São João del-Rei é uma cidade produtora de artesanato, onde as mulheres e homens procuraram na técnica um modo de vida, de se expressar e, é claro, de ajudar a família. O artesanato de São João del-Rei e região é rico e singular. Esculturas, cerâmicas, bordados, peças em estanho, pinturas, crochês são apenas alguns pontos que fazem parte da rica cultura são joanense. 

Na região, o artesanato se tornou um espaço para desenvolver uma fonte de renda, conciliar casa e família, além de possibilitar a união de afazeres domésticos e vida profissional. Esses fatores fizeram com que o ofício se tornasse uma forma de expressão, principalmente feminina, pelo histórico de marginalização sofrida pela mulher.

Rosângela das Graças Souza é mãe de uma menina e trabalha todos os dias produzindo pequenos artefatos e suvenires, além de cuidar dos afazeres domésticos e ajudar a filha com os deveres da escola. “Faço muita coisa todos os dias, tenho que cuidar da casa, ajudar minha filha e, assim mesmo, encontro tempo para fazer minhas bonecas de pano e os chaveirinhos. É cansativo, mas eu gosto, porque me sinto útil e também ganho meu próprio dinheiro”.

Essa é uma realidade um tanto recente. Voltando no tempo, na concepção dos ideais democráticos, percebia-se conceitos que excluíam certos grupos de indivíduos de participarem de forma ativa na condução da sociedade. As mulheres representavam um desses grupos, uma vez que, desde a Grécia Antiga, eram impedidas de votar e participar de qualquer tipo de decisão política.

No entanto, com o surgimento de conceitos iluministas de igualdade e liberdade, representados por pensadores como John Locke, Jean-Jacques Rousseau e Jeremy Bentham, as mulheres passaram a reivindicar o direito de participação em processos políticos e a exigir leis mais igualitárias. 

Nos anos 60, o movimento feminista insurge com vistas à participação da mulher no mercado de trabalho, sua inserção na sociedade e na política, revindicando igualdade de salários e direito de cidadania, combatendo o preconceito e os valores tradicionais. 

Claudia Ferreira Lombardi, que atualmente é artesã e trabalha por conta própria, acredita que ser mulher vai muito além da tradicional e simplista visão de fragilidade. Segundo ela, é importante a mulher conquistar cada vez mais o seu espaço e independência: “eu faço tudo, sou independente. Eu me sustento e, por mais que não tenha filhos, cuido de mais de 20 cachorros que considero meus filhos. Tudo isso com o meu trabalho”.

Apesar das conquistas femininas, principalmente na vida profissional, a artesã Aparecida da Silva Rios aponta que o artesanato precisa ser mais valorizado na região, havendo ainda muito para aprender. “Acredito que o nosso trabalho ainda não é bem valorizado, não nos pagam um valor real pelo que produzimos. Acho que isso acontece porque ainda temos que aprender mais e nos profissionalizar, para conseguirmos nos destacar e produzir mais coisas”.

Texto: VAN/Caio Sena
Foto:Divulgação

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