A história de uma mulher que saiu da metrópole paulista e se tornou comerciante no mercado municipal de São João del-Rei. 

Por Ana Gabriela Oliveira, Anna Júlia Braga, Cecília Rodrigues, Luíza Ferraz e Mariana Bessa

Maria do Socorro, em sua banca no Mercado Municipal.

Entre as ruas calçadas com pedras, as igrejas e os casarões centenários do centro histórico de São João del-Rei, uma construção se destaca: um comprido prédio amarelo, construído nos moldes do século vinte, sem janelas e com grandes portas de entrada e saída. Por dentro, o espaço se divide em bancas e pequenas lojas, com as mais diversas vitrines: artesanatos, temperos, condimentos, frios, bebidas, doces e tantos outros artigos familiares à cultura são-joanense. Há décadas, o Mercado Municipal reúne produtos artesanais e especiarias da região, tornando-se referência local e turística.

Maria do Socorro Bringel é comerciante no Mercado Municipal há 22 anos, tendo se estabelecido no comércio após sua mudança de São Bernardo do Campo (SP) para São João del-Rei. Nascida no Ceará, se mudou para o território paulista ainda jovem, aos quinze anos. Décadas mais tarde, mesmo com a vida consolidada na cidade grande, decidiu largar a metrópole e vir para Minas Gerais com o marido e os dois filhos adolescentes, para “criar a família em um lugar mais tranquilo”.

Maria Bringel se tornou moradora de São João del-Rei aos 40 anos. Na época, ela encontrou uma cidade tradicional e acolhedora, mas ainda pouco desenvolvida – a escassez de serviços básicos marcava o município antes de sua transformação em cidade universitária. O currículo de dar inveja, com décadas de experiência como administradora na indústria, não lhe garantiu emprego no interior. Quem a acolheu foi o mercado: “seguindo o conselho de minha mãe, abri uma banca de brechó e uma de artesanato aqui no mercado. Um sucesso. Eventualmente, a mudança de gestão deixou de permitir o brechó. Então continuei apenas com o artesanato.

Trabalhando no mercado, Maria Bringel se tornou conhecida de todos que frequentavam o local e era popular por toda a cidade. A renda da banca permitiu que ela e sua família tivessem uma vida confortável. Os filhos cresceram ajudando a mãe durante o tempo livre. No presente, Maria se orgulha em dizer que estão todos “criados, casados e empregados”, enquanto ela segue trabalhando diariamente no Mercado Municipal – não por necessidade, mas por prazer.

Ao sair de um contexto de movimentos sociais e trabalhistas e se instalar em uma cidade tradicional, Maria do Socorro foi obrigada a encarar uma realidade conservadora: “A gente se adequa a cidade: se eu chego, eu preciso me adaptar. As coisas com as quais eu não concordava, eu fingia que eu não via. Meus filhos eram adolescentes, então queriam sair o tempo todo, e isso me fez passar mais tempo com eles. E eu aprendi a amar São João, pois a qualidade de vida é muito boa. A tranquilidade, a paz, não tem preço. O clima é incrível e não tem poluição”, relata Maria, que afirma ter ido embora de São Paulo pela violência do lugar.

Hoje, em meio às vitrines repletas de especiarias e lojas decoradas pelos mais variados produtos, Maria do Socorro administra a banca de número ZZ do mercado. Ao chegar, os visitantes se deparam com um mundo de cores e materiais: desde os tapetes de tear até cuias e bonecos, a maior parte do artesanato que Maria revende é produzida na Região das Vertentes. São João del-Rei, Prados e Resende Costa são apenas algumas das localidades representadas na banca, que encanta moradores e turistas.

Artesanatos comercializados por Maria do Socorro

Os grandes feriados e fins de semana são os principais momentos para os comerciantes. Com grande movimentação de turistas, vindos de excursões e passeios, o Mercado recebe atenção e carinho de quem visita São João del-Rei. Maria do Socorro conta que, especialmente em períodos como o fim de ano, Carnaval e Semana Santa, o Mercado se enche de viajantes.

Infelizmente, mesmo com tamanha importância para a cultura regional, o mercado e os comerciantes sofrem com o descaso das autoridades municipais. Maria Bringel conta que, há cerca de 6 anos atrás, o Mercado Municipal quase foi fechado por denúncias no Ministério Público. Ela e outros comerciantes do local se uniram para pagar um advogado e conseguiram vencer a causa, mantendo o Mercado ativo, garantindo suas fontes de renda e reforçando a importância da valorização da cultura e do comerciante local.

O descaso das ordens governamentais com um ambiente tão importante é evidente ao presenciar sua infraestrutura – além da escuridão em vários pontos do mercado, é possível notar que a fachada da construção está precisando de reforma, pelas paredes sem tinta e aparência decaída do prédio. A falta de investimento se torna evidente.

Apesar disso, os comerciantes fazem questão de manter cada uma de suas bancadas limpas, organizadas e convidativas a todos os seus visitantes.