Por Ana Luiza Fagundes 

Foto: Reprodução/Pinterest

O livro fino, porém impactante, reúne 15 contos inéditos ou já publicados pela autora Conceição Evaristo. Ao questionar de forma repentina qual era a cor dos olhos da mãe, a escritora nos leva através de contos em uma busca, que contém uma linha quase invisível da história por trás das lágrimas de gerações de mulheres e pessoas pretas, e a semelhança dos motivos que fizeram seus olhos marejarem. 

Através dos enredos da vida de Ana Davenga, Maria, Luamanda, Lumbiá, entre outras figuras, é estampado o cenário da vida de mulheres pretas no Brasil. Esses indivíduos, que são mães, avós, tias, irmãs, trabalhadoras e periféricas, mostram de forma múltipla o papel da comunidade preta, muitas vezes repetidos de geração em geração, lutando para não ser mais um número de uma estatística volumosa. Entretanto, não digo isso seguindo o discurso meritocrático de que se você lutar, trabalhar enquanto os outros dormem e correr 5km enquanto uns correm 1km por dia, irá chegar lá e ser um vencedor. Se argumentasse isso iria contra meus próprios pensamentos e o da autora, que expressa ao decorrer das histórias, a luta constante para romper o ciclo. Tal ciclo pode ser comparado às amarras de ferro, difíceis de serem rompidas e reforçadas pelo racismo estrutural, presente no dia a dia e no cotidiano de afro-brasileiros e afro-brasileiras. 

As narrativas são costuradas por aquela linha quase invisível já citada, pelos choros dos personagens e suas histórias. Algumas dessas narrativas podem se confundir com enredos que obtêm um final feliz, todavia, se olhar mais atentamente, verá os pesares que acompanham o encerramento “leve”. Essa aflição que é sentida no final dessas fábulas, evidencia que essa sensação de calmaria é disfarçada, pois em nosso âmago há um amargo sabor de que as lágrimas ancestrais se repetem ali, mesmo que o fato esteja sendo mostrado de forma amena. 

A coletânea é um exemplo vivo do termo “escrevivência”, desenvolvido por Evaristo, que nasce do cotidiano, das experiências e lembranças coletivas do povo preto brasileiro. O livro conduz e comove o leitor pela dor poética. Contudo, o livro não se baseia somente na dor, o encerramento da obra se encontra na esperança e alegria de um povo com o nascimento da Ayoluwa. Ao meu ver, as histórias se encaminham em sincronia, a redenção que acompanha a todas as pessoas de cor do mundo: a esperança das lágrimas terem um novo significado.