Registrar associações é forma de pleitear recursos públicos.

Foto: Site Religiosidade Popular

  Os congadeiros de Minas Gerais buscam formas de organização para manter sua tradição viva. Todavia, muitos grupos enfrentam dificuldades relativas ao financiamento e à fragmentação de suas comunidades. Alguns vão perdendo componentes porque os jovens pouco se interessam pela tradição. Criar associações foi, então, um modo que os capitães encontraram para receber repasses, comprar instrumentos, roupas e viabilizar o transporte das bandas.
O capitão Antônio Carlos da Silva, vice-presidente da Banda de Congado de Marujo de Nossa Senhora do Rosário e Santa Ifigênia, de Congonhas relata que, depois de se registrar, o grupo começou a receber subvenção municipal e estadual. Agora, os integrantes podem preparar os tambores e pegar donativos. “Estamos lutando para obter a federal para podermos nos organizar melhor e divulgar nossas tradições. Nós temos oficinas de Congado, ensinamos a fazer instrumentos, estandartes, roupas”, assinala.
O capitão do Grupo de Congado Santa Ifigênia, Willian Fernandes da Silva, diz que anda por Minas Gerais e outros estados levando sua cultura. “A maior dificuldade é de transporte, mas não é muito frequente. A Prefeitura nos dá apoio para nos deslocarmos e renovarmos nossas vestimentas”, informa.
Contudo, essa forma de financiamento ainda é exceção. O capitão do Grupo de Congado Catupé Cacunda, Francisco Valentim enfatiza que, em Arapari, o poder público pouco faz para dar suporte aos grupos de cultura afro-descendente. “Preferem repassar verba para o futebol”, frisa. Ele conta que sua banda pagou a viagem de 700 km para Resende Costa com ajuda da comunidade:
– “Eu não acredito muito em Prefeitura. Nos mantemos pela força e garra de nosso povo”.
Além disso, a prática pode criar uma submissão dos grupos à vontade política do local. Isso desapropria a manifestação dos significados originais dos congadeiros, ligados às lutas dos escravos africanos.

Congado

Foto: Blog Observatório Comunitário

Valentim, de 86 anos, conta que os membros entoam cantigas de escravos, mitos de guerrilheiros africanos e aparições míticas de santos. “O Congado é uma dança de fé, vinda dos antepassados, deixada para mim pelos avôs dos meus avôs. A Congada, para mim, é uma religião e uma obrigação. Eu acredito muito em nossa tradição, em São Benedito e em Nossa Senhora do Rosário”, comenta o capitão.
Segundo o capitão do Grupo de Congado Marujo Marinheiro Sereia do Mar, Carlos Evandro do Nascimento, “a música representa as tradições africanas de raiz. São de cativeiro, época da escravidão. Isso mexe com o nosso sentimento. Dessa forma, resgatamos aqueles elementos que estavam ficando para trás. Marujo é usado porque os escravos vinham para o Brasil dentro de navios negreiros; usamos roupas em sua homenagem”.

Nossa Senhora do Rosário

A imagem de Nossa Senhora do Rosário representa a proteção. Quando os negros chegaram ao Brasil, eles se apegaram à devoção para ajudar a passar pelas tormentas da escravidão. “Mantemos essa homenagem a ela até hoje”, afirma o vice-presidente Antonio Carlos da Silva.
Para o capitão da Banda de Marujo, Carlos Evandro, Nossa Senhora do Rosário representa tudo, é um laço de fé e humildade. “Quando saímos para festejar sua santidade, dá vontade de chorar, ficamos muito emocionados, porque sabemos que ela está alegre por estarmos reunidos em seu nome”, pontua.

Texto: Marcelo Alves

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