Caroline sempre soube quem era. Sempre soube de sua identidade.

ARTE/VAN: Laila Zin
ARTE/VAN: Laila Zin

Caroline Andrade, 21 anos, nascida em Teófilo Otoni, transexual. Não se resume a ser o que se espera de você, mas a ser quem realmente é. Caroline via-se tratada como homem, via-se forçada a ser um, mas não era. Caroline não é. Quando criança, sempre foi sonhadora, vivia envolta em livros, fantasias e contos. Mesmo que tímida, havia sempre espontaneidade e humor em seus traços, características com as quais tentava contornar a insegurança. A dúvida, porém, era fator constante.

Durante sua infância, vivia no limiar, pois tinha certeza que um dia tudo aquilo teria de ser deixado para trás. Um medo do desconhecido. Durante esse tempo, Caroline sentia-se inquieta, um tanto pela transexualidade, outro por questões relacionadas ao desconforto de se viver no interior de Minas Gerais, em uma casa com uma família essencialmente evangélica. Até mesmo adolescentes e crianças de sua cidade natal faziam piadas e apontavam quando ela andava pela rua.  

O processo de aceitação por parte de sua família foi complicado e, até hoje, há problemas. Os pais ameaçaram expulsá-la de casa no início, as discussões e brigas eram frequentes. Após uma série de eventos transfóbicos, Caroline resolveu expô-los nas redes sociais e, nesse momento, as coisas pioraram. Seus pais a impediram de usar o computador novamente, meio com o qual ela trabalhava e, então, mandaram-na embora.

Após esses acontecimentos, Caroline morou três meses em uma república de estudantes universitários. Atualmente, reside em Belo Horizonte, na Casa Coletiva Fora Do Eixo, onde trabalha com produção jornalística e também desenvolve tudo relacionado a sua carreira artística, como shows, agenciamento e produção.

Caroline sempre soube quem era. Sempre soube de sua identidade. Não houve, portanto, momento de descoberta acerca de sua personalidade, mas sim daquilo que não lhe pertencia, houve a descoberta de se estar vivendo uma vida que não era sua. Alguns de seus amigos ainda não a consideram “feminina o suficiente”, alguns acreditam que é “uma fase que vai passar” ou ainda que é “coisa de sua cabeça”. Mas ela tem certeza sobre quem é.

Caroline lida com o preconceito diariamente; tarefas simples, como ir à padaria, despertam medo. Já foi perseguida, ameaçada e humilhada em público. O respeito ao próximo parece ter sido substituído pelo ódio gratuito. A insegurança toma conta de seus dias, o temor de ser agredida por um homem, até mesmo por aqueles com os quais se relacionou, a assombra constantemente quando passa pelas ruas.

Ainda assim, Caroline resiste. Faz apresentações em eventos com os quais se identifica. Caroline luta. E, por onde passa, traz a mensagem de aceitação e respeito, traz também toda uma aura de surrealidade com a qual está sempre envolta e que é responsável por prender a atenção de todos quando fala. Caroline não está sozinha, há um pouco dela em cada um de nós. Há um pouco de medo e há muita resistência.
Texto/VAN: Ana Carolina Rodrigues

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