A vida nas cidades do interior é marcada
pela tradicionalidade do estilo de vida bucólica. A vivência de costumes marca
uma moral social e moradores demonstram a sua satisfação ao viverem com
simplicidade, como no passado, quando não se precisava de muito para ser feliz.
Bastava haver o necessário para viver, um trabalho para se manter, amor para se
ter e uma família para se conter.

Para uma comunidade, essa vivência é sagrada e não pode ser profanada.
Tradições são uma continuidade de algo em que se acredita, se espera, se
realiza. Não há “atraso” na vida simples de moradores do interior, e sim há
algo que vale a pena viver… Família, porto seguro; Igreja, lugar de orações e
de fé; Escola, lugar de aprender.

Na singela vida interiorana, as pessoas têm fé e rezam, respeitam o que é
sagrado, tomam a bênção do padre, dos pais, dos tios, dos padrinhos.
Professores são líderes e singulares por ensinarem para a vida. Todas as
pessoas da comunidade, até o último momento de suas vidas, são especiais. Todas
têm uma história pelo o que fizeram, ou pelo o que não fizeram devido a suas
limitações, mas que se tornaram igualmente singulares.

Certa vez, na histórica São João del-Rei,
observava uma urna que vinha carregada por homens num cortejo fúnebre, que
dividia a metade da rua com carros cujos motoristas  nem pensavam em parar e respeitar aquela
família enlutada, que chorava o seu ente querido. Nem nesse momento se
respeitava a dor de uma pessoa que partira, fosse essa rica, pobre, de família,
indigente. O comércio se mantinha com suas portas abertas e as vendas de vento
em popa… Carros com um som estrondoso de propagandas que ninguém já nem
presta atenção, de tanto repetir. Tudo muito oposto do interior, que se
solidariza com a família, silenciando lojas, baixando portas, possibilitando
que esse momento de recolhimento traga para a família uma paz, pelo menos nesse
momento de dor.


A tecnologia e a libertinagem que a vida às vezes oferece, e o forte apelo que
a mídia faz em todos os sentidos nos dias de hoje, desfocam o que havia de
ingênuo e puro na vida utópica do interior. Essa mudança traz algum ganho para
a sociedade atual? Pensamos que não! O corre-corre em demasiado ainda é grande!
Todos estão atrasados e sempre afoitos, ansiosos por preencher as lacunas
daquela sensação de “dever não cumprido” e pela preocupação sobre o que será
feito no dia seguinte. Pobres de nós! Escravos do tempo e da obrigação! Onde
fica o amor e a familiaridade, o estar junto com o outro? Seria “careta” viver
o sabor do interior que – tão simples! – não requer muita coisa para se ser
feliz?
VAN/Marcus Santiago
Foto: Fernanda Rezende

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