Tiradentes – Os estilos cinematográficos do fora de centro foram o foco das discussões no penúltimo dia  da Mostra, na tarde de sexta-feira, no centro Cultural Yves Alves. O seminário contou com participação de diversos pensadores e realizadores do cinema brasileiro que trouxe ao público a oportunidade de  discutir mais abertamente a temática central da mostra deste ano.
Ao pensar nessa temática, o que seria exatamente uma produção Fora de Centro? Ao observarmos a programação da mostra recheada de produções cinematográficas incomum ao grande público, com longas e curtas sendo produzidos no nordeste e sul do Brasil. Podemos cair no equívoco de julgar esse novo cinema como meramente longe do eixo Rio-São Paulo. Mas não é simples. A idéia não se embasa apenas em condições geográficas, pelo contrário, se adentra principalmente na ideologia do cineasta. Como debateu críticos e realizadores de cinema sobre o perfil desse cinema.
Sérgio Borges, cineasta de Minas Gerais, destaca a relação íntima do cinema com o entretenimento e a arte, segundo ele, quando a produção é realizada sem interesses financeiros, a expressão artística é melhor trabalhada “Ás vezes as produções maiores, com  mais gente no set, acaba gastando mais energia na organização desse sistema.[…] Acredito que as escolhas de estéticas utilizadas pelos novos diretores está contida na diversidade de narrativas”. Afirma.
Auditório lotado para o debate.
João Luiz Vieira, professor e crítico de cinema do Rio de Janeiro, analisa a formação dessa nova geração de realizadores, e relata que a universidade foi  grande responsável para formação de uma mentalidade altamente seletiva que se instaura no audiovisual, resultando em filmes mais experimentais. Vieira descreve a nova interface do cinema Brasileiro “O Eixo não é apenas geográfico, é também estético. Essa produção mais nova, e mais “independente”, ainda cabe muito a esses limites geográficos e estéticos”. 
Em análise ao cinema nacional, o crítico Jean-Claude Berdardet, afirma que nossas produções cinematográficas são produtos culturais, não são vinculadas em âmbito nacional, devido ao atrelamento a identidade regional “Apresentei a questão do regionalismo como uma questão de poder com a qual é preciso lutar. […] Em alguns estados o cinema se tornou complexo demais, diversificando quanto aos estilos, temáticas e formas de produção. Perdendo a hegemoneidade. O crítico finaliza, descrevendo o filme de recente sucesso, “O Som ao Redor”, segundo ele, os cineastas estão construindo um novo imaginário das cidades “É através dessa urbanidade que esse cinema cria novos ícones. Em que a medidas esse cinema urbano está sendo feito no nordeste é uma questão nordestina ou brasileira. “Parece que por passar pelas cidades, faz com que os filmes se tornem nacionais” afirma.
A regionalidade é definida por Adirley Queirós, cineasta do Distrito Federal, como algo inevitável, afirmando que não é possível falar de Fora de Centro sem citar um território, “Temos que buscar a questão da identidade”. Como um filme conseguirá dialogar com o espaço em que está inserido’’ O cineasta finaliza, “Falar da construção das narrativas dos filmes e como fazer com que eles sejam compreendidos pela periferia. “Muitas vezes a regionalidade acontece para manter este dialogo”. Afirma Adirley, que é um produtor de filmes nas zonas de periferia de Brasília.
O Fora de Centro é um sem dúvida um termo abrangente. Pode contemplar tanto produções fora dos grandes eixos brasileiros como atingir cineasta que desejam subverter os valores comerciais da produção brasileira vigentes no eixo Rio- São Paulo. O cinema atual, que o Brasil está vivendo é isso: subversão. Estamos caminhando contra a   falta de transformação que o país viveu décadas atrás.

Reportagem: Marlon de Paula
Fotos: (CC-BY) SA – Overmundo

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