dia das maes

Desde pequena, quando ia dormir, você me cobria. Fizesse calor ou não, os velhos cobertores sempre estavam comigo. Apagava a luz, dizia boa noite e até amanhã. Eu adorava! Meu Deus, era como ter um anjo da guarda me protegendo! Sentia-me amada, recolhida em seu colo. E quando os pesadelos chegavam, era só correr até sua cama e me deliciar no aconchego de seu abraço. Fizesse trovões, chuvas ou tempestades, eu estaria lá, segura, com minha mãe amada.

Contudo o velho tic- tac se aproximava, não era mais criança. O tempo passava. As tarefas antes feitas com você, agora se faziam sozinhas. Era tempo de amadurecer, Cronos dizia. Mas alguém havia perguntado algo para mim? Pois não, não havia. E eu fui crescendo. As idas de madrugada ao seu quarto foram diminuindo, até cessarem. O andar de mãos dadas se tornava tão distantes quando jamais achei que pudessem ficar.

Agora era adolescente, e tudo era motivo para discussões. Por que brigar?- pensava. Não havia motivos, mas brigava, discutia. Ora, fosse por aquela saída negada com os meus amigos, por ter de ficar em casa ajudando. Nada favorecia nossa constante relação. Achava que era tempo de me descobrir, de criar minhas opiniões e deixar as velhas para trás. Deixa que eu resolvo, deixa que eu faço. Eu já sei, não preciso que diga. E assim foram-se muitas das palavras cruéis que um dia machucaram e fizeram com que a pessoa que mais me ama ficasse preocupada.

Quero me formar, sair de casa, construir minha vida. Repetia aquele mantra para mim mesma, sempre ignorando o quanto você ficava em segundo plano. Criei uma bolha enorme,  que somente eu fazia parte e quando esta finalmente estourou, vi que quase poderia ser tarde demais. Foi nesse momento em que finalmente estivesse presente, consciente de você, que a realidade me cobriu.

As rugas pequenas, mas presentes em seu rosto. O andar dos anos para você, meio século já havia se passado. Eu já não era mais criança, mas você, apesar dos anos de diferença, era a mesma. Aquele velho sentimento que sempre estaria presente, tão pungente, tão vivaz como nunca havia estado. Sentir aquilo foi como um grande tapa, que somente o amadurecimento poderia me dar. Foi reconhecer o tamanho da minha negligência, mesmo estando presente em sua vida por 18 anos.

Não queria repetir o mesmo erro, e não iria. Estava livre de qualquer desdém. Finalmente, em toda nossa história, estava mais presente do que nunca estive.

TEXTO/VAN: Camille Gallo

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