O que dizem os muros da cidade dos sinos e  qual o simbolismo da pichação

As pichações levantam debate sobre assuntos importantes, como o feminismo, utilizando-se de referências à cultura pop. FOTO: Mariana Tirelli
As pichações levantam debate sobre assuntos importantes, como o feminismo, utilizando-se de referências à cultura pop. FOTO: Mariana Tirelli

São João del-Rei é uma cidade de vários atrativos. Histórica e universitária, é local de diversas manifestações artísticas; dentre elas, o falar dos sinos. Aqui eles têm voz. Mas há algo muito singular nessa terra e que poucos percebem. Estou falando dos muros. Alguém já exaltou essa cidade por essa grande peculiaridade?

Não apenas os sinos, mas os muros de São João também falam – e falam à beça.

Não interessa muito qual é seu estado de espírito no dia, há, com certeza, uma pichação ou grafite que expressa aquilo que está engasgado ou na ponta da sua língua. Nem que seja um sincero “Odeio bife de fígado”.  As desilusões amorosas também não passam batido e são lamentadas, ainda que de maneira bem humorada, com um clássico pagode dos anos 90, deixando todo mundo saber que “Não era amor, era cilada!”.

Existe também espaço para questões mais sérias. Ao redor da cidade, você pode encontrar várias manifestações de resistência ao conservadorismo – uma forma interessante de ver pautas do movimento feminista, LGBTQ e em defesa da democracia tatuando os muros.

O doutor em Ciências Sociais José Manuel Arce afirma, em seu livro Vida de Barro Duro – Cultura Popular Juvenil e Grafite, que “o grafite remete a novos usos dos espaços públicos que se desenvolveram com a urbanização; envolve uma disputa simbólica pela definição da cara dos espaços e sua conotação legal ou ilegal frequentemente deriva apenas do grupo que o realiza.” (ARCE, 1999, p.122)

O grafite e as pichações podem ser a maneira que alguns grupos encontram de se verem representados dentro do espaço urbano, ocupando-o e mostrando quais são os assuntos que lhes interessam e que merecem mais discussão. Os muros podem ser, então, murais para que aqueles que não se sentem devidamente ouvidos possam expor suas opiniões.

Vandalismo ou não, cabe ao interpretador. Mas fato é que o grafite tem tomado para si diversas áreas urbanas e as transformado em galerias a céu aberto. Exemplo disso é a Galeria Baum, localizada na Estrada Real, que liga São João del-Rei a Tiradentes e que foi ponto de partida para a 2ª edição da Bienal da Arte Urbana Mineira.

E quem não quer ter seus caminhos mais coloridos?

TEXTO/VAN: Rebeca Oliveira

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