Sineiros explicam a importância do evento para a cultura da cidade

[LUCAS COMINE] Sineiros no alto da torre da Igreja do Carmo durante o combate no domingo (06)
[LUCAS COMINE] Sineiros no alto da torre da Igreja do Carmo durante o combate no domingo (06)

Aconteceu no último fim de semana, entre 4 e 6 de Março, a tradicional batalha de sinos em São João del Rei. O evento, exclusivo da cidade, faz parte da programação da Festa de Passos e anuncia a Procissão do encontro das imagens de Nossa Senhora das Dores e do Senhor Bom Jesus dos Passos.

São João del Rei é conhecida como “a terra onde os sinos falam” por ser a única cidade onde os sinos podem ser ouvidos durante todo o dia em  grande variedades de toques. A tradição da linguagem dos sinos vem do tempo de Colônia, pois funcionava como forma de comunicação para anunciar “rituais e celebrações religiosas, atos fúnebres e marcação das horas, entre outras comunicações de interesse coletivo” de acordo com o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).

O ofício de sineiro se mantém vivo através do interesse dos jovens e é patrimônio cultural desde 2009. Paulo César Mendonça, responsável pela torre da Igreja de Nossa Senhora do Carmo, conta como se dá o processo de aprendizado: “A gente aprende porque entra desde novo como coroinha, depois a gente vai tomando aquele gosto de poder aprender os toques dos sinos. Eu tive interesse e comecei a subir nas torres, a gente vai aprendendo com os sineiros antigos”.

[LUCAS ALMEIDA] Nilson é sineiro da Igreja de São Francisco há 24 anos
[LUCAS ALMEIDA] Nilson é sineiro da Igreja de São Francisco há 24 anos

Nilson dos Santos, sineiro responsável pelos campanários da Igreja São Francisco de Assis há 24 anos também conta suas influências: “Vim de uma família muito religiosa e tradicional, quando era menino sempre participava de procissões e estava na ativa com meus pais. Daí veio a curiosidade de ver o sino tocar ali de baixo, dessa curiosidade veio que eu sou hoje sineiro!”.

Luís Carvalho de Freitas é sineiro da Igreja do Pilar há 3 anos e foi aprendiz de Nilson, acredita que a batalha é importante para “manter as tradições da cultura sanjoanense”.

Entretanto é necessário muito preparo, paciência, cautela e respeito quando se está dentro da torre. Dobrar sinos de 1.000 e 2.800 kg não é tarefa fácil e Nilson alerta: “todo cuidado é pouco, temos que respeitar o poder dos sinos. É uma coisa que a gente passa pros aprendizes: cuidado e gostar daquilo que se faz”. Reforça ainda o valor da linguagem: “Os sinos falam, transmitem alguma coisa alegre ou triste dependendo do momento e devemos manter a identidade que nossos antepassados deixaram pra nós”.

[LUCAS COMINE] Aprendizes durante a batalha na torre da Igreja São Francisco
[LUCAS COMINE] Aprendizes durante a batalha na torre da Igreja São Francisco

Como funciona a batalha?

Excepcionalmente em São João del Rei, no fim de semana do quarto domingo da quaresma, acontece a festa de Passos. Na sexta-feira, a imagem de Nossa Senhora das Dores deixa a Catedral Basílica de Nossa Senhora do Pilar e é depositada na Igreja de Nossa Senhora do Carmo. No sábado, a imagem do Senhor Bom Jesus dos Passos também deixa a Catedral do Pilar e é depositada na Igreja São Francisco. No domingo, as duas imagens se encontram em frente à Igreja de Nossa Senhora das Mercês, relembrando o encontro de Jesus com Santa Maria, na procissão do Encontro.

A batalha ocorre porque “eles [os sineiros do Pilar] estão pedindo a imagem de volta e nós não queremos devolver, então é uma linguagem dos sineiros daqui com os sineiros de lá”, de acordo com Nilson.

[LUCAS COMINE] A bandeira vermelha sinaliza o combate entre os sineiros
[LUCAS COMINE] A bandeira vermelha sinaliza o combate entre os sineiros

O evento gera uma rivalidade amigável entre os sineiro que têm formas de comunicação do alto das torres. Mendonça explica: “tem duas bandeiras: a vermelha e a branca. Usamos a vermelha quando a gente quer chamar mais a outra turma, quer revirar mais os sinos e a branca quando a já estamos cansados ou acontece algum imprevisto na torre – aí a gente já sabe que é pra parar ou diminuir a velocidade”.

A batalha acaba atraindo bastante público, que observa encantado as voltas que os sinos dão: “tem muito turista que fica curioso pra saber sobre isso, porque eles rodam no mundo inteiro e não tem isso, só em São João!” afirma Mendonça.

[LUCAS COMINE] Torre do Pilar vista da Igreja de São Francisco
[LUCAS COMINE] Torre do Pilar vista da Igreja de São Francisco

TEXTO/VAN: Rebeca Oliveira

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