por Júlia Diniz

Foto: Júlia Diniz

O metrô acaba de chegar e a velocidade, que atravessa a maior parte dos que esperam na linha, levanta cabelos e sacode roupas. Um músico que busca uma esperança naquele final de tarde toca Re: stacks do Bon Iver no violão. Uma senhora de cabelos curtos, moletom largo se despede do companheiro com lágrimas no rosto e aparência bem pior que a de uma criança birrenta, que chora e reluta em entrar no vagão. Ela, cheia de bagagens e ele com o olhar vazio. Imagino o que se passa com eles, quais circunstâncias os fizeram ter que estar se despedindo. Pareciam que não se veriam por um bom período de tempo.

O som de fundo do músico melancólico encaixa na cena e deixa tudo com um toque de drama a mais. Meus olhos marejam e, depois de um instante, já não estou mais com meus pensamentos e observações diante da cena. Não só analiso curiosamente o casal de senhorzinhos diante dos meus olhos, como também escuto meus pensamentos incorporarem uma voz rouca e masculina. Olho para o lado e me deparo com outro senhor, que complementa ‘’Às vezes o tempo que se perde longe é pra ganhar memórias também né’’ – ele segura um caderno marrom bem antigo, com algumas folhas amareladas e soltas. As mãos estão sujas de grafite do lápis e parece que ele tem rabiscado por algumas boas horas. Está vestido de uma roupa simples, um tanto quanto formal, possui um óculos redondo e um cabelo bem fino e branquinho.

‘’Será que eles vão se ver novamente?’’ – digo num tom de esperança de saber algo a mais.
Ele me responde que prefere não saber. Aquilo me intriga e me incomoda.
‘’Não sente curiosidade em descobrir?’’
‘’Sinto, mas acho que não faz muita diferença, faz?’’
‘’Por que não faria?’’
‘’Não sei, não importa muito afinal de contas, o tempo vai passar e a gente não vai conseguir acompanhar’’
O comentário me atinge mais que eu gostaria e percebo que perdi meu trem.
‘’Tá vendo? Nem o metrô vai te esperar’’
Ele me irrita com a acidez da fala.
‘’Nem adianta se aborrecer, já perdi muitos e ainda não fui embora’’