Christopher Faria

Pessoas com 21 anos no século XXI vivem uma experiência que nenhum outro jovem adulto, com a mesma idade, viveu. E sei que isso parece redundante, mas, essa ideia surgiu em mim quando pensei nas vivências das pessoas de 21 anos de outras gerações.

Minha mãe, minha avó, meu tio e meu bisavô foram agraciados com o tempo. Mas atente à ordem! Não disse que o tempo os agraciou, disse que eles foram agraciados com o tempo. Não estou dizendo que o tempo foi gentil com eles, ou algo do tipo. Deus sabe que as rugas que preenchem os rostos ou as caveiras de cada um têm histórias que vão muito além de suor e sangue. Quero dizer que eles tinham tempo, e isso é uma benção. Algo sacro que parece ser negado para minha geração. Ou um que minha geração parece negar.

Estamos sempre sem tempo.

E sei que tempo é questão de prioridade, mas a sensação é que hoje em dia tudo é primal. Tenho que ter uma vida com hábitos saudáveis, mas também tenho que experimentar todas as baboseiras que todo mundo está experimentando. Tenho que me exercitar para não ser feio, mas tenho que ler também para não ser burro. Tenho que achar um bom emprego, mas tenho que fazer uma faculdade antes para ter melhores oportunidades. Tenho que ter minha independência financeira o mais rápido possível, mas não posso ser ingrato com meus pais. Tenho que estar atento a tudo, saber tudo, mesmo que superficialmente, mas o suficiente para não ser excluído de grupos de conversa.

Tudo é prioridade, tudo ao mesmo tempo, menos o tempo.

Amo criar, mas não tenho tempo para ser criativo quando tenho que trabalhar o dia todo e estudar à noite para sustentar todas as coisas que nossa geração colocou como prioridade. Amo a vida, mas não tenho tempo para viver, fazendo tudo o que alguém disse que preciso fazer para estar vivo.

Às vezes, penso que foi a hiperconexão que nos deixou assim. A internet, as redes sociais, a cobrança por algo inalcançável, a necessidade de coisas que não preciso. Sei que sempre houve essa ditadura de como viver – proposta pelo consumismo e pelo capitalismo como um todo –, mas sinto que a internet potencializou tudo isso e fez com que as consequências caíssem em nós mais do que em quaisquer outros.

Somos a geração que nasceu com a internet. “A geração que não sabe viver sem ela”, é o que sempre escutei sobre mim. E por muito tempo, até um mês atrás talvez (sim, tudo na nossa geração se transforma tão rápido, até nossos pensamentos), eu concordava com essa máxima. Não me imaginava desconectado, ria das pessoas que escolhiam não estar e me compadecia das pessoas que não podiam estar (porque, cá entre nós, sabemos bem que a internet ainda não é tão democrática quanto somos ensinados a acreditar que ela é).

Eu não tinha a capacidade de me imaginar fora das redes, porque eu sempre estive nelas. Mas isso mudou recentemente. Comecei a me imaginar como os jovens de 21 anos viviam. Sem essa preocupação constante de perfeição e comparação. E, novamente, sei que esses não são conceitos novos, sei que comparação sempre existiu, mas a vida não era mais fácil quando as pessoas se comparavam com algo que um dia elas podiam ter ou ser? Hoje nos comparamos com filtros, com IA’s, com fotos editadas. É geneticamente impossível ter aquele corpo “photoshopado”, mas mesmo assim me sinto mal com o meu. É impensável ter o nível de conhecimento de um banco de dados, mas mesmo assim me sinto incapaz.

Hoje, eu me vejo sem internet. Me vejo desplugado. Sem wi-fi por perto. Porque, lá no fundo, tudo o que eu queria era ter tempo para ler o livro que amo assim que eu chegasse em casa. Tempo também para sair de casa. Conversar cara a cara com amigos, ver a rua, o céu, mesmo que eles estejam poluídos e muito mais feios do que aparentam estar nas fotos.

Tempo é um luxo e sinto que nossa geração o está negligenciando.

Por quanto tempo vamos continuar fazendo isso com nós mesmos? Qual vai ser o limite? O aumento de doenças mentais não foi. O aumento de intervenções cirúrgicas não foi. O aumento de suicídios não foi. 

Qual o limite até que todos percebam que tudo o que precisamos é parar?

Será que somos a geração que vai ter que sofrer a consequência da falta de tempo para que possamos ensinar a próxima a aproveitá-lo?

Ou será que estamos todos fadados à eterna pressa?

[…]

Gostei do texto. Acho que vou usar como legenda de algum post no Instagram.