Na próxima quarta-feira, 14, Barbacena completará 222 anos. Dentre os eventos para a comemoração da data, será destacado o lançamento do livro “Holocausto Brasileiro”, que relata o triste passado da cidade, sede do maior hospital psiquiátrico brasileiro no século XX, o que tornou Barbacena conhecida como “Cidade dos Loucos”. 

O Hospital Colônia foi fundado em 1903, após a fria cidade da Zona da Mata ter sido rejeitada como capital do Estado. Inicialmente, pretendia-se que fosse uma instituição que acolhesse portadores de doenças mentais, entretanto esse cenário logo se transformou. Eram internadas pessoas de diversas localidades, sendo que muitas delas chegavam à cidade em trens de carga. 

Muitos moradores antigos da cidade que vivenciaram esse momento histórico, descrevem como desolados e perdidos os rostos dos internos que chegavam à Estação Ferroviária. Hoje há a estimativa de que 70% dos pacientes não sofriam de doenças psiquiátricas, mas eram internados por serem prostitutas, homossexuais, epiléticos, alcoólatras ou, simplesmente, por serem tímidos. Muitos internos eram mulheres que sofreram estupro ou engravidaram antes do casamento, assim como pessoas de outros grupos sociais rejeitados pela sociedade da época.

Escrito pela jornalista Daniela Arbex, “Holocausto Brasileiro” descreve as atrocidades financiadas pelo Estado, bem como silenciadas pela população, por médicos e funcionários. Muitas vezes abandonados pela própria família, pacientes eram enjaulados, andavam nus pelos pátios e eram “tratados” com o chamado eletrochoque. Em um único dia, chegavam a morrer até 16 internos.

A população barbacenense tem se mostrado interessada em participar do lançamento do livro. Esse é o caso de Fátima Motta, técnica de enfermagem na Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (FHEMIG), e moradora de Barbacena. Ela diz que, apesar de conhecer parte da história sobre o Hospital Colônia, não tinha noção da gravidade e dos números apresentados no livro. 

Maria do Rosário da Costa, também barbacenense, conta que se interessou pela história do passado da cidade, e deseja ler o livro. Ela ainda complementa que não concorda com o fato de Barbacena ser conhecida como “Cidade dos Loucos”, pois, segundo ela, é uma espécie de brincadeira com um fato sério e perturbador.

Paulo Baeta, policial militar, afirma que cresceu ouvindo boatos negativos sobre o “hospício” – como eram chamados os hospitais psiquiátricos na época. Para o policial, a obra da jornalista Daniela Arbex é de extrema importância cultural e desvenda a autenticidade dos tais boatos. Nascido em Barbacena, ele não se orgulha desse passado obscuro da atualmente conhecida como “Cidade das Flores”.

O livro resgata a história do Hospital Colônia, em Barbacena, apresentando a estimativa de 60 mil pacientes mortos no período de 1903 a 1980, quando iniciou-se a reforma psiquiátrica no Brasil. O lançamento acontecerá na próxima terça-feira, 13, às 20 horas, no Museu da Loucura, na FHEMIG.

VAN/ Kellen Lanna; Vinícius Costa; Mariane Motta
Foto: Reprodução VAN

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