Texto: Eduardo Statuti

Revisão: Samantha Souza

O livro “Holocausto Brasileiro”, escrito por Daniela Arbex e publicado em 2013 pela Geração Editorial, em específico, o prefácio e o primeiro capítulo, retrata com riqueza de detalhes as crueldades ocorridas no Hospital Colônia de Barbacena. A capacidade descritiva na obra é tamanha, que ao passar pelas palavras, sente-se um pouco da agonia das personagens.

No meio de tanta crueldade e maldade pura, o frio aparece como um detalhe que torna o sofrimento ainda mais profundo na obra. A autora acerta ao comparar o local a um campo de concentração nazista. As histórias narradas remontam muitas lembranças de obras sobre o assunto, como o livro “O menino do pijama listrado”.

Entretanto, por se tratar do Brasil, muitas nuances do país também são expostas. O coronelismo, o poder da política e, principalmente, a força do patriarcado, características do país, são contadas em seu viés mais vil possível. A naturalização da violência confunde os próprios personagens. Mulheres que simplesmente buscavam o dinheiro que lhes pertencia por justiça, eram enviadas para o local.

Museu da loucura – Foto: Louise Zin

Em um ambiente onde as pessoas tinham suas personalidades e individualidades confiscadas, se torna difícil encontrar personagens. Ainda assim, a autora consegue, com sensibilidade, dialogar e retratar o que ainda resta na lembrança dos poucos sobreviventes.

“Ao receberem o passaporte para o hospital, os passageiros tinham sua humanidade confiscada”, retrata Daniela Arbex na obra. Este pequeno trecho é bastante significativo. Ao abrirmos o livro, recebemos um bilhete imaginário para acompanhar a saga de quem pega o “trem de doido” e conhecer histórias cruéis, mas que necessitam ser contadas.