Após um exaustivo dia de trabalho sentei-me num banco da praça no Largo do Tamandaré. Eram 8 horas da noite. Algumas vivas almas transitavam e seguiam pela calçada nas proximidades do Córrego do Lenheiro. Outras com seus carros barulhentos, que espalharam fuligem pelo ar, iam em direção há sem lá onde. O moço do Restaurante, o senhorzinho da padaria, o homem de óculos, todos seguiam com seus passos largos.

Que melancolia guardava essa cidade!? Com suas estátuas a homenagear filhos ilustres. Mas vez em quando o senhorzinho da estátua aparecia com alguma intervenção nem um pouco agradável, mas é o preço que se paga pela popularidade. O sino dobrava, mas eu não sabia de qual das igrejas. De onde eu estava dava para ver uma estante repleta de livros no prédio em frente. O que escondiam a

quelas páginas? Aquela cena era para mim objeto de curiosidade. Seria o dono daquelas obras, algum estudante de Letras, um poeta, ou quem sabe um matemático? Hipóteses a parte, guardava esse ser, um tesouro de valor incontestável.

FOTO/VAN: Thaís Andressa
FOTO/VAN: Thaís Andressa

A moça de cabelos ao vento subia uma ruazinha estreita com sua bicicleta com cestinha. Não sei por que razão, eu considerava as bicicletas com cestos um tanto quanto poéticas, ou melhor, charmosas. Talvez eu tenha aprendido isso nos filmes. Mas eu via também poesia nos dias de chuva no cenário colonial de São João del-Rei.

Eu não suportava a ideia de ir para casa, deitar-me no sofá e ficar olhando para uma tela. Isso me era demasiadamente monótono, estático demais. Eu queria ver gente, mas essencialmente ver que aquilo tudo era real. Eu queria observar a lua e contar as estrelas, mesmo que minha mãe continuasse a insistir de que o fato de contar as estrelas faziam surgir verrugas nos dedos. Minhas reflexões foram interrompidas pelo moço no banco ao lado que começou a assoviar uma canção do Scorpions, de muito bom gosto por sinal. E eu continuava a admirar a lua que estava igualzinha a um pão de queijo.

Decidi subir pelo beco da romeira que dava acesso à rua das três igrejas. Avistei um passinho da Via Sacra, em breve começam as celebrações da Semana Santa. Segui rumo à catedral de Nossa Senhora do Pilar. A noite estava calma. Pessoas passeavam com seus cachorros. Algumas paravam em frente á igreja e faziam o sinal da cruz. O centro histórico era envolto de um mistério, uma estranha nostalgia. As casas com suas luzes apagadas, as janelinhas fechadas, ao não ser uma exceção, de onde em uma das janelas um gato lambia suas patinhas. Um cachorro remexia o lixo na esperança de encontrar algum alimento.

Subi mais um pouco a rua e em frente à Igreja de Nossa Senhora das Mercês parei por alguns instantes, fechei os olhos senti-me em paz. De uma das casas tocava a canção Jesus Cristo, de Roberto Carlos. Enquanto eu seguia caminhando, esqueci-me das horas, mas pelo badalar dos sinos parecia ser nove. Eu seguia com meus passos solitários e tímidos. E no beco do Cotovelo parei para observar algumas lagartixas na parede, estavam entre amigos. Ter amigos é realmente uma dádiva. Cheguei em mais uma praça, de onde pude observar as torres da Igreja de Nossa senhora do Carmo. Agora tudo se faz o mais profundo silêncio. Mas de repente o telefone toca, era hora de voltar pra casa.

TEXTO/VAN: Thais Andressa

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