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ARTIGO: A bolha da sociedade contemporânea

A liberdade de expressão é um direito fundamental, garantido pelo artigo quinto da Constituição Federal Brasileira, que impede a retaliação ou censura por parte do governo ou da sociedade, em geral, quanto à livre manifestação de ideias e pensamentos individuais. Na prática, no entanto, vemos pessoas com opiniões distintas cada vez mais engajadas em ataques pessoais ao invés de defesa de sua posição por meio de um debate racional.

Uma pesquisa realizada pelo Instituto Avon em parceria como site Papo de Homem verbalizou termos que traduzem a dificuldade da sociedade contemporânea em dialogar, classificando as pessoas em três perfis:

  • Os “construtores de pontes”: aqueles dispostos a ouvirem opiniões controversas, se mostrando abertos ao diálogo;
  • Os “em trânsito”: aqueles que estão se esforçando para conversarem mais antes de se colocarem em posição de contra-ataque;
  • E os “entre muros”: aqueles que não se mostraram dispostos a lidarem com opiniões muito divergentes.

Vivemos um estado de paralisia intelectual onde não somos mais capazes de trocar ideias a respeito de assuntos polêmicos e, por esse motivo, nos comunicamos apenas com aqueles que compartilham de nossas mesmas opiniões, sem nos preocuparmos em ouvir o outro lado e entender os que pensam de maneira contrária e o porquê de assim o fazerem. O fenômeno conhecido como bolha social mostra que estamos confortáveis demais em nossas bolhas para ouvirmos pontos de vistas diferentes e sermos capazes de debater sobre o assunto.

De acordo com Eduardo Magrani, em seu livro “Democracia Conectada”, os filtros-bolhas nada mais são do que a personalização dos conteúdos da navegação online. Com o apoio do algoritmo seletivo da web, cria-se um filtro baseado em pesquisas anteriores – assim, apenas assuntos que nos interessam aparecem no feed – e em nossa interatividade com determinado assunto, que passa a ser exibido de acordo com nosso feedback. Todo esse processo nos dá a falsa sensação de interatividade com o mundo quando, na verdade, interagimos apenas com o nosso mundo. Sob medida. Restrito. Limitado. Personalizado. Adaptado à perfeição particular de cada indivíduo, como aponta Eli Pariser, ativista político e da internet.

As bolhas, no entanto, não se limitam ao virtual. Cada vez mais vivenciamos uma tendência alarmante de migração deste fenômeno para as relações interpessoais face a face. A expressão “os entre muros” se torna, a cada dia, mais literal.

Eventualmente, diferentes bolhas sociais se chocam e a tendência clara é a do ataque em detrimento da defesa argumentativa ponto a ponto. As pessoas estão cada vez mais desesperadas pelo status de “estarem certas”, tanto que se esquecem de realmente ouvir o outro lado do diálogo, refletir sobre o que lhes foi apresentado e usar o debate como uma ferramenta de conhecimento e crescimento.

No meio desta guerra de extremos, “construtores de pontes” acabam silenciados pelo grito opressor dos muros quando, na verdade, essas pessoas não radicais são essenciais pois,  serão capazes de perceber tanto os pontos positivos quanto os negativos de ambos os lados.

A bolha social é perigosa. Ela cria a falsa sensação de que o mundo correto é o reflexo da opinião individual e, por causa dela, diversas oportunidades de diálogo e enriquecimento pessoal são desperdiçadas. Quebrem os muros. Saiam do trânsito. Construtores de pontes ao redor do mundo, uni-vos!

E você, amigo leitor, é um construtor de pontes ou ainda está entre muros? Deixe sua opinião nos comentários e compartilhe o texto nas suas redes sociais para saber como anda sua bolha.


Referências

BRANCO, Sérgio. Fake News e os caminhos para folha da bolha. Disponível em: <http://bibliotecadigital.tse.jus.br/xmlui/bitstream/handle/bdtse/4758/2017_branco_fake_news%20_caminhos.pdf?sequence=1> Acesso em 26 nov 2019.

CORRAINI, Caio et al. Comunicação Não-Violenta: Derrubando Muros. B9. 05 jul 2019. Disponível em: <https://www.b9.com.br/shows/mamilos/mamilos-204-comunicacao-nao-violenta/> Acesso em 26 nov 2019.

Texto: Isabella Paolucci, Lays Fortes e Raphaela Ferreira
Supervisão: Profa. Alessandra de Falco

Arte de destaque: Ícaro Chaves