Discussões sobre literatura nacional e o hábito de leitura no Brasil também foram abordadas

 

No último sábado (22), continuaram as rodas de conversa, exposições e atrações artísticas da 11º edição do Felit,  Festival de Literatura de São João del-Rei e Tiradentes. O tema mais abordado do dia foi a literatura infanto-juvenil. Um público que às vezes pode ser difícil de ser alcançado hoje em dia pelos textos literários, se comparados com o alcance de plataformas como o YouTube. Porém o que foi visto durante o dia foi muita participação e envolvimento das pessoas que estavam presentes.

Na parte da tarde o professor José Antônio Resende, escritor e professor do curso de Letras da UFSJ, ministrou uma roda de conversa no Centro Cultural Solar da Baronesa. Todos que lá estavam participaram ativamente, dando suas opiniões e contando suas experiências pessoais e profissionais com a Literatura. “A literatura não se prende, qualquer coisa pode ser objeto de um poema, devemos ler todos os dias, a literatura não pode se prender a um determinado tema ou determinada idade, ela simplesmente acontece”, afirmou o professor. Ele também destacou a importância das interpretações que os textos literários nos proporciona e uma curiosidade sobre a leitura destes:

“A leitura de um texto literário começa a partir do momento que você termina de ler. A partir desse momento que o texto libera o leitor para fazer as interpretações próprias, o que foi lido fica ricocheteando dentro de você.”

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Foto/VAN: Victória Souza

No início da noite, outra roda de conversa que teve início foi com a escritora, jornalista, e artista plástica, Marina Colasanti. Autora consagrada nacionalmente, já recebeu vários prêmios de literatura, e durante o Felit teve espaço para falar sobre sua carreira, e conversar com seus leitores. “Nas feiras do Brasil, o que menos há é literatura, ou seja, há muitos livros, mas pouca literatura. livro e literatura são entidades diferentes (…) eu fui publicitária por 8 anos, é o único produto da humanidade inteira que não devolve o dinheiro aplicado em publicidade. Então, o que acontece é que os jovens não ouvem falar de livros, não veem imagens de livros, não veem o livro publicado, a não ser nas feiras. Então as feiras são vitais, a única maneira deles acharem que esse produto, o livro, tem valor’’, discursou. Na entrevista, Marina contou um pouco da sua história e como ela como mulher era vista pelos outros autores homens. “Tem sempre um olhar de desprezo para cima da gente. Até hoje, volta e meia, você se sente considerada cidadã de segunda classe’’, relatou e ainda contou uma história curiosa:

— “A Lygia Fagundes, você vê que todas as fotos dela, ela está muito séria, em geral com os óculos na mão. Porque um dia a Clarice disse a ela, quando eram iniciantes, ‘Lygia, não ria nas fotos, se não vão pensar que não somos sérias’.”

Ao ser perguntada sobre a nova de geração de escritores brasileiros Marina afirmou que o Brasil nunca foi um país leitor, o que havia era uma determinada classe social que determinava a leitura como parte da sua boa educação. “O mercado precisa de autores nacionais, até porque num momento difícil economicamente, os direitos dos autores estrangeiros são muito altos, então os editores precisam  fazer o seu catálogo com  bastante autor nacional que, eventualmente, nem cobram adiantamento. Portanto, tem mais espaço.’’, expôs. Segundo ela, a economia do país também contribui para a desvalorização do trabalho literário. Para que as pessoas tenham interesse em comprar obras literárias elas precisam perceber algum valor no livro, e esse tipo de produto no Brasil não é visto como um bem cultural ou econômico. “Não existe mais crítica literária nos jornais, isso é bom e é ruim. ela podia fazer ou detonar o escritor, mas agora não existe mais esse risco, a quantidade de livros vendidos que conta”, acrescentou Marina a respeito da inexistência de críticos nacionais.

No festival também estão sendo lançados livros nacionais e ontem aconteceu o lançamento de mais alguns: A voz dourada das cidades, do escritor Aguinaldo Tadeu; Andante Moderato – Aquarela Asiática, da autora Fernanda Pitela; Olhar de Bicicleta, do escritor Rafael Senra; e o livro Palavras ao Vento, do poeta Washington Batista. São livros de temas variados, e que com esse tipo de evento conseguem aproximar o leitor ao autor. Para encerrar a noite atrações musicais divertiram o público.

 

Texto/VAN: Bárbara Morais e Lucas Teixeira

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