O futebol tem uma dimensão que eu ainda
não compreendi direito. Muito dinheiro, muita preocupação, muitas transações
vergonhosas por baixo dos panos. Tudo isso já seria suficiente para eu criar
uma implicância gigantesca com o esporte que, neste país, parece ser o centro
do mundo. Algo que eu sinto em relação à política também, mas ela é necessária.
O futebol, acredito que não.
Mas sempre tem um ponto de contradição.
Ninguém vive só de coisas sérias. Todo mundo escolhe seu lugar de descanso, de
alívio! Entretanto, o futebol coleciona umas histórias que justificam toda a
parafernália criada em volta dele: servir de contexto para contos
inacreditáveis, como esse que ouvi de um amigo.
“Meu pai torcia pelo América e, como o
time já não sabia o que era primeira divisão há muito tempo, as conversas de
futebol, para ele, eram como passar horas falando sobre a beleza de um lugar
que ele mesmo nunca tinha visitado.
Apesar disso, como todo mundo, de futebol ele
gostava, principalmente quando era dia de jogo do Flamengo.
Isso porque a sede da torcida organizada
do Flamengo lá do bairro ganhava ingressos do clube e trocava por quilos de
alimentos que seriam repassados para instituições de caridade. As filas eram
gigantescas, mas papai sempre conseguia pegar um ingresso.
Quando acabava tudo e a torcida já ia
desfazendo a fila, papai corria e encontrava o último e oferecia o ingresso que
tinha conseguido por dois quilos de alimentos. Dois quilos e não aceitava mais
que isso;  achava desonesto.
Depois me lembro de ele voltar para  casa todo feliz, dizendo:

‘Hoje tive 100% de
lucro’.
Mas até hoje acredito que o homem do fim
da fila saía muito mais contente”.

 

Texto: Camilla Silva
Foto: Liga Municipal de Desportos

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