Por Bruno Nézio

 

A exibição de curtas e longas marcou a programação da Mostra, com comentários de diretores e personagens – Foto: Isabela Barboza

O novo e o clássico se encontram em Tiradentes. Curtas e longas inovam na linguagem e criam novas abordagens para assuntos já discutidos, mas ainda não superados.

Em seu novo filme, Bye Bye Amazônia, um documentário ensaístico sobre o passado recente e o presente da floresta, Neville D’Almeida retrata a importância do local para o mundo e como a mesma está sendo destruída diariamente sem nenhuma medida eficaz. Pelo contrário, os que deveriam proteger estão patrocinando seu fim.

Em um comentário que antecipa as sessões aqui em Tiradentes, o diretor já deixa claro: “Essa é uma abordagem que ainda não foi feita” e é possível perceber isso ao longo da rodagem, uma espécie de ensaio multifacetado ao redor de problemas amplamente conhecidos, uma abordagem crua e que não tem medo de ser explícita. Por muitas vezes, o espectador é confrontado com as dores dos povos originários apresentadas de forma vezes poética vezes direta. Esse é um tipo de frontalidade muitas vezes vista nas chanchadas, só que aqui aparece como um filme protesto e forte em seu comentário social e político.

Utilizando de imagens de arquivo e um narrador personagem, dados nos são apresentados. Números e imagens chocantes são intercalados com apresentações de Mac Suara Kadiweu. Por meio deles conhecemos as dores dos personagens e quem está assistindo percebe a forma como possui uma relação quase umbilical com a natureza, a mesma que o colonizador destrói todos os dias.

Na segunda exibição conhecemos o dramaturgo Edson Aquino. Uma equipe de documentaristas está acompanhando seu processo e a produção de sua próxima peça. A partir de uma abordagem crua e sem amarras, sua vida é registrada, suas dores abertas e seus sucessos questionados. O bom humor aqui é muito bem explorado, Edson e seu desprendimento são fundamentais para criar um ambiente em que o espectador se identifique e crie um laço de carinho.

Já na última sessão, quatro curtas que compõem a Mostra Foco, partem de caminhos e abordagens quase distintas. Em “Eu fui assistente do Eduardo Coutinho” Allan Ribeiro utiliza de imagens de arquivo e suas memórias de quando foi assistente de Eduardo Coutinho. Por mais que o título indique outra coisa, o ponto principal é resgatar a importância do documentarista e de como seus filmes foram importantes para todos que conheceram seus trabalhos.

“Vivente” mostra como um fato pequeno pode representar muito, uma simples impressão de currículo pode despertar memórias e dores por muito enterrados. Partindo do minimalismo para o maximalismo de “Se Eu Tô Aqui é Por Mistério”, um curta de ficção queer que utiliza dos ótimos efeitos para criar um grupo de bruxas que combate os que dizem defender a verdade. Por fim, saindo da super exposição de luzes e de uma trama complexa e agitada, vamos para o interior de Minas Gerais, “Onde Judas Roubou As Botas”, uma cidade pequena em que um grupo de jovens utiliza da criatividade cinematográfica para trazer uma vida nova e novo significado para eventos já estabelecidos na região.