O Programa Mais Médicos, apresentado pelo governo federal, propõe, dentre outras coisas, o aumento de dois anos na duração dos cursos de medicina. Um dos objetivos do programa é levar a um aumento do número de médicos que atendem no SUS – Sistema Único de Saúde, principalmente nas cidades do interior. A proposta fez com que médicos e estudantes de medicina se posicionar diante do fato. Essa medida foi suspensa pelo Governo Federal, o que gerou satisfação para os profissionais e estudantes da área.
Flávia Senra, 24, estudante de medicina da Universidade do Vale do Sapucaí (Univás), afirma ser contra o aumento na duração do curso. Segundo ela, essa medida não iria melhorar a saúde no país. “Não acredito que haveria uma diferença significativa na qualificação dos médicos. Já no currículo antigo, os estudantes passavam de 1,5 a 2 anos em hospitais (muitas vezes públicos), no período de internato, o que lhes dava um amplo conhecimento prático da medicina e dos sistemas de saúde”.
A estudante complementa que “o que poderia haver de benéfico para a saúde seria o aumento do número de profissionais disponíveis ao SUS, porém cabe ressaltar que, na maioria dos casos, o que falta à saúde pública do Brasil não são profissionais, e sim materiais hospitalares, medicamentos, equipamentos em geral, e, até mesmo, unidades de atendimento”, afirma Flávia.
A pediatra Silvana Moreira, 48, também não é favorável ao aumento na carga horária do curso. “Não é de forma nenhuma aceitável a medida de mais dois anos no curso de graduação, pois é uma medida eleitoreira. Além disso, seria também uma medida inconstitucional. O governo não tem de se meter na diretriz das universidades”, ressalta a médica.
Essa discussão transpôs os limites da área de saúde. A estudante de direito, Izabella Woyames, 22, também se posicionou sobre o programa, especialmente em relação ao ensino privado. Para ela, “as universidades públicas investem pesado na formação dos alunos, creio que esse prazo de trabalho obrigatório que o governo tentou instituir no curso de medicina seria uma espécie de ‘retorno à sociedade’. É como se o estudante, quando se tornasse profissional, fizesse uma contraprestação social pelo estudo gratuito que recebeu. Se o objetivo é promover o retorno do aprendizado obtido pelo acadêmico para a sociedade que financiou seus estudos, não tem que se falar em retorno nos casos em que esse ensino foi custeado pelo estudante e sua família. Nesse caso, o governo só estaria se apropriando da mão de obra dos médicos recém formados, sem nenhum fundamento ético para isso”. 
Izabella Woyames ainda declara: “concordo com a necessidade de haver retorno para a sociedade, mas vejo com crítica a posição do governo, que não pode simplesmente invadir a espera privativa de milhares de profissionais para corrigir problemas estruturais que o país vive”.
Com a decisão por parte do governo de revogar esses dois anos a mais, muitos médicos e estudantes comemoraram. Flávia reafirmou que a saúde, no Brasil, precisa de mais equipamentos e não médicos. 
“Como eu já havia dito, acredito que o principal problema da saúde do país não é a falta de médicos, mas sim a falta de condições para que estes possam exercer sua profissão com dignidade. Dessa forma, continuo convicta de que não haverá uma melhora tão significativa quanto se espera”.
VAN / Barbara Barreto; Julia Benatti; Larissa Garcia
Foto: Barbara Barreto

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