Máscaras

Existem coisas no mundo que sabemos que existe, mas não compreendemos completamente, pelo menos não até ficarmos próximos o suficiente do que quer que seja isso. Foi assim comigo em relação à depressão, eu estava ciente que muitas pessoas tinham, que era sério, mas na minha cabeça parecia ser algo fácil de lidar.

Assim pensei até que surgiu uma pessoa nova na minha vida. Para mim ela era apenas alegria, toda aquela agitação, sorriso no rosto, trazia animação para todo mundo com suas piadas e jeito descontraído. No entanto, aos poucos me aproximei mais dela, fomos nos conhecendo, mergulhando fundo na confiança, até eu perceber que estava errado.

Por tanto tempo acreditei que a conhecesse, que ela era só aquela imagem que eu tinha em mente, mas na verdade era uma máscara. Ela estava triste, o tempo todo, mas ela não queria parar para pensar em si mesma, para se deixar sentir o que deveria, então passou a enganar todos, divertindo-os para que eles nunca descobrissem quem ela realmente era. Eu descobri.

Tive que aprender a lidar, ser cuidadoso, me preocupar em dobro. Sentia medo que fosse perdê-la por qualquer motivo, que talvez um dia ela não fosse aguentar, contudo a garota se mantinha firme. Estive presente em vários momentos, ao menos tentei, dando apoio para o que for preciso. Aos poucos descobri tanto mais do que eu sabia antes, aprendi que aquele assunto era muito mais perigoso do que qualquer pessoa pudesse imaginar. E foi em setembro que ela me explicou a importância do mês para ela.

Pensei que fosse imune, que era forte e nunca passaria por isso já que nunca ficava nem mesmo triste. Talvez esse tenha sido meu problema, acreditar na minha incapacidade de sentir, quando na verdade eu só prendia as coisas. Minha mente encheu como um balão, até não suportar mais e explodir, me deixar tão fragilizado psicologicamente que meu corpo passou a sofrer as consequências.

O tempo passava, eu me sentia sem forças para levantar, para comer, para continuar fazendo qualquer coisa que antes eu gostava. Os dias duravam séculos e as únicas coisas que eu sentia era sono e enjoo. Me via completamente perdido em um mundo que eu tinha certeza que conhecia o suficiente. Eu tinha ouvido tanto antes, estudado, pesquisado. Então por que diabos acabei com depressão? E naquela eterna angústia, pensar na morte parecia uma saída mesmo não tendo coragem de tomar nenhuma atitude.

Outras pessoas tomam, outras pessoas passam pelo que eu passei e não conseguem lidar da mesma maneira. Algumas não recebem ajuda, outras nem percebem o que estão enfrentando. Tem muita gente por aí usando máscaras e nós simplesmente achamos que sabemos de tudo.

Texto: Ícaro Chaves

Revisão: Julia Benatti