por Mariane Fonseca*

Hamlet

“Quem exatamente entrevistar? O que perguntar à fonte? Posso colocá-la
contra a parede? E se eu esquecer de questionar algo? Como começar o meu texto?
Qual vocabulário usar? E se a editora não gostar do que escrevi? E se um erro
grotesco passar batido na minha revisão?

Mas opa… peraí. E se eu me formar, não conseguir emprego e sequer ter a
chance de me fazer todas as perguntas do primeiro parágrafo?”.

Se Hamlet fosse um jornalista, não reduziria suas questões existenciais ao “ser
ou não ser”. Até porque, convenhamos, seriam ossos do ofício esmiuçar, sem
extrapolar limites, todos os detalhes do grande furo que é “existir”.

E ok, possivelmente, ao invés de um crânio, a personagem de Hamlet teria em uma
das mãos um gravador. Por que escrevo isso? Porque ao encontrar pela primeira
vez com os alunos da oficina de Práticas Jornalísticas, no CTan, me deparei com
várias versões pós-modernas, juvenis e assustadoramente reais de Hamlets que
traduziam nos olhos uma série de dúvidas latentes e perturbadoras que caberia a
mim responder. Aliás, que caberia a mim TENTAR responder.

Foo Fighters (porque sim!)

E não houve dúvidas sobre essa não-obrigatoriedade no exato momento em
que eles também bateram o olho em mim. O que esperar de uma manceba calçando
All Star e vestindo camiseta do Foo Fighters, com tantas espinhas quanto eles
brotando do rosto?

Não muito. Estava aí a magia da coisa. Jornalismo não é atividade prescrita em
uma Tábua das Leis entregue a algum profeta da comunicação. Por outro lado,
passa longe de ser tarefa simples aprendida com tutoriais do Youtube.

Jornalismo

Jornalismo é teoria, visão social, ética, paciência, insistência,
vontade, talento, cabeça aberta, frustração, menos liberdade do que se pensa e
mais – muito mais – responsabilidade do que se aparenta. É uma caixa de Pandora
que, acredite, jamais deveria ter sido fechada. Porque apurar a realidade,
confrontar visões, recortar informações e empacotá-las em papel jornal, áudio
radiofônico, vídeo ou bytes é brigar todo santo dia com monstros mitológicos e
não ganhar aplausos de Zeus por isso.

Porque Jornalismo também é escolha. E coragem. Não uma coragem heroica. Mas
aquela que te move dia após dia, pauta após pauta, fonte após fonte, lead após
lead depois de uma maratona acadêmica que inclui uma oficina extra ministrada
por alguém exatamente como você.

Sim, sou tão pseudo-Hamlet quanto cada um dos frequentadores dos quase 10
encontros que extrapolaram os temas previstos no cronograma. E só por aí já
foram uma grande metáfora a essa área da comunicação: Jornalismo é imprevisível
– e não se esgota.

Focas

Em ano de Copa do Mundo, eleições, reviravoltas políticas, acidentes
aéreos e Ebola não faltaram novas discussões, novas questões a serem debatidas
– sim, debatidas. Não solucionadas.

A prática? A prática ficou por conta de tentar levar ao público aquilo que
grandes capas de grandes veículos procurados por grande número de indivíduos
não haviam estampado. A prática se deu entrevistando, desvendando,
transcrevendo e criando sobre pautas protagonizadas por você e eu, que já
deixei a universidade há algum tempo. Mas sigo aprendendo, perdendo o sono,
enlouquecendo e tendo medo.

Só não digo que continuo me sentido uma “foca” chegando ao mercado. Ninguém é.
Todos nós que decidimos ser predadores de palavras e manter viva essa cadeia
alimentar de informações somos feras e – das grandes! – mesmo que às vezes
forçadamente domesticadas.

* Mariane Fonseca é Comunicadora Social graduada pela PUC Minas em
Arcos e mestre em Letras – Discurso e Representação Social pela UFSJ. Repórter
da Gazeta de São João del Rei, redatora na agência Mapa de Minas e freelancer
da Rock Content. Porque sim e porque jornalista abraça o mundo mesmo até parar
num consultório homeopata sofrendo com estafa.

** #EVU – O Especial Vida Universitária é resultado de uma oficina de texto dada pela jornalista Mariane Fonseca para integrantes da Vertentes Agência de notícias e sairá às segundas-feiras até 23/02/2015.

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