Muitas são as reclamações sobre o transporte público no Brasil. Nos últimos dias, a Jornada Mundial da Juventude movimentou cerca de três milhões de pessoas no Rio de Janeiro. A cidade vivenciou transtornos que atingiram não só os peregrinos, como a população local. O prefeito do Rio, Eduardo Paes, admitiu na última sexta-feira (26), que ocorreram falhas na organização da JMJ.

Com o trânsito interrompido, as ruas de Copacabana sofreram com o fluxo de gente. Milhares de peregrinos que seguiam em direção aos pontos de ônibus e estações de metrô encontravam um engarrafamento quilométrico de pessoas. Grupos tentavam se organizar sozinhos e a paciência era a única aliada nessa verdadeira jornada de volta para casa.  

O metrô decretou que não haveria a pré-venda de passagens e que quatro estações estariam fechadas durante a JMJ. Uma pane geral afetou por duas horas o funcionamento do transporte na terça-feira (23), onde estações inteiras ficaram sem energia. Na manhã de quarta-feira (24), outra pane parou uma composição na Estação Central que, por quatro minutos, também denotou a fragilidade do serviço.

Eduardo Paes inferiu que o evento tomou uma dimensão inesperada. “Trouxe muito mais gente do que nós imaginávamos. É a maior aglomeração e a mais longa que o Rio de Janeiro já recebeu. Esperamos uma quantidade bem maior, especialmente maior que o réveillon, que é o nosso maior evento”. E continuou: “Nós perdemos as primeiras batalhas, mas vamos ganhar a guerra. Não são muitas cidades do mundo que tem condições de receber tantos peregrinos com a alegria que os cariocas vêm recebendo”, declarou.

O prefeito que já havia dito em entrevista coletiva que o evento estava mais próximo de uma nota zero do que de dez, disse que quando não é perfeito, fica mais perto de zero do que de dez, e falou dessa obrigação da busca do ideal. “Esse é meu papel, eu trabalho para perfeição”, frisou. Paes denominou essa Jornada como uma “invasão do bem”, dizendo que tomou o coração de todos os fluminenses através do simbolismo dos seus gestos. “A força dessa juventude, o carisma do papa e a mobilização que ele tem gerado é motivo de orgulho para todos nós, independente da crença de cada um”, disse. 

Questionado sobre a situação do transporte, o prefeito justificou: “Nós estamos vivendo um réveillon por dia. Estamos falando de mais de 1 milhão, 1 milhão e meio de pessoas por evento. Não é fácil receber 3 milhões de pessoas e não será simples a saída dessas pessoas de Copacabana”, considerou. O bairro de Copacabana foi totalmente fechado com 24 pontos de bloqueio, conforme é feito no réveillon.

Já a opinião dos espectadores sobre o evento se dividiu. Edgar Mateus, de Marabá (PA), disse ser um espetáculo como nunca se viu. “Estou sem palavras para descrever, o foco é o Papa. No entanto, tem que ter mais ônibus, mais informantes e voluntários. Falta informação”. 

Por outro lado, na grade, à espera da passagem do Papa, Evandro, de Campina Grande (PB) disse ser um evento sem estrutura. “Eu não conhecia o Rio e estou achando o trânsito horrível. Andamos à pé por mais de uma hora para sair de Copacabana e demora muito para se conseguir pegar um ônibus”, queixou. 

De acordo com a argentina de Mar del Plata, Francisca, o transporte público do Brasil é muito organizado para o número de pessoas presentes. “Há sempre a disponibilidade de ônibus e metrô. Não tivemos problemas. Creio que a Argentina está bem mais atrasada nesse quesito”, declarou a jovem, que também se disse impressionada com a rapidez dos serviços. “A limpeza também foi muito rápida. São muitas pessoas trabalhando. O evento mal acabou e já tem pessoas limpando e organizando tudo. Fizeram de tudo para facilitar a vida dos peregrinos”. Para o Pe. Gilson Rodrigues, da Paróquia N. Sra. De Lourdes – Lousiana, “A ‘muvuca’ faz parte”.

Segundo o Capitão Daniel Araújo, da força nacional, responsável pela segurança do evento, o número de ocorrências não foi expressivo, “O público da Jornada é jovem e muito tranquilo”, disse. O Rio de Janeiro que, em uma noite de réveillon, recolhe cerca de 300 toneladas de lixo, recolheu, em três dias de JMJ, aproximadamente 40 toneladas. Assim como Eduardo Paes frisou, os cariocas vivenciaram uma invasão do bem. “O rio não será o mesmo após a passagem do papa. Sua mensagem é muito mais forte que a mensagem religiosa”, afirma. 

VAN/ Maria Clara Lauar
Foto: Bruno Marques

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