Quando perguntamos a
uma criança o que ela quer ser quando crescer ninguém leva muito ao
sério a resposta, nem deveria. Afinal, sonhamos em ser tanta coisa
nessa fase: médico, astronauta, jornalista, bombeiro, enfim, sonhos
e anseios nos primórdios da vida apelidada de infância. Em São
João del-Rei no final da década de 80 uma garotinha respondendo a
essa pergunta, afirmou que iria se tornar motorista, hoje, a então
mulher de 33 anos, Sarita Passarelli, não só realizou seu sonho,
como é pioneira. A primeira mulher motorista de ônibus da cidade.


“Tá vendo aquilo
uma mulher no volante!” relembra Sarita rindo, quando escutava os
perplexos passageiros quando a avistam dirigindo. Ela inicia os
trabalhos oficialmente em janeiro do ano de vem, mas já anda fazendo
algumas linhas pela cidade, como a IF/Ctan, motivo de surpresa na
cidade. Ela é agora o assunto do momento, virou notícia pela
cidade. Viúva e mãe de dois filhos, Sarita procura levar um vida
tranqüila no bairro Fábricas. A família vem a apoiando nessa nova
fase de sua vida. Segundo ela, quando seu pai soube na noticia, ficou
emocionado. “Meu pai ficou bem orgulhoso, até chorou!” Já os
filhos dizem estar orgulhosos da mãe. “Eles gostam muito de ver a
mãe nesse emprego”.
Quem a vê
trabalhando não imagina o caminho percorrido até o volante. Tudo
começou em 2007, quando ela entrou na companhia como cobradora e já
almejava o emprego de motorista. “Eu já dirigia, eu tinha carteira
B. Quando perguntei para o meu patrão [sobre o emprego], o Mauro,
ele disse que sim, teria oportunidade caso conseguisse tirar minha
carteira D”. Com muita persistência Sarita começou a correr atrás
da habilitação para veículos grandes. Ela aguardou quatro anos,
até que conseguiu tirar a carteira D, foi nesse período que surgiu
a vaga de manobrista na empresa. Onde permaneceu até dois anos e há
dois meses surgiu a promoção. Segundo Rafael Felipe, eletricista da
empresa e amigo da motorista. “Sarita dirige muito bem. Sempre teve
determinação de mudar de função. O sonho dela sempre foi de ser
realmente motorista.”
Com brilho nos
olhos, de quem consegue realizar um antigo desejo, Sarita fala de seu
amor pela profissão “Eu adoro dirigir, esse lance de ser a
primeira é temporário, logo vai aparecer mais. Eu espero que
apareça.” Quando chegamos para entrevista-lá, estava ocupada,
manobrando um ônibus na garagem da empresa. Do começo ao fim da
entrevista parecia não estar acreditando naquilo que estava passando
na sua vida, ela estava mudando de cargo, agora era motorista, seu
colega de serviço até brincou “Sarita merece ganhar um Honra ao
Mérito na prefeitura!” Mesmo que ela não ganhe nenhuma
condecoração, o maior prêmio foi o que Sarita já deixou na
cidade, não apenas pelo fato de ser mulher, mas como dizia a música,
‘Quem acredita sempre alcança’ e hoje pode até existir
barreiras e aquele velho preconceito no mercado de trabalho, mas
Sarita é categórica em dizer “Eu Lutei muito para isso. E aceita
quem quiser. O sonho é meu! Preconceito comigo realmente não
rola!”.  

Reportagem: Marlon Bruno e Clara Varginha.

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