Christopher Faria

Dentre todos os trabalhadores, nesse primeiro de maio, quero dizer o quanto me inspiro nos escritores que vivem o Brasil e a brasilidade em seus livros.


Não coloco essa profissão em um holofote aqui por acaso. Hoje, além do Dia do Trabalhador, comemora-se o Dia da Literatura Brasileira. A data foi estipulada para homenagear José de Alencar, autor de “O Guarani” (1857), “Iracema” (1865), “Senhora” (1874)… Alencar foi um escritor e político brasileiro, famoso pelos seus romances de temática nacional, e nasceu no dia 1º de maio de 1829. A homenagem celebra o esforço do escritor em produzir obras genuinamente brasileiras, sendo ele um dos maiores representantes do romantismo nacionalista.

Sentado em minha cama, grato por um dia de folga, pelo feriado, com meu computador ligado, à minha frente, esperando que eu o use para escrever, fico refletindo bastante sobre o significado de genuinamente brasileiro”.


Sou escritor.


Escrevo minha vida há mais de 20 anos. Mas, a coloco no papel desde os 14. De maneira mais sistêmica, desde os 17. Estou (e, creio que sempre estarei) em um processo para entender minha escrita, minhas referências, minhas inspirações.


Gostaria de dizer que meus livros refletem minhas raízes. Mas, hoje, depois de analisá-los, mais maduro para investigá-los, percebo que não há tanto Brasil no meu português, não tanto quanto eu gostaria. Quando paro para explorar nos livros brasileiros contemporâneos que já li, também não enxergo tanto o meu país, mesmo que eu e estes outros escritores tenhamos nascidos no meu lugar.


É triste e irônico.


Na minha humilde ignorância, creio que isso vem acontecendo com os livros brasileiros devido à grande influência norte-americana e europeia. Cada dia vemos mais Johns nos livros e menos Joães. Mais Marys e menos Marias. Mais Peters e menos Pedros.

Cada vez mais normal o uso de expressões comuns do estrangeiro – e não me refiro a estrangeirismos; reclamo do jeito que as frases são construídas, a forma como um personagem exclama ou interage com os outros. Cada vez mais wow e menos uau. Cada vez mais o português do Brasil com mais cara do de
Portugal. Brasil sendo cada vez mais Brazil nas histórias.


Em um processo contrário ao movimento antropofágico – manifestação brasileira da década de 1920 que buscava se desvencilhar dos aspectos europeus nas produções artísticas –, percebo novamente uma valorização de uma cultura que não é minha, de costumes que vejo nas televisões ou leio em outros livros, mas que não vivo.


Quando leio meus textos do ano passado e muitos dos livros nacionais em alta, sinto falta da brasilidade que encontro quando leio Machado de Assis, Graciliano Ramos, Carolina Maria de Jesus e tantos outros que marcam meu pensamento e meu gosto por livros. Leio que o personagem passou em Harvard, ou
está indo para alguma Avenue. Contudo, queria estar lendo que ele passou em alguma federal, que está indo para a rua tal, perto daquela praça. Não quero dizer que essas coisas não deveriam existir. Entretanto, sinto falta de sentir que podem existir na minha realidade.


E é hipócrita dizer isso sendo que admito que sinto a mesma falta nos meus escritos, mas isso é algo que venho tentando mudar há algum tempo. Consumindo mais Machado, Carolina, Conceição Evaristo, Mário Sabino, Caio Fernando… entendendo que posso e devo valorizar as coisas do meu país.


Admiro muitos autores contemporâneos que não deixaram se abalar com esse impacto da globalização, porque sei que existem – já li muitos e me senti abraçado por conseguir me enxergar nos personagens, no local, na história. Sou grato, porque me incentivam a escrever histórias onde meus leitores possam se
sentir abraçados desta maneira também. Estou em meu próprio processo antropofágico.


Fico igualmente feliz em ter a certeza que não sou o único escritor fazendo essa reflexão e espero que os leitores possam fazer também. Dar um tempo nos famosos livros estrangeiros bombando nas redes sociais e procurar dentro das livrarias e sebos por Clarice Lispector, Carlos Drummond, Manuel Bandeira, Guimarães Rosa, Rubem Fonseca, Mário de Andrade… e não deixar de nos explorar também, os escritores contemporâneos que mantém (ou que, como eu, tentam manter) a literatura brasileira viva.


Cansado de ver a tela do meu computador em branco, refletindo meu rosto cheio dessas reflexões, decido desligá-lo e descansar. Aproveitar a folga do dia. Vou voltar a escrever mais tarde ou amanhã, preparado para colocar o Brasil nas minhas páginas.


Antes de me jogar na cama, pego um livro para ler, até o sono me vencer.


Hoje, vou de José de Alencar.