Provocados, na maioria das vezes, pela ação humana em períodos de seca, queimadas destroem fauna e flora de cinco municípios do Campo das Vertentes

Iniciativas, públicas e privadas, tentam reduzir a destruição da Serra de São José (Foto: Facebook BV)
Iniciativas, públicas e privadas, tentam reduzir a destruição da Serra de São José (Foto: Facebook BV)

Durante os meses de junho até novembro, com o período de estiagem das chuvas no Campo das Vertentes, a vegetação fica seca, formando o cenário perfeito para que, com a ação humana irresponsável, aconteçam incêndios em áreas naturais. Nos cinco municípios alcançados pela Serra de São José não é diferente. Localizado em São João del-Rei, Prados, Santa Cruz de Minas, Tiradentes e Coronel Xavier Chaves, o patrimônio natural da região “pegou fogo” mais de uma vez em setembro – destaque negativo para os incêndios dos dias 14 e 15.

Um incêndio é caracterizado pela ocorrência de fogo fora de controle em qualquer tipo de vegetação, como definido pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). Os principais fatores, responsáveis por tais atos, seriam o período de ausência das chuvas e a ação humana, nem sempre intencional. Fogueiras deixadas acesas por grupos que caminham pela Serra ou a limpeza de pastagens por meio de queimada não autorizada são exemplos do começo de incêndios.

Os danos vão desde incômodos até o desencadeamento de problemas respiratórios, para a população local e, de modo geral, também contribuem para o aquecimento global e a destruição das áreas verdes.

O que chama a atenção do bombeiro, Cristiano Giovanni, é que mesmo sendo a população a mais afetada, ainda existem pessoas que usam o fogo de maneira deliberada. “É importante a denúncia à Polícia Militar e ao Corpo de Bombeiros, pois apenas com a punição dos culpados, as pessoas pensarão melhor antes de cometer este tipo de crime”, afirma.

Prestação de serviços comunitários, multa (superior a um salário mínimo) e até prisão são as maneiras de punição aos infratores. Isso varia de acordo com o tamanho do incêndio e do local afetado, além da possibilidade de danos maiores à vida humana ou materiais.

Proteção, preservação e educação

Conforme dados do Corpo de Bombeiros, em média, houve o combate de dez incêndios de grandes proporções em 2016. Uma diminuição significativa, em comparação a anos anteriores, aconteceu entre as ocorrências em lotes dentro da cidade e em áreas de proteção ambiental. Por outro lado, esse número não pode ser avaliado sem levar em conta a área afetada. “Em um dos casos, o incêndio cobriu, em média, uma área com mais de 30 hectares. Apesar do empenho ao combate e à conscientização, a situação ainda preocupa”, declara Cristiano.

O Instituto Estadual de Florestas (IFE) é um órgão que atua, na Serra, como gestor das duas unidades de conservação ali presentes: a Área de Proteção Ambiental (APA) São José e o Refúgio Estadual de Vida Silvestre (REVS) Libélulas da Serra São José. Junto do Corpo de Bombeiros, eles atuam com a proteção e preservação dessas unidades, além de programas de educação ambiental.

No bairro das Águas Santas, em Tiradentes, e na cidade de Prados existem casas temáticas do IFE, respectivamente, com o tema Geodiversidade e Biodiversidade, onde ocorrem visitações para tratar de todo assunto ligado ao meio ambiente, principalmente do manejo adequado do fogo. Palestras em escolas, públicas ou privadas, e intervenções socioambientais também são ações de conscientização realizadas.  

A monitora ambiental, Patrícia Pinheiro, conta que, além da prevenção, o IFE também atua no combate direto aos incêndios com um total de 60 brigadistas contratados e voluntários. “Trabalhamos em parceria com os produtores, muito conscientes. Mas ainda sofremos com o fogo para a limpeza de pasto sem o manejo correto. Nesse período crítico, de seca, todos os dias, rondamos o entorno e o alto da Serra, para a prevenção dos focos”, comenta.

 

IEF conta com duas casas temáticas para orientação da população em relação à Serra (Foto: Gazeta)
IEF conta com duas casas temáticas para orientação da população em relação à Serra (Foto: Gazeta)

 

Voluntários auxiliam no combate direto ao fogo

Em Tiradentes, um grupo de pessoas, preocupadas com a conservação da fauna e flora da Serra de São José, tomaram a iniciativa da criação de um Corpo de Bombeiros Voluntários, ou BV, como são conhecidos. O trabalho, totalmente voluntário, ajuda não só no combate ao fogo na Serra, mas também em ações sociais e primeiros socorros.

Os Bombeiros Voluntários recebem R$1.000 por mês da prefeitura de Tiradentes para cobrir seus gastos com gasolina, uniformes, transportes e serviços. Como esse valor não é o suficiente, eles arrecadam dinheiro por meio de uma taxa cobrada em eventos, principalmente, culturais, em que prestam auxílio.

Existe um quadro máximo de participantes, mas, quando ele não está preenchido, os interessados em integrar o grupo são entrevistados pela diretoria e, depois, passam por uma fase de estágio, em que acompanharão as ações do BV. Normalmente, a farda é recebida em eventos já realizados na cidade, como o Jubileu da Santíssima Trindade.

Para a tesoureira dos Bombeiros Voluntários, Raquel Maria Sousa, “as brigadas são de enorme importância, pois são muitos problemas, além dos incêndios, somente para os bombeiros. Se não fossem elas, muito do verde que existe na nossa região estaria prejudicado”, declara, referindo-se aos trabalhos dos brigadistas. Uma brigada configura-se por um grupo de pessoas que são especificamente capacitadas para atuar, normalmente de modo voluntário, na prevenção e no combate ao princípio de incêndios dentro de uma área pré-estabelecida.

Um dos desafios para o BV, atualmente, seria a divulgação dos trabalhos de conscientização ambiental. Raquel vê na internet uma nova possibilidade, nesse sentido, a partir da página no Facebook. “Poucas pessoas têm o conhecimento sobre como cuidar do meio ambiente e sobre os serviços prestados por nós. Ainda estamos numa tentativa de mudar essa realidade, partindo do que sabemos”, conta.

Desejo de manter a preservação do meio ambiente local mantém o Corpo de Bombeiros Voluntários (Foto: Facebook BV)
Desejo de manter a preservação do meio ambiente local mantém o Corpo de Bombeiros Voluntários (Foto: Facebook BV)

TEXTO/VAN: Graziela Silva

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