Arte: Thais Andressa
Arte: Thais Andressa

Tem alguma coisa no meio dos sorrisos fáceis, da chuvinha fina no final da tarde, do reencontro das famílias e amigos, dos filmes repetidos, e naquelas luzes todas que me encanta. Só não sei explicar o que é. As propagandas na TV insistem em falar da “magia do Natal”, mas lá ela sempre está no fundo de uma garrafa de refrigerante, no presente com desconto, ou na ceia perfeitamente colocada em uma mesa gigante cheia de enfeites e com mais comida que qualquer um ali conseguiria comer. E então, se a gente não tem a vida perfeita de um comercial de Natal, como vai achar essa tal magia?

Aí eu pego um ônibus lotado, na hora que o sol está quase indo embora pra poder aproveitar que as lojas vão estar abertas até mais tarde e conferir os tais descontos que a TV me prometeu. Nessa época, os sinos que falam são os do Papai Noel contratado pelas lojas para sorrir e tirar fotos com as crianças, e até ele quase fica perdido no meio de tanta gente. Todos estão apressados, entrando nas lojas com grandes listas e saindo com os braços cheios de sacolas.

As crianças parecem entender melhor essa coisa toda de magia. Vejo algumas com o olhar perdido nas vitrines, puxando a calça dos pais para mostrar aquele outro brinquedo ali, outras cantarolando junto com as músicas que ecoam pelas lojas, e as minhas favoritas são aquelas que parecem hipnotizadas pelas luzes, sorrindo para o céu, no meio de tanta gente apressada.

Compro os presentes que faltavam, encontrando vendedores felizes e outros só cansados, e sabendo que mês que vem o dinheiro já tem destino certo. E junto com outras tantas pessoas, sigo para o ponto de ônibus. Somos só mais alguns na praça do São Francisco, dividindo espaço com turistas e moradores que vieram admirar a decoração de natal. E nesse momento, não importa mais o calor, nem a bolsa pesada, nem o tempo que o ônibus vai gastar pra chegar até ali, porque tudo agora está mais bonito.

Volto então ao meu hábito estranho favorito. Observar as pessoas. Ali é raro que alguém passe sem olhar para a Igreja iluminada e seus anjinhos. E até aqueles que vem munidos de suas câmeras e celulares não resistem em sair um pouquinho de trás dos aparelhos e apreciar. Então eu vejo aquele senhorzinho, de cabelos brancos, procurando a posição perfeita para o seu selfie, e a cena até parecia um daqueles comerciais de TV que falam da magia do Natal. Mas, depois de guardar seu celular no bolso, parecia que aquele sorriso estampado em seu rosto não iria embora tão cedo.

Olho para os lados, todas as outras pessoas lá perto também sorriam, com aquela cara de quem está lembrando de coisas boas.  Se foram só as luzes eu não sei, mas naqueles minutos mágicos, todo mundo estava sorrindo. Homens e mulheres, crianças, adultos e idosos… Não existiam diferenças. E parecíamos sorrir ainda mais ao perceber que não estávamos sozinhos.

Aí o ônibus chega, as pessoas voltam a seguir suas vidas, mas finalmente encontrei o que estava procurando. Se a capacidade de fazer completos estranhos sorrirem juntos não é mais mágico que qualquer refrigerante ou desconto, eu não sei o que é. Porque no fim daquele dia, mesmo tendo que voltar para os problemas da realidade, eu sabia que todas aquelas pessoas compartilhavam a felicidade daquele momento.

TEXTO/VAN: LAILA ZIN

ARTE: THAIS ANDRESSA

Deixe comentário

Seu endereço de e-mail não será publicado. Os campos necessários são marcados com *.

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.