Campanha garante casinhas de papelão para animais de rua e gera discussão com poderes públicos sobre legalidade das ações

Casinhas são colocadas sobre o gramado da Praça Dr. Augusto Silva. FOTO: Aline Vasconcelos
Casinhas são colocadas sobre o gramado da Praça Dr. Augusto Silva. FOTO: Aline Vasconcelos

Há pouco mais de uma semana, uma ação vem tomando espaço nas rodas de conversa da população Lavrense. Trata-se da campanha Cão Quentinho, que está mobilizando pessoas de Lavras e região para construir e distribuir pelos bairros da cidade casinhas de papelão, com potes de água e comida. O intuito é não deixar os cães abandonados passarem fome e frio, já que a temperatura tem chegado a cinco graus durante a madrugada.  

 

Visibilidade política

A campanha ganhou visibilidade política quando voluntários foram impedidos de colocar as casinhas na praça Dr. Augusto Silva por uma funcionária da prefeitura.”Ela [a funcionária] não se identificou de primeira e nos abordou de forma muito grosseira, dizendo que, de maneira alguma, poderíamos colocar aquela casinha ali. Para isso, precisaríamos da sua autorização, o que não nos daria. Mas era no gramado, não estaríamos destruindo ou depredando nada!”, afirma Aline Vasconcelos, uma das voluntárias.  

Com o apoio de alguns vereadores, o assunto foi pauta da reunião de segunda-feira (20) na Câmara Municipal de Lavras. “A atitude da funcionária não foi boa. Por isso, tivemos que problematizar o assunto, que é muito importante e está sendo deixado de lado por esta gestão [da prefeitura]. De qualquer forma, nós questionaremos sempre que necessário”, afirma o vereador Anderson Garçom (PV).

 

Responsabilidade pública

Voluntários levaram uma das casinhas para reunião na câmara. FOTO/VAN: Talita Tonso
Voluntários levaram uma das casinhas para reunião na câmara. FOTO/VAN: Talita Tonso

Durante a sessão da câmara, a assessoria de comunicação da prefeitura de Lavras publicou uma nota afirmando que tudo não se passava de um mal-entendido, que a gestão apoia a causa animal e está à disposição para quaisquer dúvidas e esclarecimentos. “Comprometemo-nos, dentro da possibilidade financeira e burocrática, a doar casinhas de papelão, que serão distribuídas por toda cidade e, se possível, também na praça central, com o consentimento do Conselho Municipal de Patrimônio Histórico (CMPH)” esclarece a nota.  

De acordo com o documento, os voluntários que pretendem realizar alguma ação na praça Dr. Augusto Silva ou em seus arredores devem avisar previamente o CMPH “a título de conhecimento e autorização”. Um dos voluntários do Parque Francisco de Assis – organização não governamental que realiza trabalho com mais de 400 cães abandonados em Lavras-, o advogado e professor Romeo Scommegna, afirma que colocar caixas de papelão no gramado da praça, seja ela tombada ou não, não é nenhuma ilegalidade. “É uma ação perfeitamente legal, mais do que isso, é uma vantagem para eles [prefeitura], pois é a iniciativa privada cumprindo o papel do Estado, que deveria tomar conta desses cães em canis municipais”, completa.  

Mais da metade dos vereadores municipais apoiam a atitude e se dispuseram a discutir  novamente a questão caso algo dê errado.

 

Ações possíveis

Cãozinho se beneficia da comida e água deixada por voluntários. FOTO: Adriana Bispo
Cãozinho se beneficia da comida e água deixada por voluntários. FOTO: Adriana Bispo

 

Os voluntários que quiserem colocar as casinhas na praça deverão preencher um formulário junto à seção de Patrimônio, na Casa da Cultura, e aguardar a autorização.  Em locais como calçadas e bairros mais afastados, as casinhas podem ser distribuídas sem autorização prévia. “O problema é que a maioria dos cachorros abandonados ficam no meio da praça, onde já tem um pote de água há muitos anos. Não queremos forçá-los a atravessar a rua”, explica Aline.    

De acordo com a voluntária, algumas casinhas estão sendo furtadas. Ela pede para que os pais fiquem atentos. “Se seu filho aparecer com uma casinha, devolva, pois o dinheiro está saindo do nosso bolso, e os cãezinhos precisam de ajuda”, reitera.  

 

TEXTO/VAN: Talita Tonso

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