Manifestação no Centro de São João del-Rei tem fraco movimento e divergência entre os adeptos sobre levantamento de bandeiras

Foto: Clara Mattoso
Foto: Clara Mattoso

Movidos pelo avanço da reforma trabalhista no Senado, a União Nacional dos Estudantes (UNE), a Central Única dos Trabalhadores (CUT), a Frente Brasil Popular, o Levante Popular da juventude e sindicatos organizaram ato em São João del-Rei. Além da reforma trabalhista,  manifestação teve como pauta a reforma previdenciária e o pedido por “diretas já”.

Apesar de marcado para ter início às 15:00h, o movimento começou por volta das 16:00h com concentração em frente a Igreja São Francisco, cartão postal da cidade. Os manifestantes caminharam até o Coreto Maestro João Cavalcanti onde foi finalizada a passeata próximo ás 18:00h.

Para o Eletricista João Francisco a população passou o recado de que não está satisfeita com as propostas do atual Governo: “A importância da manifestação é total. Infelizmente não está com o volume de pessoas esperado, mas se a gente tem 12 milhões de desempregados, deveria ter 14 milhões de pessoas na rua reclamando”.

Entretanto, há aqueles que apresentam visão desfavorável às manifestações como o aposentado que preferiu não se identificar: “Lá vem meia dúzia de gato pingado fazer manifestação! Você quer colocar o PT de novo no governo? Partido que destruiu o país? Acho que o Governo Temer é suficiente,  tá ótimo”.

Entre os participantes da manifestação, houve divergências relacionadas ao levantamento de bandeiras partidária e sindicais. Para Tutti Fonseca, presidente do Sindicato Municipal dos Trabalhadores,  a presença dessas bandeiras interfere no valor da manifestação, afastando outras pessoas que enxergam o movimento como partidário: “ Eu entendo que eles estão dando um tiro no pé, pois coloca a sociedade contra eles mesmos. Não é momento de fazer divulgação. A preocupação maior é defender o país”.

O presidente do sindicato afirmou ainda que a manifestação foi sobre a indignação de todo o povo brasileiro contra todos os políticos e todos os partidos, pois em todos há políticos corruptos: “Eu defendo o Brasil e acho que a bandeira do país é bem vinda e não a de partido. Não é momento de defender partido e nem políticos porque todos estão envolvidos em falcatruas e desperdício de dinheiro público”.

O professor de filosofia José Luiz acredita que as pessoas estão mais conscientes da reforma previdenciária e não perceberam o que está em jogo na reforma trabalhista: “Não é uma reforma. É um desmonte do pacto civilizatório, que são as leis que garantem os direitos para os trabalhadores. Infelizmente, hoje, eu acho que a reforma trabalhista passa”. O professor salienta ainda que acha desnecessária tais reformas propostas pelo atual governo federal e que os maiores devedores da previdência são os bancos e as grandes empresas: “A dívida desses grupos econômicos com a previdência chega a 500 bilhões de reais. Não dá pra jogar isso nas costas do aposentado e do trabalhador que é o mais pobre”.

O professor de economia Glauco Manuel dos Santos afirma que quem está à frente dos movimentos são os estudantes: “A juventude está aí e forte, protagonizando o movimento, eu mesmo nas conversas que tenho com os sindicatos, isso aparece claramente. Todos elogiando o protagonismo dos estudantes e contando com a participação deles na manifestação”. O professor vai além: “ Acho que não é possível nenhum sindicato hoje , principalmente o dos  professores, dos docentes, vencer qualquer tipo de luta sem ajuda dos estudantes e isso está clar.”, afirma.

Por dentro da Reforma

A reforma trabalhista foi protocolada pelo presidente Michel Temer no final de dezembro de 2016. A partir de então, passou a tramitar na Câmara dos Deputados em caráter conclusivo,  o que significa que, se fosse aprovada nas comissões, seguiria para o senado sem precisar passar pelo plenário. E foi o que aconteceu.

O Senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES), relator da reforma trabalhista na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado (CAE), chegou a suspender a tramitação da reforma trabalhista em maio. É que, na época, foi divulgada a delação premiada dos executivos da JBS, que abalou a base aliada do governo (leia mais aqui). No entanto, em menos de uma semana, o parlamentar alterou o seu discurso e apresentou o relatório da reforma na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado.

Até o momento, a proposta passou pela Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) onde o parecer de Ferraço passou, sem alterações, com 14 votos a favor e 11 contra. Mas, na semana passada, quando o mesmo deputado tentou passar pela segunda comissão, a de Assuntos Sociais (CAS), ela foi reprovada por 10 votos a 9. Foi essa a primeira derrota do governo. No entanto, na quarta-feira (28), uma nova vitória da base governista se configurou. O relatório do senador tucano foi aprovado na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) por 16 a 9 votos.

A tarefa da CAS e da CAE é analisar as propostas em si enquanto a CCJ analisa se ela está de acordo com a Constituição. Os três pareceres são considerados opiniões sobre a proposta e  seguem agora, para o plenário do Senado. Cabe à esta Casa, que é soberana, a aprovação ou rejeição do projeto, podendo escolher um dos três pareceres, ou ainda aprovar outro que venha a ser apresentado diretamente por ela.

Sem data definida para votação no plenário, é o presidente do senado Eunício Oliveira (PMDB-CE) quem vai colocar a matéria em pauta nas votações. Entretanto, o senador já adiantou que pretende seguir com o trâmite antes do recesso do meio do ano. No plenário, o texto precisa ser aprovado por maioria simples, ou seja, para que haja a votação, é necessário que estejam presentes na sessão metade dos senadores, mais um. A reforma trabalhista, ao lado da previdenciária, é uma das prioridades do governo e são elas as que mais têm motivado as últimas manifestações.

Texto/VAN: Daniela Mendes, Yasmim Nascimento, Sagner Alves

Equipe/VAN: Bárbara Morais, Júlia Ribeiro, Leonardo Emerson, Victória Sousa, Marcos Coelho 

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