Vida jogada no lixo
Os impactos do descarte de lixo em São João del-Rei
por Geovana Nunes e Helena Serpa
Revisado por: Samantha Souza
Lixo a céu aberto. Porcos revirando sacolas. Esse é o cenário com o qual os moradores da cidade de São João del-Rei convivem. O descarte incorreto de resíduos urbanos é um desafio ambiental, pois a poluição ocasionada pelos detritos contaminam os lençóis freáticos, atrai animais peçonhentos e diminui a qualidade de vida dos habitantes daquela região.
Por ser um município que vive essencialmente do turismo, o fato do lixo se espalhar por vários pontos da cidade, é um empecilho econômico. Os cartões postais são-joanenses são manchados por sacolas, garrafas plásticas e resíduos orgânicos. O que provoca mau cheiro, cria focos para a proliferação de doenças, como a Dengue, e afasta os turistas, devido a imagem negativa que a sujeira causa.
Consequências ambientais
Em entrevista o Casa Verde, projeto de extensão do curso de Ciências Biológicas ofertado pela UFSJ (Universidade Federal de São João del-Rei), elucida questões acerca das consequências do descaso com o meio ambiente. O projeto surgiu em 2014 e é mantido pelos bolsistas do PIBEX (Programa de Bolsas de Extensão) e por voluntários.
A perda permanente de espécies que entraram em extinção, como por exemplo o maçarico-esquimó, é apontada pelo projeto como um cenário irreversível.
“No entanto, sem um grande esforço global [..] no sentido de reduzir o impacto de alguns problemas ambientais […], temo que estamos caminhando para um colapso ambiental [..] difícil [..] de reverter.” diz o projeto sobre a gravidade das ações humanas no meio ambiente.
Além disso, os eventos extremos do clima no planeta são apontados por Igor Piazzi, professor formado em Geografia pela UFJF, como consequência do uso incorreto de recursos naturais. Os recordes de baixas temperaturas no país fazem parte desse desequilíbrio ambiental.
“A gente está falando […] de eventos extremos do clima [..] enquanto [..] lá no Sul, onde a geada era comum estamos vendo nevar e no Canadá está fazendo quase cinquenta graus.” afirma Piazzi em entrevista.
De quem é a culpa?
Moradores do bairro Colônia do Marçal, o casal sexagenário Maria do Rosário Ambrósio e João Bosco Ambrósio, afirmam que mesmo com poucos dias de coleta de lixo, buscam separar seus resíduos domésticos e manter os arredores de seu domicílio limpos.
Ações como essas, são vistas como essenciais para a ONG São João del-Rei Lixo Zero, surgida em 2019, após o evento “Semana Lixo Zero”. As criadoras da organização Monique Silva e Thaís Barrêto notaram que a demanda da cidade por informações sobre o tema era grande e estabeleceram o projeto. Para ONG, cabe à população praticar na rotina hábitos sustentáveis para que a mudança aconteça e permaneça.
Além disso, a poluição em ambientes coletivos é alvo de críticas. “Os espaços públicos ficam muito poluídos deixando a desejar.”, afirma o casal Ambrósio. Esses seriam os chamados “pontos viciados em lixo”, denunciados nas redes sociais da cidade.
Segundo a ONG os pontos onde o lixo se acumula, precisam de ações diretas para que seja possível a extinção da problemática. Porém, o município enfrenta um grande entrave, pois o lixo é destinado a um lixão. A falta de um local adequado para o descarte de detritos não recicláveis é preocupante.
A respeito do porquê os moradores descartam seus resíduos incorretamente, a ONG diz que “a consciência sobre algo vem a partir da sensibilização. Por isso tentamos informar sobre as consequências do problema do lixo e mostrar alternativas para que seja solucionado.”
Mesmo com a atuação do Casa Verde voltada para conscientização ambiental dentro e fora do âmbito da UFSJ, os envolvidos no projeto reconhecem que não basta somente hábitos saudáveis da população: “Acredito que existe um contexto cultural [..] de uso excessivo [..] dos recursos naturais” para o projeto essa é uma das razões pelas quais, mesmo com acesso à informação, a população é displicente quanto à questão ambiental.
Mas, é necessário a existência de políticas públicas de preservação ambiental. O entrevistado do Casa Verde entende que “mudanças substanciais devem envolver as políticas públicas [..] que não deixe que as pessoas se sintam responsáveis por salvaguardar o meio ambiente sozinhas.”
“É fartamente documentado, por exemplo, que os maiores danos ambientais são causados por grandes empreendimentos, indústrias e pelo agronegócio”, diz o Casa Verde sobre qual seria a raiz do problema.
O trabalho a ser feito
A busca pelos culpados do problema é o principal foco da questão da poluição ambiental da cidade. Mas esse não é o caminho para a solução. Para a ONG o lixo nas ruas e a destinação incorreta de resíduos requer que a responsabilidade pela saída seja coletiva..
Iniciativas como o Casa Verde também são importantes na disseminação de informações e práticas necessárias para uma mudança de cenário ambiental. Mesmo com acontecimentos marcantes como o assassinato dos ambientalistas Dom Phillips e Bruno Pereira, o Casa Verde afirma que continua trabalhando “para que o futuro seja menos sofrido”.
O trabalho dos catadores precisa ser valorizado e a disseminação de informações sobre a questão deve ser feita. É preciso regulamentar o aterro sanitário e implementar a coleta seletiva. A população pode se envolver na temática buscando e cobrando respostas e ações da administração de São João del-Rei.
A entrega do lixo selecionado nos ecopontos é o primeiro passo da caminhada para uma cidade ecológica. No município, existem dois pontos de coleta: o ASCAS (Associação dos Catadores de Material Reciclável de São João del-Rei), com sede situada na Vila Santa Terezinha, e o Ecoponto Caieira próximo a Igreja de São Judas Tadeu. Assim, a conquista por uma sociedade limpa tem a responsabilidade compartilhada e um futuro garantido.