Acessibilidade também é tecnologia
Projeto extracurricular da UFSJ desenvolve tecnologias assistivas para pessoas com limitações físicas.
Criado em 2017, o Paramec é um projeto extracurricular e interdisciplinar da Universidade Federal de São João del-Rei, que reúne cerca de 30 pessoas, entre alunos das Engenharias (Mecânica, Elétrica, Produção), dos curso de Matemática, Arquitetura, Educação Física e também, professores da Universidade. O projeto é apoiado pela FAPEMIG – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais, e está sob a coordenação do professor Guilherme Germano. O primeiro produto – que ainda está na fase de montagem do primeiro protótipo – apresentado pelo grupo é de uma cadeira de rodas motorizada, inteligente e modular; capaz de se comunicar com os smartphones, de se adaptar e abranger as mais diferentes necessidades de locomoção, dependendo dos tipos de limitação física existentes e também do tipo de percurso feito pelo cadeirante.
O coordenador do Departamento de Elétrica do Paramec, o mestrando Luis Fernando Freire de Souza, afirma que o principal objetivo é desenvolver produtos que sejam tão acessíveis, quanto funcionais para quem precisa. Além do trabalho no Paramec, Luis Fernando desenvolve uma pesquisa de mestrado sobre sistema de controle de cadeira de rodas multifuncional, sob a orientação do professor Márcio Falcão Santos Barroso.
Os membros do projeto também buscam tecnologias já existentes em outras áreas para ajudar na redução de custos e tempo de produção. Após as pesquisas iniciais, decidiram que o material a ser utilizado na construção da cadeira, seria o ‘‘alumínio sanduíche’’, um metal mais leve e de maior resistência que os demais. Para os pneus, amortecedores e suspensão, os membros do projeto se inspiraram nas soluções utilizadas em bicicletas de Mountain Bike, por exemplo.
As novas funções da cadeira
A intenção do projeto não é criar um novo modelo de cadeira de rodas motorizada, e sim aproveitar o que as já existentes oferecem de positivo, aprimorando os pontos negativos levantados por cadeirantes, alunos e professores participantes do projeto. De acordo com o aluno de Engenharia Elétrica e membro do Paramec, Jonatas Luciel Silvino, a palavra certa é inovação. Segundo ele, ‘‘um dos papéis mais importantes da engenharia, não é o de inventar coisas novas, e sim de aprimorar, inovar as tecnologias que já existem.’’
Jonatas é o responsável por desenvolver um aplicativo que vai possibilitar que haja a comunicação com smartphones via bluetooth, onde o usuário poderá controlar a cadeira utilizando seu celular. Segundo o aluno, essa demanda partiu diretamente dos cadeirantes, que em alguns casos possuem alguma dificuldade em operar o joystick que usualmente é oferecido nas cadeiras de rodas motorizadas existentes no mercado: ‘’Uma coisa simples, mas que foi pertinente nas conversas com os cadeirantes, foi a falta de uma diagonal no joystick. Se o cadeirante precisa fazer uma curva leve para qualquer lado as cadeiras convencionais não possibilitam essa ação.’’ Na necessidade de mudar de direção o usuário tem que girar em torno do próprio eixo da cadeira na direção desejada e depois então continuar seu trajeto. No aplicativo criado por Jonatas, já está inclusa esta nova função de ter as diagonais nos comandos de direcionamento da cadeira.
Também está incluída no aplicativo a ‘‘função pânico’’, onde o cadeirante pode acioná-la caso ocorra algum problema, como um mal súbito. Após acionar essa função, o sistema automaticamente envia uma mensagem para um telefone de emergência (já cadastrado no aplicativo), junto com a geolocalização da cadeira. O sistema também detecta falhas operacionais na cadeira, e possíveis acidentes, enviando o alerta para o contato de emergência.
Entendendo a realidade
A proximidade com a comunidade que será diretamente atendida pelas inovações do grupo, é um fator muito importante para o sucesso do projeto. Segundo Luis Fernando, ‘’Desde o início nós fizemos questão de envolver as pessoas com alguma deficiência e que poderão ser beneficiadas pelas funcionalidades da cadeira. Antes de todos os cálculos e projeções virtuais, nós precisávamos ouvir quem vive essa realidade.’’ O coordenador também contou que teve a experiência de andar em uma cadeira de rodas motorizada e que conseguiu de alguma forma se aproximar do sentimento dessas pessoas.
Diariamente ao andar pela cidade, as pessoas sem nenhum tipo de limitação motora não conseguem perceber os obstáculos que por mais simples que pareçam, podem impossibilitar o acesso de pessoas com deficiência, principalmente à locais públicos. Luis Fernando contou que os detalhes são tão imperceptíveis para quem não tem nenhuma deficiência física, que quando parou para refletir, ‘’nem mesmo os cadeirantes que contribuem com o projeto têm acesso ao laboratório do Paramec. Nós temos que ir até a casa dos cadeirantes pela falta de acessibilidade da UFSJ.
Cada área do conhecimento envolvida no projeto contribui com soluções específicas, a ergonomia da cadeira de rodas fica sob responsabilidade dos alunos de Educação Física, os alunos da Engenharia Elétrica cuidam da programação eletrônica, enquanto os de Engenharia de Produção buscam maneiras mais eficazes de construção da cadeira. Todo processo de concepção do protótipo busca utilização de materiais resistentes e principalmente baratos que sejam de fácil acesso.
O Laboratório do Paramec está situado no Campus Santo Antônio, no prédio dos cursos de Engenharia Mecânica/Produção. Para mais informações, consulte a página do projeto:https://www.facebook.com/paramecufsj/.