O evento religioso que acontece na Paróquia de Nossa Senhora do Pilar, em São João del-Rei, arrasta inúmeros fiéis para as celebrações

“A festa de Nossa Senhora da Boa Morte, e principalmente o toque dos sinos, enchem a cidade neste momento (…). Para mim, como sineiro, é um dos repiques mais lindos. É um toque que eleva espiritualmente quem o executa”, declara Nilson José dos Santos, sineiro que participa da execução do toque de celebração da festa de Solenidade do Trânsito e Assunção de Nossa Senhora. O evento vai se realizar de 13 a 15 de agosto, organizado pela Confraria de Nossa Senhora da Boa Morte. Trata-se de uma das mais tradicionais festas religiosas da cidade, sendo precedida pela Novena Solene de Nossa Senhora da Boa Morte que se iniciou no dia 5 do mês, encerrando-se no dia 13, ocasião em que a mãe de Deus é velada ao final da celebração deste último dia da novena.

Durante o velamento, é executada pela primeira vez o repique de sinos “Senhora é morta”. O toque é considerado, junto a outros, Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil e só é tocado nesta festividade. Descrito pelos são-joanenses como belo e triste, o toque dos sinos é exclusivo da festa e também da cidade, pois foi criado em São João del-Rei. Conta a tradição que foi composto por um escravo chamado Francisco, de propriedade de D. Ana Romeira do Sacramento, que “alugava” os seus serviços de sineiro para a Matriz de Nossa Senhora do Pilar. Passado de sineiro a sineiro, esse toque embeleza a solenidade até os dias de hoje.
Nilson dos Santos explica que o “Senhora é morta” é tocado, dia 13 após o exercício da novena e às 12:15, 15:00 e 18:00 horas no dia 14, ocasião do Trânsito de Nossa Senhora. Nesta data, a imagem da Senhora Morta fica exposta na Catedral do Pilar durante todo o dia para visitação. Já no dia 15, os sinos repicam festivamente devido à Assunção de Nossa Senhora.

O pároco Pe. Geraldo Magela conta que a importância da festa vai além da religiosidade, a beleza da música e a história da comemoração também são elementos centrais. Segundo o sacerdote, várias composições musicais foram feitas para a celebração. Além disso, ele ressalta a presença negra na cultura religiosa da cidade por meio dessa festa. “A novena ficava, e até hoje fica, a cargo da Orquestra Lira Sanjoanense, que era formada por negros. Essa festa ficou conhecida como a “Semana Santa dos Mulatos” durante muito tempo, pois a Ribeiro Bastos, que era a orquestra dos brancos, fazia a Semana Santa, enquanto a Lira Sanjoanense, que era formada pelos negros, fazia a festa da Boa Morte.” Em relação a expectativa de público, devido a festividade ocorrer em paralelo a Expô Del-Rei, o padre diz que não há interferência no evento religioso. “Isso é algo próximo do barroco; as pessoas sabem conciliar as duas coisas: o sagrado e o profano. Eles vêm cá e depois correm pra exposição.”, comenta.

Texto: VAN/Jederson Lucas e Sarah Rodrigues
Foto: Eder Campos

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