Virada de 9 para 10 de abril marca o fim do Ramadan: descubra como sanjoanenses celebram a tradição
Por Júlia Resende e Oswaldo C. Almeida
Encerra-se, durante a noite do dia 9 e madrugada do dia 10 de abril, o Ramadan, nono mês do calendário islâmico, considerado sagrado para os muçulmanos. Durante esse período, fiéis praticam o jejum entre o amanhecer e o pôr-do-sol. Ao fim do Ramadan, há uma celebração chamada de Eidalfotr, na qual ocorre o desjejum.
Em São João del-Rei, a tradição do Ramadan é honrada por representantes da cultura, que têm o costume de comparecer à mesquita de Juiz de Fora, uma das mais próximas da cidade, para orar.
Segundo o livro “Sírios e Libanes em São João del-Rei: vidas e histórias”, organizada por Angela Maria Gattás Hallak, o jejum do Ramadan consiste na abstenção de relações sexuais, de fofocas e vícios, como cigarro, além de não ingerir alimentos e bebidas. Nesse tempo, os islâmicos devem realizar suas atividades cotidianas e prezar pela generosidade e pela caridade, praticando o bem com palavras e ações. O mês não tem uma data fixa e acontece de acordo com o calendário lunar.
Dona da loja de roupa “Tenda Moda Indiana”, localizada no Centro de São João del-Rei, Luziê, nomeada com sobrenome Assia após sua conversão ao islamismo em seu casamento com um árabe, manteve, por muitos anos, a tradição de celebrar o Ramadan.
Ela relata um pouco para a VAN sobre sua crença e explicou a origem de seu sobrenome: “Assia era uma das esposas do profeta. Ele tinha muitas, mas a mais velha era Assia, por isso meu nome é Luziê Assia. A religião a gente faz desse jeito, e passei por muita coisa para me converter ao islã. Fui casada com um árabe. Assia, aquela que não era muçulmana, que lutou e se converteu. Eu fui uma pessoa convertida, não nasci árabe”.
Para ela, o Islã não impõe nada, pelo direito de ir e vir e o livre arbítrio: “Ninguém te obriga a nada, você que entra de dentro para fora. Então assisti ele (marido) convivendo e me converti”. Dessa forma, mesmo após o falecimento de seu esposo, ela continuou sua crença.
Luziê conta que quando se mudou para São João del-Rei foi muito bem recebida, há cerca de 11 anos. Antes de se mudar, ela havia passado pela cidade várias vezes. Para ela, foi uma das cidades mais acolhedoras que passou e, por isso, escolheu abrir sua loja aqui. “Eu fiquei aqui de véu por 19 anos, vinha para cá fazer feiras e adorava. Nunca sofri preconceito pela minha religião aqui”.
Sobre o Ramadan, Luziê fala sobre sua experiência com a festividade que praticou durante 27 anos. Ela explica que o Ramadan foi o mês que o profeta recebeu a mensagem, o Corão, e que o período termina quando não é possível observar a lua no céu em Meca, na Arábia Saudita.
“Quando fazemos com fé, não temos a ideia de sacrifício, então você se preenche com aquele momento. Então, quando chega a hora do jantar, você quer comer tudo, mas na hora não conseguimos comer tudo, o estômago fecha. Todo dia é um banquete. O Ramadan é a dor do outro, a última palavra do Senhor na terra. Veio para purificar o corpo. Durante esse mês, você acorda antes das cinco da manhã, antes do sol nascer, horário que você vai fazer sua última refeição, depois você não consome mais nada. Nem água, bebida, comida, sexo… abstinência total, nem palavras que ferem o outro. Ao fim, você pode jantar, oferecendo seu jejum a Deus”, afirmou Luziê.
Ela já compareceu à mesquita localizada em Juiz de Fora, e fala que na última noite do Ramadan, é realizado o último jantar e na manhã seguinte, um grande café da manhã, em clima de confraternização. Ainda segundo Luziê, após o término do Ramadan, são contados 40 dias para a próxima data celebrada, que é o Sacrifício do Carneiro.
Hoje, a comerciante não acompanha o mundo islâmico. Ela conta que fechou um ciclo e iniciou outro, mas com as bagagens da vida anterior. “Nesse período todo, analisei, junto com estudiosos, teólogos, filósofos e com o próprio Sheik de Juiz de Fora, Hosni Youssef, até chegar à conclusão de que não precisamos nos prender a nada, precisamos ser livres, se transformar. Hoje estamos transformados nisso, mas amanhã quem sabe?”