Por outro olhar
Encontrei-me com 5 criadores do projeto Por outro olhar: Camille Gallo, Beatriz Estima, Daniel Pereira, Rosana Faria e Anna Virginia. Outros 3 não estavam: Alicia Antonioli, Maria Julia Rodrigues e Ana Beatriz Aguiar. Todos em busca de janelas por onde olhar por dentro. Para eles, o projeto é um espaço para mostrar como as pessoas, cada qual com sua memória, contribuem para a cultura local. Mais do mesmo? Não. Por outro olhar quer mostrar os bastidores das histórias. E a gente vai mostrar os bastidores deles.
Essa história começa assim: Camille sempre morou em São João e pensava que na cidade não tinha nada pra fazer. Até descobrir uma cidade – coisa que não é assim como Cabral achando o Brasil: é coisa de descobrir aos poucos. Na aula da professora que também tem nome de historinha, a Filó, eles fizeram uma visita ao Cerem (Centro de Referência Musicológica). Camille, que já tinha morado perto e sempre passava por lá nunca tinha entrado.
“Quando vi aquela imensidão cultural eu falei ‘poxa, acho que a gente devia fazer alguma coisa pra mostrar pras pessoas'”. No outro dia acordou já com nome, logotipo e convite em mãos para pessoas que ela achava que iam topar o projeto. Isso faz um mês. Eles querem contar histórias toda semana, usando fotos e vídeos, porque acham que assim conseguem chegar com mais facilidade nas pessoas que querem ouvir histórias, mas não querem ler.
Reportagem nova sai todo domingo. Mas no resto da semana, o povo não brinca: primeiro fazem uma chamada adiantando o assunto, depois lançam um ensaio fotográfico (quer ver o mais recente?) e depois é lançado o vídeo, prato principal. E nisso tudo tem muito imprevisto, porque qualquer história tem seus percalços: quem tem câmera empresta, mas se não está disponível, as fotos e filmagens vão pelo celular. Daniel, que junto com Maria Julia trabalha com a edição dos vídeos, conta que nunca tinha editado um vídeo na vida. Eu desconfiei: ah, alguma coisa sabia, sim.
Mas ele não sabia mesmo. Abriu uma vídeo-aula, foi e editou. Beatriz também conta que foi difícil a primeira entrevista de rua, quando a maioria das pessoas não quer ser entrevistada por você. No mais, acaba bateria, some equipamento, some integrante. Por isso defendem que tem sido um aprendizado muito grande pra todos. Além dos conhecimentos técnicos, eles aprendem a ser repórteres mais humanos.
“Quando a gente foi no circo (o Circo Coliseu de Roma) a gente não gravou o espetáculo. Fomos conhecer mais o cotidiano deles, mostrar por trás das cortinas. A gente entrou na casa deles ficou conversando, foi bonito porque quando a gente vê essas pessoas se apresentando vê uma coisa muito de artistas, e quando a gente se aproxima vê que é uma pessoa.”, conta Camille sobre a experiência. Beatriz lembra que quando a matéria foi lançada eles compartilharam, disseram que foi muito importante para eles também.
Histórias que se acumulam e se cruzam. E quer mais história cruzada do que a de eternos namorados? Na semana do dia dos namorados, eles entrevistaram os avós de uma das participantes do grupo, a Maju. Eles nunca tinham contado sua história para ninguém, mas agora contam para todos os que visitam a página do projeto! E a história deles também está aqui dentro da nossa: eles, que se conheciam desde criança, não sabem a data exata do começo do namoro. Beatriz diz que o que mais lhe emocionou foi quando a avó concluiu: “Ah eu acho que eu namorei ele a vida toda”.
O grupo procura dizer com a voz das próprias pessoas: os repórteres não aparecem, nem as perguntas. Na matéria dessa última semana, eles escolheram falar da exposição que o Centro Cultural da UFSJ está realizando, sobre o bairro São Dimas. Então Camille, que já está se acostumando a olhar pelo outro lado, avisou: “Vamos pegar um morador e levar ele na exposição. Ele vai contar a história do bairro”. (Quer ver que lindo o resultado?)
Eu só pude dizer: genial. É pra isso que sempre quis ser jornalista. O jornalismo é um jeito de contar e ouvir histórias. Algumas duras, algumas tristes, e algumas felizes como uma noite de circo.
Texto: Dani da Gama
Revisão: Julia Benatti
Imagem: Alicia Antonioli