Falta de verbas para realização de eventos durante a semana motivou a decisão

No dia 20 de novembro é comemorado o Dia da Consciência Negra em todo o país. Em alguns estados, o dia é considerado feriado. A data, expedida em 2003 e oficializada em 2011, é uma homenagem a Zumbi dos Palmares, líder da resistência negra no período escravocrata. Zumbi lutou para que os modos de vida africanos fossem preservados no Brasil, liderando o maior quilombo do país, o Quilombo dos Palmares, localizado no atual estado do Alagoas.

Na verdade, o Quilombo dos Palmares já existia antes mesmo de receber tal nome; relatos de historiadores informam que o lugar já era refúgio de escravos desde 1580 e foi crescendo, com o passar do tempo, a ponto de abrigar cerca de 20 mil pessoas naquela área. Líder da resistência, Zumbi lutou para que o local não fosse destruído pelos colonizadores portugueses. O quilombo durou por mais de 100 anos, até que em 1694, em uma emboscada, Zumbi morreu devido a um ataque comandado por Domingos Jorge Velho. Depois da morte do seu líder, o quilombo foi se enfraquecendo,  até que em 1710 deixou de existir.

Assim sendo, o Dia da Consciência Negra serve como um momento de reflexão sobre o racismo, a  discriminação, a desigualdade social, a inclusão do negro na sociedade, a religião e cultura afro-brasileiras. É importante reconhecer a história dos africanos e seu descendentes na construção e constituição da sociedade no Brasil. Para a estudante e professora de História, Larissa Ramos dos Santos, o 20 de novembro não é um dia de comemoração, por ser a data da morte de Zumbi dos Palmares. “É um dia voltado para a reflexão, principalmente  quanto ao problema do racismo e do desrespeito com as religiões de matriz africana, com a falta de respeito com a nossa história”, enfatizou.

Em São João del-Rei, com mais de 20 anos de atuação, o grupo Raízes da Terra, formado por afro-descendentes e simpatizantes da cultura africana, é responsável pela semana de eventos em nome deste dia na cidade. Entretanto, este ano, os eventos não poderão ser realizados devido à falta de verbas para a organização das festividades. Segundo a presidente do grupo, Vicentina Neves Teixeira, a data é importante para que se registre a lembrança da luta iniciada pelos escravos durante o regime escravocrata. Esse dia serve como momento de reflexão sobre as lutas pela igualdade social em curso na atualidade. A presidente também salientou a falta de compromisso dos políticos da região para com a data.  

Jordane Pereira da Silva é negra e acadêmica do curso de História. Para ela, o dia destinado à Consciência Negra é um momento para se pensar na resistência que os negros tiveram ao lutar pela liberdade ao longo da sua trajetória. “A memória de Zumbi dos Palmares é símbolo de luta, liderança e resistência. A luta dos negros acontece todos os dias. Na busca por emprego, espaço, liberdade, tentando mostrar quem realmente somos, como contribuímos cultural,  histórica e socialmente”, frisou.

De acordo com a Jordane Pereira, mesmo após a promulgação da Lei Áurea, os negros continuam marginalizados. “Antes, existiam as correntes que nos aprisionavam. Hoje, temos outros tipos de correntes que ainda nos aprisionam por causa do racismo e preconceito existentes. Assumir traços da identidade negra, como o cabelo afro, é um processo de aceitação, muitas vezes doloroso, devido aos padrões impostos. A imagem que se mostra da mulher negra é de empregada, presidiária, nunca de protagonistas. Somos tachadas como sensuais. Nós viemos, com a resistência de Zumbi, para mostrar que não é isso; que devemos ganhar o nosso espaço que por tanto tempo foi oprimido”, destacou.

Apesar de não haver verba para fazerem comemoração por conta própria, o grupo foi convidado para dois eventos, a fim de celebrar este dia. Em São João del-Rei, na próxima sexta-feira (23), o grupo estará na Escola CAIC, no bairro Fábricas. Em Tiradentes, no sábado (24), às 17h, o grupo participará de um cortejo juntamente com o grupo de Congado e capoeira, encerrando o evento com uma missa no local do Chafariz, no Centro Histórico da cidade. O grupo e a organização da festa convidam a todos para prestigiar o momento.   

Texto/VAN: Carla Marques e Emerson William
Imagem/VAN: Thauana Gomes

 

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