No último domingo, 14, a cidade de São João del-Rei contou com atrações de teatro, música, desenho e consciência social. As atrações tomaram os palcos e salas do segundo dia de programação do 26o Inverno Cultural. 

Às 15 horas, na Sala de Multimídia do Centro Cultural da UFSJ, foi exibido o documentário “Três irmãos de Sangue”, que retrata a vida dos irmãos mineiros Betinho, Henfil e Chico Mário que, cada um com sua linguagem, mudaram os rumos socio-políticos do país nas últimas décadas. 

Incansáveis e movidos pela indignação com a realidade brasileira, dedicaram suas vidas à redemocratização social e política no país. Betinho foi antropólogo e mobilizou a população na luta contra a miséria e a exclusão social. Henfil foi cartunista e jornalista, além de um dos maiores atuantes na luta pela democracia política. Chico Mário foi pioneiro na questão da música independente, tendo lançado oito álbuns sem selo. 

Para Marcos Souza, filho de Chico Mário e idealizador do documentário, os irmãos conseguiram “realizar utopias” no país: Henfil através do desenho de cunho político, Chico com a música e Betinho por meio da ação social. Antes da exibição do documentário, Marcos Souza e sua irmã Karina apresentaram cinco músicas do repertório de seu pai, incluindo a música “Ressurreição”, composta por ele para Henfil.

Ainda à tarde, O Grupo Quinto, de Belo Horizonte, lotou o Teatro Municipal com o espetáculo “Vamos todos Cirandar!”. Os seis pianistas apresentaram, de forma inovadora, canções para piano compostas pelo maestro Heitor Villa-Lobos. A fórmula inusitada do grupo é tocar música erudita de forma coletiva ao piano – um instrumento para solistas. Além disso, a inclusão de elementos cênicos e das artes visuais completam um cenário lúdico, que busca aproximar o público da música clássica com a utilização de ritmos populares, como as cirandas.

À noite, mais de mil pessoas assistiram, no estacionamento do Campus Santo Antônio, à peça “Os Gigantes da Montanha”, do Grupo Galpão, também de Belo Horizonte. A fábula inacabada, escrita pelo dramaturgo italiano Luigi Pirandello, é uma alegoria sobre o embate da arte com o pragmatismo da vida moderna, contada a partir das figuras dos “Gigantes”, que vivem a vida, e dos atores da Companhia da Condessa, que vivem a arte, dando coerência aos sonhos. No meio destes, o mundo dos fantasmas, dos sonhadores, numa brincadeira com os limites do possível.

Dentre os espectadores, Walter Melo, professor de psicologia da UFSJ, afirma que o espetáculo foi uma aula de psicologia, mostrando a relação entre a realidade e a fantasia. “A peça tem todos os arquétipos ali representados. A própria realidade vai desfazendo o contato com o imaginário, e o imaginário desfazendo esse contato com a realidade”, afirma. 

O historiador Antonio Gaio Sobrinho, que também assistiu à peça, elogiou a qualidade artística do grupo, e interpreta: “O tema desta peça é muito filosófico e poético, com muita  profundidade e até crítica. Nós somos os ‘Gigantes’. E uma frase espetacular da peça resume tudo: ‘Apenas quando não temos nada é que temos tudo’”.

Fechando a programação, foi aberta a exposição “Riscos do Corpo”, de Marina Carneiro, que vai permanecer até o final do Inverno Cultural, de segundas a sextas-feiras, das 11 às 17 horas, na Casa de Bárbara Heliodora. Traços delicados e intimistas ilustram as geometrias do corpo e expressões em desenhos feitos com bico de pena, nanquim, aguadas em aquarela e guache sobre papel.

VAN/ Dani da Gama

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