Independente do lugar e da hora, assunto para uma boa prosa é algo típico do mineiro, prova que isso é uma constante na vida do barbacenense é o fato de sempre estar rodeado de amigos. O que pode ser visto nas ruas e praças, porém esse perfil agregador se torna ainda mais evidente no ponto central da cidade: a popular Praça dos Andradas.

Conjunto paisagístico tombado como patrimônio cultural de Barbacena, o entorno do Santuário passou a ser a sede do “Arraial da Igreja Nossa Senhora da Piedade” em 1748, exatos quarenta e cinco anos após a fundação da sesmaria “Borda do Campo”, local oficial da origem histórica da cidade. “Além de ser o centro logístico, essa a Praça dos Andradas foi onde o arraial realmente começou a crescer”, explica Sérgio Aires, Presidente do Conselho Municipal do Patrimônio Histórico e Artístico do município. “Os antigos moradores aceitaram se mudar para esse novo núcleo quando a imagem de Nossa Senhora da Piedade também foi transferida. E só anos depois a santa foi devolvida para a capela de origem”, acrescenta o estudioso.

“Para os católicos a  Matriz é a principal, eles fretam mais. Eu não sou católico, mas prego sempre: amarás ao Senhor Deus sobre todas as coisas, e ama ao teu próximo como a ti mesmo”, explica Juvenal Teixeira Filho, Ex-militar do nono Batalhão de Polícia e Infantaria e atual hoje pintor e engraxate, há três anos trabalhando na praça durante os finais de semana. “Visitar o santíssimo sacramento, comprar o jornal na banca e tomar um café com os amigos”, confirma Antônio Celso, advogado aposentado e frequentador assíduo da antiga Praça dos Macacos. E logo acrescenta: “Essa praça é a síntese de Barbacena, porque nela se encontram a Igreja Matriz, o Jardim Municipal e a estátua de Bias Fortes, que está no espaço com o nome dos Andradas. Então, o que há de melhor, de tradição em Barbacena, está aqui. É a fé cristã católica do povo da cidade e região, e os símbolos das lideranças políticas”, soltando uma simpática gargalhada em seguida.

Entre um cliente e outro, um desabafo: “A fonte luminosa estava estragada há 15 anos, quando foi reformada trouxe as pessoas de volta. Essa praça é um patrimônio da cidade”, em tom forte que logo afrouxa em uma piscadela, argumenta José Antonino Filho de 66 anos, mais conhecido como Toninho. Todos os dias, das sete da manhã às sete da noite, o dono da famosa “Pipoca do Amor” esbanja simpatia e capricha nas porções de guloseimas há quarenta anos.

Usando uma inconfundível boina italiana e  erguendo um aparelho auditivo, Seu Valdir Turquethi fala com orgulho: “Eu tenho só isso aqui (se referindo a uma leve surdez), o resto está tudo funcionando. Quando eu não puder mais, eu mando para outro taxista”. E antes que qualquer um tome o próximo fôlego, emenda: “Desde setembro de 1958 trabalho como taxista aqui. Essa praça é a coisa mais importante da minha vida depois da minha família. Formei seis filhos na faculdade. Trinta e nove anos, 18 horas por dia, domingo e dia santo, direto, sem parar. Agora trabalho 12 horas por dia até que Deus permita”. Imediatamente, posa elegantemente para a foto, se despede com muito charme e parte com o passageiro que faz questão de ter como motorista uma das figuras mais carismáticas da cidade.

“Tudo o que acontece em Barbacena passa por aqui, na Praça dos Andradas e na Igreja Matriz, o público só diminui quando o Café Ouro Verde fecha nas tardes dos finais de semana. É uma água, um café, uma bala. É um serviço, um símbolo”, ovacionado por clientes e amigos e com um leve embargo na voz, discursa Vicente Damasceno Cardoso, gerente da antiga cafeteria. O comerciário, agora com 52 anos, trabalha na praça desde 1979, quando deixou a zona rural de Alto Rio Doce. Segundo ele, incluindo o jornal, o baralho e o dominó, de longe a bebida quente é a campeã de popularidade. “Café na praça é tudo de bom, é o tradicional de coador servido com fartura, e a motivação para o bate-papo. Fala-se da vida alheia, de política e de futebol. O freguês faz essas rodinhas e tem especialista em tudo, resolve até o problema do país”, brinca Vicente, oferecendo um gole de café, ensejo para mais outra conversa.


Texto: VAN/ Pamella Chicarino
Foto: Pâmella Chicarino

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