Mudar o mundo com palavras
O Jornal Delas é um projeto de alunas do curso de Jornalismo da UFSJ que trata de assuntos ligados ao feminismo. Pedimos a uma de suas colaboradoras que nos desse um texto. A Clara Fernandes nos deu não só um texto mas uma reflexão – sobre Comunicação e Feminismo. E sobre como nós temos poder – as comunicadoras e as mulheres. Precisamos nos apoiar.
Essa é nossa segunda matéria sobre feminismo, para acompanhar o texto lindo da Sarah Rodrigues, que publicamos no mês de junho.
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Quando eu estava no ensino médio, tive que escrever uma redação contando qual era meu maior sonho. Na busca por um propósito maior, que não me parecesse tão bobo colocado naquela folha de papel, eu disse que queria mudar o mundo com palavras. Piegas, eu sei. Mas alguns anos se passaram, e quando eu tive que escolher o curso que faria na faculdade, o motivo foi exatamente esse: eu acredito, piamente, que a comunicação pode mudar o mundo. Lendo assim, pode parecer utópico, mas das ilusões que a vida universitária me tirou, essa não foi uma delas. A universidade me prova, a cada dia, que a comunicação exerce sim, um poder enorme sobre o mundo. O problema é que muita gente já sacou isso antes de mim. Inclusive as pessoas que se beneficiam das coisas que eu gostaria de mudar no mundo.
Mas, se por um lado a faculdade me mostrou uma possibilidade, foi o feminismo que me mostrou e tem me mostrado como fazê-lo. Sim, o feminismo. Um movimento que em menos de uma década conseguiu se popularizar e se expandir enormemente no Brasil, chamando a atenção da grande mídia, conseguindo influenciá-la, inclusive, mudando a maneira como as marcas se relacionam com os consumidores e despertando uma série de iniciativas mais humanas no campo da indústria cultural. Um movimento que, ao saber de um caso de estupro coletivo ocorrido no Rio de Janeiro, conseguiu mobilizar a mídia nacional e internacional ao redor do fato, reivindicando um tratamento mais humano para a vítima e despertando um amplo debate acerca da cultura do estupro. Se a vida acadêmica me mostrou que a comunicação tinha o poder de fazer coisas boas, o feminismo tem me mostrado como isso é possível.
Ainda há muito o que ser dito, muito o que ser feito, muito o que ser mudado. Mas eu acredito nas sementes boas que estão sendo plantadas. E eu acredito na força da mulheres. Que a propósito, foi outra grata surpresa que a universidade me proporcionou: conviver com pessoas incríveis, cheias de talento e coragem. Enquanto eu cresço e me descubro enquanto pessoa e profissional, me dá muito orgulho ver despontando ao meu lado meninas que entram dentro de campo com a cara e a coragem para fotografar, falar de futebol, e desafiar ao dizer que isso não é coisa de mulher. Colegas de sala que mostram que podem, sim, falar de política, de economia, comandar equipes, gerir empresas, empreender, produzir. E que querem, e vão ser respeitadas e remuneradas justamente por isso. Mulheres que se unem para denunciar assédio, para proteger a outra, para apoiar.
São tempos caóticos o que estamos vivendo. E às vezes parece que algo se perdeu no Jornalismo. Mas graças a elas, eu sei que isso não é verdade. Não é crise. É transformação. O futuro é incerto, mas este é o momento certo, e eu sei que as mudanças que começarmos agora serão eternas.
Texto: Clara Fernandes, pelo Jornal Delas
Imagem: Divulgação/Facebook