terapia, uma vez que, a visão de mundo é ampliada, “a gente conhece mais pessoas, conversamos, rimos, trocamos experiências de vida”.
            Para Antônio Carlos Duque Carvalho, professor e morador do bairro de Matosinhos, a criação da feira trouxe para a população de Matosinhos e da cidade alimentos de qualidade a acessíveis. Para a dona de casa Cristina Aparecida, a iniciativa gerou uma oportunidade de emprego, principalmente no setor de hortifruti, além de ter se tornado um ponto de encontro e interação dos moradores da comunidade.
            De acordo com o supervisor da Feira, todos os participantes assinaram um contrato e pagam uma taxa simbólica de cinco reais semanalmente, por barraca, além de participarem de reuniões quinzenais, na Câmera dos Deputados. Freitas ressaltou ainda que existem planos para que a Feira Livre seja expandida para a Praça da Biquinha, no bairro Tejuco. “O nosso projeto é que a Feira ocorra durante um dia da semana na Biquinha, estamos apenas esperando a aprovação do Prefeito”.
            Segundo Freitas os pequenos agricultores e artesãos que desejarem participar da Feira podem se cadastrar no Mercado Municipal, ou no Centro de Atendimento ao Produtor (CAP), no prédio do Banco do Brasil, (Avenida Hermílio Alves, 234), ou na Secretária Municipal de Agricultura, (Rua Salomão Batista de Souza, Matosinhos). 

Texto e Fotos: Natália Resende

Para copiar e reproduzir qualquer conteúdo da VAN, envie um e-mail para vanufsj@gmail.com, solicitando a reportagem desejada. É simples e gratuito.

Deixe comentário

Seu endereço de e-mail não será publicado. Os campos necessários são marcados com *.

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.