Pelas ruas de Tiradentes, o artista enfrenta as muitas dificuldades de se viver de arte no Brasil

Por Clarice Muscalu, Isabela Barbosa e Lívia Antoniazzi

A livre expressão artística é um direito assegurado pelo artigo 5º – parágrafo IX –  da Constituição Federal, sustentado pela noção de que “é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença”. Ou seja, as mais variadas manifestações artísticas de rua devem, também, receber tal reconhecimento. Entretanto, segundo o artesão carioca Luciano Palau, que produz e vende suas peças em Tiradentes, não é bem assim que a arte de rua é tratada. Entende-se como arte de rua toda e qualquer expressão artística em espaço público que traz acessibilidade e visibilidade para a cultura popular. 

Marginalizado pelo Estado e pela sociedade brasileira – como ele mesmo afirma – Luciano Palau, de 43 anos, nos apresenta um pouco de sua trajetória e dos desafios enfrentados no percurso como artesão no cenário brasileiro. Embora Luciano trabalhe com artesanato há muitos anos, sua luta para sobreviver em uma sociedade que muitas vezes o rejeita, é uma história comum na vida de muitos artesãos que passam pela região das Vertentes. Esta entrevista é uma oportunidade de ouvir um pouco sobre a perspectiva social e a visão artística de Luciano, um artesão nômade que produz e trabalha nas ruas da cidade histórica.

Luciano Palau em Tiradentes/Foto: Clarice Muscalu, Isabela Barbosa e Lívia Antoniazzi

Nascido e criado no Rio de Janeiro, Luciano Palau saiu da casa dos pais aos 16 anos, quando se encantou com as formas artísticas manifestadas em São Thomé das Letras e decidiu, então, praticá-las. Em suas palavras, seu primeiro envolvimento com a arte nômade foi por “curtição”, mas, ao mergulhar nesse mundo por escolha própria, fez dele sua principal fonte de renda e atualmente já contabiliza 23 anos viajando pelo Brasil como artesão. Entre as diversas vivências proporcionadas pelo seu trabalho com a arte, Luciano destaca ter conhecido a mãe de seu filho em São João del-Rei, durante uma de suas passagens pela cidade.  

Luciano percorre pelas ruas de Tiradentes/Foto: Clarice Muscalu, Isabela Barbosa e Lívia Antoniazzi

Apesar dos longos anos trabalhando como artista de rua, Luciano aponta diversos desafios em relação ao reconhecimento de seu trabalho e lamenta que grande parte das pessoas não entenda sua produção como arte: “Os artistas de rua não são considerados artistas, a maioria (das pessoas) que carregam o peso de ‘artista’ ou estão em cima do palco ou numa tela de TV. Infelizmente, hoje em dia, só esses são considerados artistas”.

Luciano também condena a repressão estatal e a criminalização de artistas e vendedores autônomos, principalmente em Tiradentes, local onde a fiscalização é assídua: “Outro desafio é a fiscalização, que é uma repressão ignorante, porque a gente vive num país em que tudo é cultura”. Acrescenta, ainda, que esse policiamento potencializa o pensamento de “quem tem pode mais” e, ao citar Tiradentes como exemplo, destaca a dificuldade de se encontrar remanescentes do local com comércio na região devido à elitização turística e terceirização do trabalho. Diante disso, o artista reforça que a elite, dona das pousadas e do comércio da região, “vem tomando conta”, oprimindo e limitando o espaço de artistas e comerciantes nativos, afirmando também que essa repressão “não é só aqui não, é no Brasil inteiro e vem cada vez mais forte”. 

Acessórios são as principais produções de Luciano/Foto: Clarice Muscalu, Isabela Barbosa e Lívia Antoniazzi

Palau trabalha com a confecção de acessórios como correntes, brincos e pulseiras, sendo cobre e pedras naturais os seus materiais mais usados. Para a criação de suas peças, o artista conta que, apesar de seguir uma estética inspirada em artesanatos celtas e nórdicos, utiliza diversos métodos e pontos de diferentes culturas, como o filigrana português – uma técnica milenar para fazer joias sem cola e sem solda. Ainda sobre o estilo de sua arte, Palau afirma que, como todo artista, seu trabalho “tem muito de mim sim, até porque eu que fabrico, não tem escapatória”.

Luciano seguirá, agora, em direção a Pernambuco, onde encontrará seu filho enquanto continua o trabalho como artesão nômade, buscando sempre novas inspirações e diversas experiências proporcionadas pela arte. 

Você pode conferir alguns dos trabalhos de Luciano abaixo: