Por Igor M. Chaves

Na última terça-feira (23), a 27ª Mostra de Cinema de Tiradentes abriu as portas do Cine-Tenda para a segunda leva de curtas que compõem a “Mostra Panorama”. Com títulos com cerca de 20 minutos, a sessão intitulada “Escute Baixinho” conversou incisivamente com a temática central da Mostra, “As formas do tempo”, ao dar espaço para histórias sobre crescer, amadurecer, encontrar-se e acolher, de uma vez por todas, a hora de partir. “Tato”, “Homem de Verdade”, “Fale Baixinho” e “Não Tem Mar nessa Cidade” encantaram, emocionaram e tiraram boas gargalhadas do público que, entusiasmado, contemplou tanto a beleza quanto a crueldade das horas que passam ao longo da vida. 

Pedro Balderama Macedo, Rafael Rudolf e Pedro Carvalho, diretores de “Fale Baixinho”, “Homem de Verdade” e “Tato”, respectivamente, na 27ª Mostra de Cinema de Tiradentes –
Foto: Igor M. Chaves

A obra de Pedro Carvalho (MG), conta sobre Welington, um tatuador que, enquanto ainda não encontra espaço para finalmente exercer seu sonho, ganha a vida como pedreiro. Desesperançoso, o protagonista não enxerga um horizonte no futuro e acaba por lutar para sobreviver um dia de cada vez. Melancólico, “Tato” é sobre a angústia de se estar parado mesmo em movimento – é sobre batalhar para fazer aquilo que se ama e se perguntar inúmeras vezes se vale a pena.

Rafael Rudolf (SP), em contrapartida, conta sobre o crescer. Em seu documentário autobiográfico, alterna imagens do seu passado com recortes do seu eu contemporâneo, mergulhando de cabeça na cultura do machismo e como ela priva garotos e adolescentes de sua liberdade. “Homem de Verdade” pode parecer chocante, mas é apenas o retrato da realidade de jovens que cresceram em um mundo onde não é permitido ser quem você é e, ao longo de sua duração, demonstra como o tempo é forte o suficiente para quebrar a ilusão da infância, ao passo que irônico o suficiente para encher de esperança aqueles que vivem a adolescência. 

Já Pedro Balderama Macedo (SP), acompanha o envelhecer. Durante a pandemia da COVID-19, em uma temporada na casa de sua avó, gravou Maria Onardina Bariani sozinha, imersa em sua própria rotina. Aos 83 anos de idade, ela não lê e não assiste televisão, e passa os dias esperando para morrer, porque deseja, finalmente, ficar livre do tempo. Emocionante, “Fale Baixinho” é familiar: o público conhece inúmeras donas Marias e sabe que, em determinado momento, o fim da vida se torna apenas algo a se aceitar. Pedro Balderama brinca com a câmera enquanto captura sua avó, diverte quando captura sua espontaneidade e faz chorar quando contempla a iminência do adeus tão de perto.

Para finalizar, Manu Zilveti (RS) abraça o próprio tempo. Com sua câmera focada em um casal a beira da separação, ela encontra aquela que é o fio condutor de todas essas histórias: a saudade. Paulo precisa voltar para Guiné Bissau, Edneia quer seguir no Brasil, e a impossibilidade dos dois de estarem juntos atravessa não só o futuro, mas também recorda o passado e o pesar do presente. Encerrando a “Mostra Panorama”, “Não Tem Mar nessa Cidade” reflete sobre a liberdade das escolhas que, feliz ou infelizmente, estará sempre atrelada aos desejos que o tempo carrega consigo.

Títulos da Mostra Panorama, Série 2: “Escute Baixinho”Divulgação 27ª Mostra de Cinema de Tiradentes

Serviço

27ª Mostra de Cinema de Tiradentes
19 a 27 de janeiro – Tiradentes
Evento gratuito
Programação completa:  mostratiradentes.com.br/programacao/
@universoproducao