A trajetória do fotógrafo Guy Veloso

A arte é sinônimo de evasão do mundo; um lugar etéreo que permite uma leveza em meio à anarquia. Um respiro sossegado em meio ao caos. O artista se transforma em um ser ambíguo: ao mesmo tempo em que foge do mundo, capta seus olhares distintos. Assim se dá com a fotografia. O fotógrafo, colhedor de alma, rouba um olhar fugaz; uma paisagem distinta; uma luz incompreensível. Ele consegue transmitir através das imagens uma gama de interpretações e sentimentos: faz pensar e sentir, faz chorar e rir, faz amar um lugar que, talvez, poucos conheçam; admirar pessoas  invisíveis; conhecer histórias incríveis.

FOTO: Orlando Azevedo
FOTO: Orlando Azevedo

É nesse meio, onde o mito e a fé se esbarram, que nasceu Guy Benchimol de Veloso. Fotógrafo e artista de 47 anos que usa as luzes inconfundíveis da sua cidade natal, Belém – PA, para expressar sua visão de mundo. Orgulha-se muito de nascer e morar no coração da Amazônia, um lugar que extravasa cultura e beleza.

Guy Veloso aprendeu a amar a fotografia com o tempo. Apesar de desde criança apresentar a curiosidade esperta de um fotógrafo- pegando câmeras nas reuniões e viagens de família-, foi aos 17 anos que demonstrou seu devido interesse. Entrou na universidade para cursar Direito, e como um artista nato, não conseguiu se ver preso dentro das formalidades do curso. Dessa forma, a fotografia era sua válvula de escape do mundo acadêmico.

Em 1993, Guy fez uma viagem que foi como um divisor de águas em sua vida. Cruzou a Espanha fazendo o Caminho de Santiago de Compostela, apenas com  uma mochila e uma Nikon. Depois disso teve a certeza de que seus rumos seguiriam as estradas da fotografia.

 

Os primeiros trabalhos

O belo artista precisava se formar em Direito. Seu primeiro emprego foi um estágio na área jurídica. No entanto, paralelamente aos estudos, mas na mesma época, a fotografia perdurava. Seu cenário principal era Belém, e seu tema a população de ribeirinhos – fotografar como paixão o seu próprio lar, com as características marcantes da Amazônia Brasileira.

As fotos com a companheira Nikon durante a viagem pela Espanha, também acabou se formando um trabalho. Via Láctea: Pelos Caminhos de Santiago de Compostela é a obra que compilou além de suas fotos – paisagens de tirar o fôlego-,  a própria história do lugar, misturando os mitos com os causos de uma viagem a uma das regiões mais remotas da Europa.

 

O contador de histórias

Guy faz uma narrativa com suas fotos. É disso que mais gosta: contar histórias suas e dos outros simultaneamente. Um quebra cabeça que  através das imagens mostra um cenário; aborda uma história. Seus trabalhos são contos que levam as pessoas a quererem estar nos locais, imaginando os ‘porquês’ e ‘comos’ das imagens, o que habita por detrás de cada personagem.

É uma mistura cautelosa entre a fotografia documental e a artística. Guy fotografa porque ama o que faz, mas em cada clique de sua câmera, há um registro histórico do patrimônio imaterial de cada povo e, sobretudo, do povo brasileiro.

 

Coleção Ipsis de Fotografia Brasileira

Seus trabalhos no Brasil deram origem a um livro da Coleção Ipsis. O tema do livro foi “A fé dos devotos nas diversas religiões do país”. Guy tem uma relação muito intrínseca com a religiosidade popular brasileira. Há tempos, esse é um tema que o segue durante seus trabalhos. Esse vínculo se estende além das fotos, pois o fotógrafo faz através do trabalho um meio de alcançar a própria espiritualidade. É uma mistura entre o artista e seu objeto de estudo:  está tão imerso na própria arte que faz dela a sua busca pessoal.

Guy fala que o que motivou-o a fazer o livro foi a possibilidade de ter seu primeiro livro solo, além de ter criado uma parceria com a curadoria de Elder Chiodetto.

O trabalho todo durou cerca de 1 ano e 2 meses. Houve uma pesquisa aprofundada sobre os lugares e povos onde passou. Guy sempre tomou cuidado de não expor nada nem ninguém sem autorização prévia, mesmo que as fotos documentam locais e religiões de caráter secreto. Com isso, o fotógrafo não se deparou com praticamente nenhuma dificuldade na realização de seu trabalho. Tudo muito bem pensado e organizado, se transformou hoje, no seu primeiro livro da Coleção Ipsis.

Para Guy, o que mais gostou de toda a experiência de fotografar as religiões brasileiras, bem como apuração e compilação para o livro, foi de fato as conversas com o curador Elder Chiodetto. Guy comenta que aprendeu muito sobre o seu próprio trabalho através da parceria com o curador, do qual mantém um grande respeito e admiração.
TEXTO/VAN:  Beatriz Estima

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