Durante o período da pandemia, crianças e adolescentes de todo o país têm passado por grandes dificuldades na área da educação, especialmente, por falta de acesso à internet ou estrutura e apoio para conduzir seus estudos em casa. As consequências dessa situação são inúmeras, como infrequência, distorção de idade e série e, até mesmo, evasão escolar.

De acordo com dados divulgados pela pesquisa “Enfrentamento da Cultura do Fracasso Escolar” da Unicef (Fundo de Emergência Internacional das Nações Unidas para Infância), 3,8% (1,38 milhão) de estudantes abandonaram os estudos. Fora isso, foram 11,2% (4,12 milhões) de estudantes que, apesar de matriculados, não receberam atividades escolares no período de atividades remotas.

Raquel Maria de Sousa, professora da Escola Municipal Monsenhor Assis de Prados, Minas Gerais, afirmou que, em sua escola, não houve casos de evasão escolar, porém, ocorreram alguns casos de infrequência, quando os alunos não enviam suas atividades. No entanto, a entrevistada ressalta que os alunos e a família estão muito próximos da escola. Desse modo, esse fator combinado com a dedicação dos professores fez com que os alunos não saíssem da escola. O mesmo aconteceu com Daniela Lara Ribeiro, professora de filosofia no ensino médio da Escola Estadual Adílio José Borges, em Conceição da Barra de Minas, também em Minas Gerais. De acordo com a docente, todas as vezes que um aluno apresentou infrequência,

os professores se dividiram para ir até a casa deste, com vistas a conversar sobre a importância da educação: “Com esse acolhimento pessoal, mostrando que nos importamos com ele, ganhamos esse aluno novamente, e essa intenção que ele tinha de evadir não é concluída”, reforça.

Quando questionada sobre os prejuízos que crianças e adolescentes podem ter com seus estudos interrompidos por quase dois anos, Daniela destacou que a baixa estima pode ser um problema: “Porque eles provavelmente vão voltar ano que vem para as escolas, e eles não vão mais estar com a turma deles e vão ser mais velhos que a turma deles, vindo a poder ocorrer outros problemas, como bullying”. Ela ainda reforça que “Se eles desistem agora, não vão ter uma perspectiva de vida, não vão querer fazer uma faculdade ou um curso profissionalizante, o que gera várias outras consequências, como a falta de emprego e a baixa remuneração”.

Já a professora Raquel, que leciona para alunos do 4° e 5° ano, reflete a respeito dos prejuízos para o desenvolvimento motor e intelectual do aluno, que, por vezes, no contexto de ensino remoto, não conta com nenhum apoio ou estrutura física para a execução das tarefas:”São prejuízos gigantescos, se o aluno não fez nada em casa, não pegou um livro pra ler, não pegou um lápis pra escrever, não fez uma continha ou não desenvolveu, nos casos do ensino infantil, a coordenação grossa e fina”. Outro fator que preocupa a professora está relacionado com a socialização dessas crianças e adolescentes: “Sabemos que a escola não trabalha somente a parte cognitiva de uma criança, ela trabalha também a parte social. Quando você pensa em uma escola, você concorda que a criança vai lá para aprender, mas ela também frequenta esse espaço para aprender a se socializar.”

Ao finalizar a entrevista, Raquel destacou alguns pontos positivos que a pandemia acarretou para a profissão de educador: “A pandemia foi um divisor de águas na educação, porque muitos pais que antes não acreditavam no poder da escola, da educação, na dificuldade dos professores, hoje com as crianças em casa os pais conseguem ver a dificuldade de ensiná-las. Nós estudamos anos e anos, fizemos especializações pra saber o melhor jeito de criança aprender. Então agora os pais estão dando mais valor à profissão.”

Texto: Louise Zin

Revisão: Samantha Souza

Imagem: Nuno Alberto de Unsplash

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