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Na segunda reportagem da série, contaremos a história de Lucas, de 11 anos, que sonha em seguir os passos da mãe e do avô no esporte

Lucas é a terceira geração de uma família apaixonada pelo basquete Foto: André Lamounier
Lucas é a terceira geração de uma família apaixonada pelo basquete
Foto: André Lamounier

Lucas Veríssimo da Silva Feliciano, de 11 anos, até tentou praticar outros esportes, mas o destino quis que ele continuasse a tradição da família. Filho de Rosana Maria da Silva Feliciano, que jogou basquete durante a juventude, e neto do ex-jogador e professor de basquete Olavo Veríssimo da Silva, Lucas tem o dom de arremessar a bola na cesta correndo no sangue.

“Lucas já fez Karatê e Judô, mas acabou não se identificando. Certo dia levei ele para jogar basquete e deslanchou! ” conta a mãe, que faz questão de contar ao filho as dificuldades que teve no esporte. “Na minha época, eu treinava junto aos meninos. Não tinha time feminino. Eram outros tempos e talvez isso tenha me influenciado a não seguir no esporte, por que não tinha a experiência de uma equipe ou competição. ”

Lucas (centro) e seus companheiros durante treino no clube onde atuam, em São João del-Rei. Foto: André Lamounier
Bill Russell atuando pelo Boston Celtics.
Foto: Dick Raphael/NBAE/Getty Images

 

Questionado sobre referências no esporte, Lucas tem como ídolo Bill Russell, medalha de ouro nas Olimpíadas de Melbourne, em 1956, e venerado pela torcida do Boston Celtics, clube em que atuou por toda a carreira e onde Lucas sonha jogar. Tanto o ídolo, quanto o time dos sonhos são dos Estados Unidos, principal referência no esporte.

 

 

A hegemonia norte-americana e as conquistas do basquete brasileiro

O Basquete foi criado pelo professor James Naismith em uma universidade norte-americana, no ano de 1892, para que as pessoas pudessem praticar algum esporte mesmo com as temperaturas baixas e a neve do inverno americano. No Brasil, o primeiro jogo de basquete ocorreu na Associação Atlética Mackenzie, em 1896.

Além de criadores do esporte, os norte-americanos tem uma supremacia inegável. São os maiores campeões das olímpiadas, pan-americanos e mundiais, e contam com uma verdadeira constelação de atletas. A NBA (Associação Nacional de Basquetebol, em português) é a mais importante liga de basquete do mundo, vista em mais de 200 países.

Apesar de ter um desempenho bem mais humilde que o norte-americano, o basquete brasileiro já viveu grandes momentos. É o segundo com mais medalhas nos jogos Pan-Americanos e o décimo nas olimpíadas. Grandes jogadores já se destacaram, como Oscar Schmidt e Hortência, e atualmente 9 jogadores brasileiros disputam a NBA.

Hortência e Oscar Schimdt: grandes atletas do basquete brasileiro
Foto: Ormuzd Alves/Folhapress                                                                                          Foto: Getty Images

 

Figura 1 – Leandro (à esquerda) orientando jovens jogadores de basquete de um clube de São João del-Rei.
Foto: André Lamounier

Para Leandro dos Santos, treinador do Lucas, o país tem muito a melhorar, mas vê avanços com o fortalecimento do Novo Basquete Brasil (NBB), liga nacional que tem parceria com a estadunidense NBA.  “São poucos (jogadores) que conseguem chegar ao profissional. Diferente do futebol, temos poucos times que ofertam vagas. Mas se olharmos os últimos anos, estamos melhorando. Tem mais gente praticando, mais canais de TV transmitindo os campeonatos. ”

Rosana também acredita nos avanços. “Meu pai lutava por coisas em São João que hoje já são naturais: tem várias escolinhas e times femininos. Os jogadores do país já são mais valorizados. Evidente que tem coisas que precisam melhorar. Os clubes e prefeituras do interior não tem apoio e ainda falta reconhecimento. Como meu pai dizia há anos atrás: precisamos tirar os meninos das ruas e levá-los para as quadras. ”

A inspiração no pai para o futuro do filho

O ex-jogador e professor Olavo Veríssimo, pai de Rosana e avô de Lucas, dedicou 30 anos de sua vida a ensinar basquete para crianças de um clube de São João del-Rei, mas faleceu em 2000, antes de ver o neto seguindo seus passos. “É uma emoção muito grande. Penso muito em meu pai. Onde quer que esteja, ele está deslumbrado em vê-lo” conta Rosana.

Olavo (à direita, em pé) junto ao time de basquete do colégio São João, no atual Campus Dom Bosco da UFSJ.
Foto: Acervo Pessoal

Olavo concedeu entrevista para o programa “Destaque Vertentes”, da Rádio Vertentes FM, em 22 de junho de 1997, quando falou sobre a importância do basquete na formação dos filhos. Você pode conferir um trecho da entrevista clicando no áudio abaixo.

Lucas durante teste no Mackenzie, o qual foi aprovado. Ele aguarda ainda a resposta do Minas Tênis Clube, principal time de basquete de Minas Gerais. Foto: Acervo Pessoal
Lucas durante teste no Mackenzie, o qual foi aprovado. Ele aguarda ainda a resposta do Minas Tênis Clube, principal time de basquete de Minas Gerais. Foto: Acervo Pessoal

 

Sobre o futuro do Lucas, Rosana apoiará independente de qual seja o destino. “Falo muito para que ele nunca perca a humildade. Acho que não conseguirei ver os jogos dele, me dá uma vontade imensa de gritar e entrar na quadra (risos). Mas se não conseguir, continuo orgulhosa do mesmo jeito. Se ele tentou o sonho dele e não deu, pelo menos tentou. Até hoje me questiono sobre o que teria acontecido se tivesse ido jogar profissionalmente. Não lamento, mas não quero que ele passe por isso. ”

 

Para Lucas, já está tudo decidido. “Acho muito legal seguir a tradição. Meu avô foi professor e treinador de basquete, mas eu quero é ser jogador! ”. Ele já foi aprovado em times de Belo Horizonte e segue seu caminho rumo aos grandes ginásios do mundo.

 

 

 

 

 

TEXTO/VAN: ANDRÉ LAMOUNIER

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